“Chuva de Jasmim” é o título do livro de poesia da palestiniana Shahd Wadi, que a Caminho agora edita. A sessão de lançamento decorrerá, com a presença da autora, no dia 27 de fevereiro, às 18h30, na Casa do Comum, em Lisboa. O livro será apresentado por Judite Canha Fernandes, autora do prefácio, e contará com a participação de Alexandra Lucas Coelho
“Rasgam as entranhas do meu corpo palestiniano frases e palavras em português, um idioma que ainda vou aprendendo. Resisto com toda a força, só algumas conseguem escapar. Aperto os lábios diante da impossibilidade de falar do meu corpo que não é, do seu lugar que é nunca. Não digo a nenhuma alma que não distingo o «cá» do «lá». Nem que as línguas e os desejos acontecem em mim em simultâneo.
Não consigo, não consigo, não consigo soletrar o nome árabe de quem morreu ontem em Gaza, nem no dia seguinte. Fecho a boca perante o caminho da história da minha família que foi expulsa da sua terra após a catástrofe palestiniana Nakba, em 1948. Coloco a mão à frente da minha voz para evitar um erro de português, enquanto conto uma piada ou até um sonho de liberdade, mesmo se toda a liberdade. Não declamo nada. Aguento um golpe atrás de outro de um verso que me quis abandonar. Mantenho o silêncio.
Hoje trago comigo este livro porque o meu corpo desiste e está finalmente poema.
«Este será o primeiro livro palestiniano da poesia portuguesa. Ou vice-versa? Shahd Wadi fez de Portugal a sua morada — até que ir para casa seja possível. Enquanto a Palestina estiver ocupada, o mundo é a Palestina.» Alexandra Lucas Coelho
Sobre a autora: Shahd Wadi é palestiniana, entre outras possibilidades, mas a liberdade é sobretudo palestiniana. Procurou as suas resistências ao escrever a primeira dissertação de doutoramento em Estudos Feministas do país, pela Universidade de Coimbra, que serviu de base ao livro Corpos na Trouxa: histórias-artísticas-de-vida de mulheres palestinianas no exílio (Almedina, 2017).
Entre as publicações mais recentes, é coautora nas antologias Volta Para Tua Terra: Não Há Abril Sem Imigrantes (Urutau, 2024) e Ask the Night for a Dream: Palestinian Writing from the Diaspora (Palestine Writes, 2024). Exerce a sua liberdade no que faz, viajando entre escrita, curadoria, investigação, tradução, desempenho e consultorias artísticas. Foi nomeada recentemente Escritora Universal Galega de 2025. Na sua escrita e investigação aborda a ocupação israelita da Palestina e considera as artes um testemunho de vidas. Também da sua. In “Revista Bica” - Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário