Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Portugal - Gilead Génese premeia investigação do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde em cancro da mama e hepatites

Projetos premiados com 40 mil euros cada centram-se nas áreas das metástases cerebrais causadas pelo cancro da mama e das hepatites virais



A 10.ª edição do Programa Gilead Génese distinguiu cinco projetos de investigação, dois dos quais liderados por cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S). Os prémios, no valor de 40 mil euros cada, centram-se, respetivamente, nas áreas das metástases cerebrais causadas pelo cancro da mama e das hepatites virais.

O projeto INVEST, liderado por Ana Sofia Ribeiro, do grupo «Cancer Metastasis» do i3S, vai centrar-se num dos maiores desafios do tratamento do cancro da mama: as metástases cerebrais. Apesar dos avanços científicos, explica a investigadora, “as opções terapêuticas para combater a disseminação do cancro da mama para o cérebro ainda são limitadas, pelo que é urgente desenvolver novas abordagens eficazes e oferecer qualidade de vida aos doentes e suas famílias”.

A equipa formada pelas investigadoras Ana Sofia Ribeiro e Rita Carvalho vai focar-se na proteína VGF, já identificada por este grupo do i3S como um elemento crucial no processo de formação de metástases cerebrais. Esta proteína, explica a coordenadora do estudo, “desempenha um papel determinante na comunicação entre as células tumorais e o cérebro, facilitando a progressão da doença, pelo que, além de aprofundar o conhecimento sobre o seu papel, vamos testar compostos farmacológicos capazes de bloquear os seus efeitos nocivos”.

Para desenvolver o projeto, a equipa, que conta com a colaboração do grupo BioSIM, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), vai realizar testes em modelos experimentais in vitro, bem como estudos pré-clínicos in vivo, com o objetivo de comprovar a eficácia desses compostos na inibição da metastização cerebral. O objetivo, sublinha Ana Sofia Ribeiro, “é que estas abordagens terapêuticas possam, em breve, ser implementadas na prática clínica”.

Um modelo 3D para avaliar novos fármacos contra as hepatites virais

Denominado “FibHep: um modelo 3D in vitro de fibrose humana em hepatite”, o projeto coordenado por Bruno Sarmento, líder do grupo «Nanomedicines & Translational Drug Delivery», tem como principal objetivo desenvolver um modelo 3D de fibrose hepática utilizando células hepáticas humanas e biomateriais que será utilizado para avaliar a eficácia de novos fármacos no tratamento de hepatites virais»

Entre as várias formas de hepatite viral, as mais comuns são as hepatites B e C, que afetam, respetivamente, cerca de 254 milhões e 50 milhões de pessoas a nível global e são as principais causas de doença hepática crónica, uma doença com prevalência crescente e que culmina com o desenvolvimento de fibrose e cirrose, que comprometem o normal funcionamento do fígado. A grande maioria destes casos, explica Bruno Sarmento, “é detetada já em fases muito avançadas da doença, quando esta já é irreversível. Além disso, as terapias disponíveis para o tratamento da fibrose hepática não são eficazes, em parte devido à ausência de modelos que repliquem de forma fiel esta condição e onde se possam testar novas terapias”.

Em colaboração com grupo Bioengineered 3D Microenvironments, também do i3S, os investigadores Bruno Sarmento e Ana Margarida Carvalho pretendem colmatar esta falha: “O nosso trabalho assenta na combinação de diferentes tipos de células hepáticas com dois biomateriais, que vão permitir criar no laboratório um microambiente com a composição bioquímica e as propriedades mecânicas do fígado em contexto de fibrose”, antecipa o coordenador do estudo.

A equipa vai recorrer a tecnologias de bioimpressão 3D, que “permitem mimetizar melhor a estrutura do lóbulo hepático e aumentar ainda mais a fidelidade do modelo” e pretende apresentar uma nova terapia antifibrótica baseada em nanopartículas, que será testada no modelo desenvolvido.

Neste projeto, adianta Bruno Sarmento, “pretende-se tirar partido da capacidade das nanopartículas possibilitarem uma entrega dirigida a um determinado tipo celular, neste caso as células estreladas hepáticas, principais intervenientes na fibrose. Desta forma, a quantidade de fármaco que chega às células-alvo aumenta, reduzindo efeitos secundários causados pela ação do fármaco noutros tipos celulares”.

Uma das grandes vantagens deste modelo, acrescenta o investigador, “é não só mimetizar a fibrose hepática, mas também ser uma plataforma que permite quantificar o efeito da terapia aplicada». Além disso, «tem a vantagem de ser um complemento e uma alternativa aos modelos animais para o teste de novos fármacos”.

Programa Gilead Génese impulsiona “investigadores a expandir os seus horizontes”

Nesta 10ª. Edição do Programa Gilead Génese candidataram-se 47 projetos nacionais, 27 de investigação e 20 de intervenção comunitária, submetidos por diversas entidades, desde instituições do SNS, a instituições académicas e científicas e a organizações não governamentais. Foram selecionados um total de dez projetos – cinco de investigação e cinco de comunidade -, das áreas de VIH, Hepatites Virais Crónicas e Cancro da Mama, num total de quase 300 mil euros de financiamento.

María Río, vice-presidente e diretora-geral da Gilead Espanha e Portugal destaca o impacto destas bolsas na investigação, sublinhando que “impulsionam os investigadores a expandir os seus horizontes e a implementar novas linhas de investigação ao serviço dos doentes”.

A cerimónia de entrega dos prémios decorreu na passada terça-feira, 11 de fevereiro, no CCB, em Lisboa, e contou com a presença de mais de 100 convidados, entre as quais os investigadores e as ONG premiados, entidades e autoridades de saúde, sociedades científicas das diferentes áreas distinguidas, associações de doentes, membros das comissões externas do Programa e diversas personalidades ligadas à área da saúde em Portugal.

Nesta cerimónia, além da distinção dos vencedores, teve lugar um debate sobre o tema “Investigação Clínica: Um desígnio para a Saúde em Portugal” que contou com a participação de Carlos Martins, Presidente do Conselho de Administração da ULS Santa Maria; José Dinis, Diretor do Programa Nacional das Doenças Oncológicas – DGS; e Tomás Lamas, Presidente da Associação BataZu.

Criado em 2013 com a ambição de incentivar a investigação, a produção e a partilha de conhecimento científico nacional e de promover iniciativas que conduzam à implementação de boas práticas no acompanhamento dos doentes, o Programa Gilead Génese tem como objetivo apoiar projetos de investigação e de iniciativa comunitária com bolsas até 40 mil euros nas áreas em que a Gilead desenvolve a sua investigação, especificamente Oncologia e Virologia.

No campo da Oncologia, são abrangidos projetos de Hemato-oncologia, especificamente Linfomas Não-Hodgkin de células B (linfoma difuso de grandes células B, linfoma primário do mediastino, linfoma de células do manto e linfoma folicular), e Cancro de Mama. Na área de Virologia, são apoiados projetos dedicados às Hepatites Virais Crónicas e VIH. Universidade do Porto


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