Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 23 de agosto de 2020

Cabo Verde - Ana Azevedo é uma das vozes escolhidas para assinalar o Dia Nacional da Morna

A cantora é uma das convidadas para actuar no Palácio da Cultura Ildo Lobo no Dia Nacional da Morna. Ana Azevedo irá interpretar mornas de B. Leza, Eugénio Tavares, Manuel d’Novas e de outros compositores cabo-verdianos, num concerto que será transmitido em directo para todo o mundo via live stream



“Foi um convite interessante tendo em conta que a Morna é Património Mundial da Humanidade e por ser coincidentemente o género que mais interpreto. Fiquei bastante lisonjeada, por ser uma das escolhidas para interpretar a nossa Morna”, começou por dizer a cantora ao Expresso das Ilhas.

Ana Azevedo irá participar com a sua banda no Palácio da Cultura Ildo Lobo, no dia 3 de Dezembro, data celebrada pela primeira vez em 2018, em homenagem a B.Léza e a todos os intérpretes e compositores cabo-verdianos da Morna. Obviamente que o patrono do Dia Nacional da Morna não podia faltar no repertório da cantora que se estende ainda a Eugénio Tavares, Manuel d’Novas e outros compositores cabo-verdianos.

A cantora mostrou-se orgulhosa por poder participar num dos maiores eventos de celebração deste género musical, mas foi-nos dizendo que o convite apanhou-a de surpresa.

“Não esperava o convite. Para mim tem sido tudo uma surpresa, nunca estou à espera de nada. De repente telefonam-me, perguntando se eu quero participar dum determinado evento. Foi agora um bocado assim”.

“É sempre um bom incentivo, mais uma ajuda para construir a minha carreira como intérprete e compositora”, comenta.

Quem for atrás das palavras de Ana Azevedo poderá pensar que todos os palcos que ela tem pisado e os projectos em que já participou são meros produtos do acaso que se resolvem com uma simples chamada telefónica. Certamente que o convite para dar um concerto no Centro Cultural Português da Praia nas comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas ou a sua participação como cantora no concerto do dia 13 de Janeiro, na Assembleia Nacional, obedecem a critérios bem mais rigorosos e exigentes.

De facto, embora sem CD gravado, Ana Azevedo não é nenhuma recém-chegada ao mundo da música. A sua trajetória musical começa já na infância em casa, com um pai que tocava vários instrumentos e mãe que cantava.

Primeiros passos

“No Liceu começo a cantar a capela com colegas e nasce o meu primeiro grupo musical, uma girlsband que se chamava “Wildgirls”, composto por Aleidita, Melinda, Sandra, Rossana e eu. Depois dissuadido o grupo, acabámos por ficar com um dueto Sandra e eu. Começamos a cantar, ela a primeira voz e eu a segunda, com muito gosto pois adorava fazer contracantos. Criamos um pequeno grupo composto por colegas do liceu que nos acompanhavam. Desse dueto nasceu uma participação no CD Verão 2000, no qual gravamos You’re still the one em versão Zouk (https://www.youtube.com/watch). De seguida parto para os estudos em Portugal, Bragança e, mais tarde em Lisboa, nasce uma banda formada por estudantes cabo-verdianos para me acompanhar, Rui Cruz, Victor Cardoso, Milton, Bic e Aurélio Santos, mais tarde”.

Concluída a formação em educação musical, Ana regressa a Cabo Verde e inicia, em São Vicente, actividade docente na área da música, ministrando aulas para crianças de grupo coral e paralelamente ia construindo uma carreira como intérprete vocal e compositora.

CD de originais

O próximo passo da artista, que reside actualmente na Cidade da Praia, é a gravação do primeiro CD de inéditos que deverá estar pronto em 2021. Ana Azevedo vem trabalhando no projecto há cerca de dois anos.

“Não basta abrir a boca e cantar. Isso realmente todo o mundo pode fazer. Sei o que quero, sei para onde vou, mas há detalhes ainda a acertar. Não quero fazer só por fazer, porque tenho que lançar um CD”, explica.

A cantora e compositora já tinha seleccionado algumas músicas inéditas suas e de outros compositores, mas diz que só agora sentiu ter atingido maturidade suficiente para lançar mãos à obra.

“Sempre contestei o facto de um intérprete mal conhecer a sua voz e antes de ter uma vida artística e um conhecimento mais aprofundado é, por assim dizer, atirado aos leões. Portanto, a primeira coisa que se faz é gravar um CD”, aponta a professora de educação musical, lembrando que a música tem de ser encarado como um trabalho sério.

“Eu não acredito meramente no talento. Acredito que há talento, eu tenho a música no sangue por ser cabo-verdiana; tenho a música em mim, porque tinha um pai em casa que tinha instrumentos musicais e era um homem sensível à arte. Eu trago tudo isso dentro de mim, mas se não houver trabalho, se não houver seriedade nas coisas que fazemos, não vamos a lado nenhum. Ou temos mais dificuldade em conseguir aquilo que queremos”, conclui. António Monteiro – Cabo Verde in “Expresso das Ilhas”

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