No dia do seu primeiro aniversário, 01 de
Junho de 2013, o blogue “Baía da Lusofonia” homenageia a língua
galaico-portuguesa com um belo texto da escritora Concha Rousia intitulado “Mundos
que se comem”.
(A todos os indígenas galegos andem onde eles
andarem... )

Desço, deixando atrás um mundo que se apaga e
vou incorporar-me a uma massa recheada de nada onde sem remédio sei que
sucumbo, sei que sucumbo. Ainda há pessoas que acreditam no progresso que cria
no mar ilhas boiantes de plástico e se perguntam porque se suicidam as
baleias...
O nevoeiro lá no fundo faz parecer que a
veiga é o mar... Deixo atrás as fragas de azevinhos, movem-se comigo as
carvalheiras, mas eu tenho que esquecer os carretos de lenha e o lume da
lareira. Deixo as carqueijas e as urzeiras... onde as abelhas se esquecerão de
mim, comprarei mel falso no supermercado, esquecerei como se castra, qual
medida justa de mel deixar para que o inverno não traga a fame à colmeia por
longas que sejam as nevadas...
Esquecerei fazer aquele facho de trapos
velhos para deitar fume enquanto o pai vai com o cutelo curvado recortando as
zarapatas*... Ou para fumegar o enxámio* pousado e meté-lo no saco para levá-lo
para as nossas colmeias... Essa é a lei: as abelhas quando marcham duma colmeia
são livres, quem apanhar o enxámio é dele. Os enxámios emigram mas continuam na
terra, continuam livres...
Mas eu, aonde vou eu? se ainda fosse em
enxámio... mas vou sozinha. Terei que comprar mel sem cheiro de urze no
supermercado, mel claro que não lembre mais a cor dos meus olhos... A estrada
perde-se la na ponte, comida pela névoa... Será que quando eu passe lá no rio
ela também me comerá a mim? Numa digestão interminável continuarei meu caminho
até a cidade... Jonh Lennon desiste de cantar. Desligo o rádio. Continuarei
simplesmente ouvindo o silencioso pranto. Concha
Rousia – Galiza in “Portal Galego da Língua”
Sem comentários:
Enviar um comentário