Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Macau - A cultura que regressa à cidade

Depois de mais de seis meses de confinamento, a cultura está a regressar, gradualmente, aos espaços de Macau. Em moldes diferentes dos habituais e em circunstâncias especiais, há exposições a inaugurar, um festival literário já com datas e documentários a estrear



O Festival Literário de Macau – Rota das Letras já tem data e tema. A Babel vai apresentar um ciclo de documentários sobre artistas de Macau. Rui Rasquinho tem desenhos para mostrar. A Orquestra Sinfónica Jovem de Macau tem Beethoven para tocar. O Festival da Lusofonia quer arrancar. Há cultura a regressar, aos poucos, ao dia-a-dia da cidade. Há também incerteza quanto à edição deste ano do festival This Is My City.

Este ano, o Festival Literário de Macau será mais curto do que as anteriores edições. Arranca no dia 2 de Outubro e termina no dia 4. “O festival deste ano decorre em apenas três dias. É significativamente mais pequeno, porque a escala não se pode comparar com o que aconteceu em anos anteriores, sem a pandemia”, justificou ao Ponto Final Alice Kok, directora executiva do festival. Assim, o tema do festival será a pandemia e o confinamento, adiantou.

A organização do festival ainda está a negociar com o Governo quais os espaços disponíveis para receber as sessões do festival, “porque, como toda a agenda foi alterada e muitas actividades foram adiadas para a segunda metade do ano, alguns locais já estão ocupados”. Como nos anos anteriores, os locais preferidos pela organização são o Edifício do Antigo Tribunal e as Oficinas Navais.

Alice Kok revelou também que existe a ideia de, no dia 4 de Outubro, assinalar o 10.º aniversário da morte de Henrique de Senna Fernandes com a publicação inédita de “Nam Van – Contos de Macau”, em língua inglesa e chinesa. Além disso, será também recordado Camilo Pessanha, a propósito do centenário da publicação de Clepsidra. Já que o tema é confinamento, está ainda a ser planeada uma exposição fotográfica com base no concurso organizado pela revista Macau Closer.

Para já, não há autores confirmados. Alice Kok não quis revelar detalhes sobre a programação: “Ainda estamos a perceber qual é a disponibilidade dos autores”. As conferências, essas, vão ser todas presenciais, sendo também online quando haja autores convidados que se encontrem no exterior, casos em que falarão através de uma plataforma de ‘streaming’ para o público em Macau.



O desenho e o documentário

Margarida Saraiva, directora artística da Babel, contou que a organização cultural vai dar início ao projecto anual daqui a uma semana, com a exposição “Tanto limpei a caneta no papel que parece um desenho”, de Rui Rasquinho, que é inaugurada a 20 de Agosto, na Fundação Oriente, e que se prolonga até 21 de Setembro.

O artista explica o conceito ao Ponto Final: “É uma exposição sobre o desenho, nas suas várias manifestações”. A disciplina do desenho é dada a entender através de “formas mais tradicionais, como as marcas num suporte, tinta, grafite, papel, em madeira”, até aos conceitos “um pouco mais livres”. E, neste âmbito, dá o exemplo de uma instalação, uma “máquina de desenhar”. “É uma espécie de uma garrafa que pinga, é uma coisa que provoca um desenho, não autoral e acidental”, explica, acrescentando que, “depois, o som do pingo a cair é gravado e amplificado por um amplificador, o som do amplificador é captado por um sismógrafo, que depois leva o som para um monitor e o monitor mostra a representação gráfica do sismógrafo, do som da pinga a cair”. A Babel vai, depois, publicar o livro resultante da exposição de Rui Rasquinho.

Margarida Saraiva contou que a organização cultural vai, até ao final deste ano, exibir uma série de documentários sobre a arte contemporânea de Macau. São “documentários ficcionados”, que “fogem inteiramente ao registo tradicional a que estamos habituados de documentários sobre a obra de artistas”, descreveu Margarida Saraiva.

Os artistas de Macau retratados pelos documentários são Rui Rasquinho, Yo Yo, Kostantin Bessmertny, Bianca Lei, Candy Kuok, Eric Fok, João Ó e Rita Machado, e Ung Vai Meng. Os filmes serão realizados por António Faria, Maxim Bessmertny e Tracy Choi.

Questionada sobre as dificuldades de organizar eventos culturais durante os meses de pandemia, a directora artística comentou: “Eu acho que nós vivemos tempos sem precedentes na história da humanidade com consequências brutais para a produção cultural. Isso tem a ver com uma restrição progressiva daquilo que são as liberdades e garantias individuais e essas consequências não são locais, são globais”. Margarida Saraiva acrescentou apenas que “em função desta pandemia, tem havido um conjunto de restrições às liberdades fundamentais”, ressalvando que “a Babel não foi directamente afectada por nenhuma destas restrições”.



A ARTFEM 2020 – 2ª Bienal Internacional de Macau – Mulheres Artistas também já tem datas: começa a 30 de Setembro e termina no início de Dezembro, adiantou ao Ponto Final Alice Kok, que é uma das curadoras do evento. Para já, foram reunidas 106 artistas, em que cerca de 40 são de Macau. A China e todos os países lusófonos estarão também representados. “Houve algumas artistas que deviam apresentar o seu trabalho aqui, mas não tenho a certeza de que poderão vir”, notou Alice Kok, explicando que a bienal deverá incorporar palestras, conferências e ‘workshops’.

O tema é “Natura” – incluindo “o conceito de mãe natureza na tradição folclórica e etnográfica” e “as questões climáticas para a preservação da natureza”, adiantou entretanto à Lusa o presidente da comissão organizadora.

Carlos Marreiros sublinhou que “a pandemia adiou a bienal e estragou a vida a todos nós”. Mas manter a sua realização este ano foi ponto de honra. “Temos algumas confirmações e algumas desistências, e temos muitas interrogações, porque as pessoas querem vir ao extremo oriente, mas as restrições [às viagens] são terríveis”, explicou, antes de garantir que se encontra, apesar de tudo, optimista. “Neste momento, devido à pandemia, há obras que provavelmente não chegarão, (mas) temos já obras connosco para assegurar uma exposição com muita qualidade”.

Além de Carlos Marreiros e Alice Kok, são também curadores do evento Leonor Veiga, em Lisboa, James Chu, de Macau, e Angela Li, da China.

Lusofonia deverá realizar-se entre 16 e 18 de Outubro

O Festival da Lusofonia ainda tem quase tudo por revelar. Ainda não há detalhes, mas fonte próxima da organização do festival disse ao Ponto Final que o evento vai acontecer no fim-de-semana entre 16 e 18 de Outubro.

As dúvidas existem também em relação ao festival This is My City. Manuel Correia da Silva contou ao Ponto Final que ainda não há datas para o festival, nem sequer há a certeza de que este se venha a realizar este ano. “Ainda estamos a ver exactamente como é que vamos conseguir, dadas as circunstâncias deste ano, viabilizá-lo ou não. Ainda é cedo para saber”, afirmou Manuel Correia da Silva.

A principal dificuldade tem a ver com o financiamento por parte do Governo de Macau, que, segundo o responsável pelo festival, “ainda não está garantido”. “Estamos neste momento a tentar perceber quando é que conseguimos ter ou não apoio do Governo”, disse, notando que, nos últimos dois anos, os apoios do Governo têm sido dados “em cima do acontecimento” e “este ano deve ser a mesma coisa”.

“Eu continuo a achar que este ano vamos conseguir, sendo que este ano temos a acrescentar a questão do vírus, que torna tudo um bocadinho diferente”, assinalou Manuel Correia da Silva. Para o festival, a questão das fronteiras é também fatal: “A nossa programação tem uma forte presença de gente que vem de fora e este ano provavelmente não vamos poder contar com isso”. A realizar-se, será a 14.ª edição do festival.

Alice Kok é também curadora do Salão de Outono e confirmou que a exposição é inaugurada a 31 de Outubro na Casa Garden. O Salão de Outono vai apresentar propostas de artistas, que podem ser apresentadas até ao final deste mês. Em Setembro, a organização faz a selecção. “Este ano há artistas que querem fazer performances e eu acho que é boa ideia incluir diferentes formas”, indicou Alice Kok.

O cinema e a música

A organização do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios – Macau (IFFAM, na sigla em inglês) também já confirmou que este ano o festival se realizará entre os dias 3 e 8 de Dezembro, com um programa de longas e curtas metragens sob o tema “Uma Celebração da Vida & Do Grande Ecrã”. Para assinalar o contexto de combate à Covid-19 a nível global, a organização vai preparar uma secção com uma selecção de filmes em torno da experiência da saída do confinamento e regresso ao grande ecrã.

Já este domingo, a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau está a preparar um concerto totalmente dedicado às obras de Ludwig van Beethoven, de modo a assinalar os 250 anos do nascimento do compositor alemão. No Centro Cultural de Macau, a orquestra dirigida pelo maestro Veiga Jardim vai começar por tocar a peça “Egmont”, de Goethe, composta por Beethoven em 1809.

Foi anunciado na quarta-feira que o instituto Cultural (IC) iria adicionar concertos ao festival Hush!!, que tinha decorrido entre os dias 21 de Junho e 2 de Agosto. “Devido à resposta esmagadora”, o IC decidiu organizar mais dois concertos, nos dias 22 e 23 de Agosto, no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais n.º 2, entre as 20 e as 22 horas. Vão actuar os grupos FIDA, Amulets, Catalyser e Rebel Rabbit, no dia 22 e, no dia seguinte, actuam Asura, Worktone String Quartet, Single Path e B_Gei3.

O IC informou também ontem que a recolha de obras para a Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau de 2020 encerra hoje. Esta exposição é dedicada à pintura, fotografia, gravura, cerâmica, escultura, instalações, vídeos ou criações em interdisciplinaridade. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

andrevinagre.pontofinal@gmail.com

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