Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 1 de julho de 2016

CPLP entre a esperança e a oportunidade

A CPLP deve apontar para objectivos estratégicos mais ambiciosos e não permitir uma consideração menor. Deve ser parceira internacional e não meramente uma associação dos países da lusofonia.

Os tempos mais recentes têm demonstrado de forma vincada como é relevante o posicionamento atlântico de Portugal. A Europa, sendo solução indelével do nosso futuro, deve contar com um parceiro que contribui com uma mais-valia única como resulta do nosso posicionamento geográfico estratégico.

As sucessivas crises quer na Europa quer nos sistemas financeiras implicam que o país aposte em afirmações complementares que consolidem o papel político, mas também económico e cultural do país face aos seus parceiros. A grandeza das nações está na capacidade de que dispõem para ultrapassar os seus limites e juntar o que a história ou a geografia desafiam.

O espaço lusófono tem vindo a consolidar presença e relevância no mundo, na medida em que aperta laços de relacionamento em todos os domínios – dos quais os primeiros beneficiários são os próprios países de que dele fazem parte.

A criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa representou bem esta ideia de aproximação de territórios soberanos que a história aproximou e que as pessoas podem beneficiar.

As duas décadas de existência desta organização consagram a ideia da sua criação e obrigam a que façamos um exercício de desenvolvimento da mesma, compreendendo as diferenças entre os seus membros e albergando as suas dificuldades individuais para, em conjunto, construir um espaço fortalecido de entendimento e de melhor relacionamento, em particular nos domínios económico e político.

Marcando presença nos vários continentes, da Europa a África, da América à Ásia, o aprofundamento desta relação representa ganhos para todos os participantes. Pouco a pouco, passo a passo, tem-se notado uma crescente aproximação entre territórios e povos que sentem beneficiar mutuamente da cooperação entre si.

Não se trata apenas da questão da língua, da história ou da cultura. O mundo de influência lusófona é dos maiores do mundo – a língua portuguesa é uma das mais faladas do planeta – e com presença em todos os continentes.

Portugal alberga a sede da CPLP. É a única organização internacional transcontinental com sede no nosso país e da qual fomos fundadores e esteio na formação. Deveríamos nós próprios acarinhar mais a organização e demonstrar o nosso respeito pelo papel que pode desempenhar na afirmação de valores comuns, de desenvolvimento económico e de integração social.

Temos especiais responsabilidades nesta organização que pela evolução que apresenta se encontra em condições de dar o salto para uma dimensão maior que consolide o seu estatuto, que lhe confira o reconhecimento internacional enquanto tal. Para tanto, a CPLP deve apontar para objetivos estratégicos mais ambiciosos e não permitir uma consideração menor. Deve ser parceira internacional e não meramente uma associação dos países da lusofonia.

A comunidade internacional tem de olhar para a CPLP como o somatório dos Estados nela integrante e não uma mera agregação de Estados que a compõem. E os membros da CPLP devem agir em conjunto na cena internacional promovendo reciprocamente os seus membros no âmbito dos desafios internacionais que a cada um se vão colocando.

A organização por si tem feito esse trabalho. É tempo de ser reconhecido para se criar um novo mundo de oportunidades para os Estados, para os seus povos e para o enriquecimento da comunidade internacional.

Nestes tempos de maior instabilidade política com incidência social, o fortalecimento do espaço das comunidades dos países que falam a mesma língua é essencial. Quer como mais-valia, quer como complemento para o desenvolvimento das relações económicas dos estados membros. Não como declaração política de conveniência, mas como afirmação de um bloco que entende que o seu posicionamento de equipa fortalece o papel de todos.

A CPLP tem de crescer politicamente. Afirmar-se para consolidar e ganhar o seu espaço. Transformar as declarações dos seus dirigentes em decisões políticas efetivas e consequentes. E não continuar a esperar vencer cada crise que houver no seio de cada membro. A CPLP não é uma esperança. É uma oportunidade. Para todos ganharem em conjunto. Haja vontade política para tanto. E capacidade de decisão. António Rodrigues – Portugal in “Económico”

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