Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Macau - Tem potencial para se tornar centro para ensino do português na Ásia

Para celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong em colaboração com o Instituto Camões e o Instituto Português do Oriente ofereceram uma série de livros a quase 40 escolas. Ao Jornal Tribuna de Macau, o cônsul-geral, Paulo Cunha Alves defendeu que a RAEM tem potencial para desempenhar o papel de centro internacional asiático para o ensino de língua portuguesa


Quando se celebrou, pela segunda vez, o Dia Mundial da Língua Portuguesa, instituído pela UNESCO em Novembro de 2019, o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong em colaboração com o Instituto Camões e o Instituto Português do Oriente (IPOR) realizaram uma acção de entrega de cerca de 500 livros a um total de 39 escolas, das quais nove estiveram no Auditório do Dr. Stanley Ho para os receber.

O cônsul-geral de Portugal na RAEM, Paulo Cunha Alves, disse, em declarações ao Jornal Tribuna de Macau, que “Macau tem todas as potencialidades para ser, no futuro, uma plataforma para o ensino da língua portuguesa no Oriente – não só na China, mas no Oriente no seu todo”. Paulo Cunha Alves destacou a acção “louvável” do IPOR que chega à China Continental, mas também a locais como Vietname ou Austrália – uma acção de “multiplicação dos focos” de ensino do Português que é “importante continuar”.

“Mas, o papel que, no meu entender, Macau desempenhar no futuro é esse, de uma placa giratória, de um centro internacional asiático para a língua portuguesa. Tem as infra-estruturas, tem universidades boas, tem quadros, e é preciso continuar a formar quadros, docentes, neste caso, para que os meios à disposição aumentem e para que a procura eventual [pela língua] possa ser correspondida”, prosseguiu.

Sublinhando que é preciso contar com “vontade política” do Executivo da RAEM e dos Governo português e da República Popular da China (RPC) para que o desenvolvimento da língua portuguesa no território se continue a trilhar, Paulo Cunha Alves apontou que é também “preciso continuar a sensibilizar as pessoas para o interesse e valor da língua”.

“Não basta dizer que é preciso arranjar mais pessoas que falem e dominem o português, isso não chega. Tem de se dizer às pessoas porque é que é importante. Num mundo onde 265 milhões de pessoas falam língua portuguesa como língua mãe, onde essa língua é falada em cinco continentes e é a mais falada no hemisfério sul, obviamente que isso trará interesse aos mais jovens sobretudo aqui em Macau porque ouvem falar muito do Português”, acrescentou.

Embora muitos chineses não dominem ainda a língua de Camões, Paulo Cunha Alves frisou que “certamente terão interesse em conhecer”, sobretudo da mais-valia que pode ser em termos de negócios e investimentos. “As empresas de Macau precisam de ter gente que fale português que depois possam enviar para Angola, Moçambique, Brasil para fazer negócios”, defendeu.

Paulo Cunha Alves sublinhou ainda que é devido aos contributos dos Governos da RAEM, de Portugal e da RPC que em Macau se consegue fazer o que se faz: “continuar a preservar e desenvolver a língua portuguesa”.

“O número de estudantes tem aumentado, nota-se uma procura cada vez maior dos cursos de interpretação, por exemplo, chinês-português e português-chinês. Se isso é suficiente? Não, não é. É preciso fazer mais, é preciso continuar a desenvolver. É preciso sobretudo dar alento e bases ao desejo mostrado pela RPC de fazer de Macau uma plataforma de ligação entre o seu país, a China, e os países de língua portuguesa”, observou.

Paulo Cunha Alves frisou que o principal domínio é o papel que Macau tem como plataforma comercial, mas há outras vertentes, ligadas, por exemplo, ao turismo ou intercâmbios académicos.

Durante a sessão de entrega dos livros, o director do IPOR, Joaquim Coelho Ramos salientou que “como língua global e pluricêntrica, o Português é expressão de várias culturas e vários povos”, sendo utilizada nas relações internacionais, negócios, mas também na criação e nos estudos de milhões de pessoas.

“Nesta RAE, nota-se um investimento importante no ensino da língua de Lobo Antunes, de Pepetela, de Paulina Chiziane, Olinda Beja, Milton Hatoum, de Jorge Carlos Fonseca, de Odete Semedo ou Luís Cardoso de Noronha, mas também de Senna Fernandes, Carlos Morais José, Shee Va, Yao Ji Ming ou Cecília Jorge. Nesta diversidade, recordamos a partida recente de Onésimo Silveira, mas também o nascimento do dicionário de português de Moçambique, reforçando a riqueza desta língua que nos recebe e a dinâmica constante que ela promove. Língua de afectos, de pesares, de entusiasmo e de ciência, de memória e de futuro”, disse durante o seu discurso.

A entrega dos livros às escolas, disse, tem como objectivo contribuir para o desenvolvimento da leitura por parte dos alunos “cultivando o objecto único como é o livro”. “Em tempos de pandemia e de limitação de movimentos, ler é também um bilhete de embarque em viagens surpreendentes: novos mundos, novas gentes, novas paisagens que estão ao virar de cada página”, apontou.

Entre os livros que foram entregues às instituições de ensino encontram-se, por exemplo, “A menina do mar” e “A fada Oriana”, de Sophia de Mello Breyner, “A viagem do elefante”, uma adaptação para crianças da obra de José Saramago ou “Os olhos de Ana Marta”, de Alice Vieira. Catarina Pereira – Macau in Jornal Tribuna de Macau”


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