Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Angola – Escritor Pepetela é leitura obrigatória no ensino superior no Brasil

O romance intitulado “O quase fim do mundo”, de autoria do escritor angolano Pepetela, foi recentemente indicado para integrar o currículo do ensino no Brasil, sendo leitura obrigatória para a prova de língua portuguesa do exame discursivo do vestibular daquele país, para o acesso à universidade



Trata-se de uma distinção digna de realce, visto que somente quatro autores integram a selectiva lista do currículo obrigatório, nomeadamente os brasileiros Clarice Lipesctor, com o conto “Amor”, e José de Alencar, com o romance “Senhora”. A estes junta-se o célebre William Shakespeare com a aclamada peça de teatro “Hamlet”.

De acordo com o crítico literário brasileiro Marcelo Miranda, citado numa nota endereçada pela Academia Angolana de Letras, o romance futurista “O quase fim do mundo”, do escritor angolano Pepetela, membro fundador da referida agremiação, editado no Brasil pela Kapulana, é uma “ficção pós-apocalíptica, com muitas discussões sociais sobre vários grupos presentes no continente africano.

Em comunicado de imprensa, a Academia Angolana de Letras felicita o detentor da sua Cadeira nº 2 por esta distinção, augurando ainda maiores sucessos na sua carreira literária.

Este reconhecimento da qualidade literária de Pepetela foi acolhido com grande satisfação junto da comunidade literária do país, que viu como um inequívoco exemplo da internacionalização da cultura angolana através da literatura.

Para o escritor Lucas Cassule, que se assume como “um discípulo de Pepetela”, o destaque deste “mestre da escrita angolana” é motivo de grande felicidade. Para si, é importante perceber que a grandeza deste vulto da cultura angolana tem eco muito aquém das fronteiras país, o que constitui claramente um ganho para a literatura angolana, significando que mais leitores a nível do mundo vão poder olhar para ela com maior interesse.

“É preciso destacar a importância que o Brasil tem no mundo a nível da produção literária, o que significa que este marco de Pepetela vem ainda mais solidificar o caminho que ele já tem feito há mais de 50 anos de dedicação à literatura. Sobre Pepetela eu acho que sou muito suspeito a falar, basta ler romances como “Yaka”, “Mayombe”, “A Geração da Utopia” e outros mais recentes para perceber a grandeza deste escritor”, sugeriu.  

Lucas Cassule foi mais longe e considerou real a possibilidade de ser um dia indicado para o Prémio Nobel, vai ser por puro merecimento. “Bem-haja ao Pepetela e por tudo que ele tem feito para o engrandecimento da literatura angolana”,   

Para o escritor Moniz Mário, vencedor da edição de 2011 do prémio de literatura infantil Quem Me Dera Ser Onda, é um indicador da qualidade cultural e literária do país e da relevância de Pepetela na lusofonia. O escritor, actualmente a frequentar o mestrado em Portugal, disse que esse facto acrescenta valor e destaca a universalidade da literatura do país, mas também sinaliza a grande diversidade de vozes do cânone literário, que ainda é bastante dominado por autores de língua inglesa, concretamente americanos e europeus.

“A indicação desta obra sugere mais do que a escolha de uma estética, mas sim a consciência crítica e inclusiva de autores africanos. É um gesto que amplia o diálogo junto dos leitores, assumindo o carácter da literatura em transcender de forma rica e crítica fronteiras espaciais”, observou.

Já o poeta e crítico literário Hélder Simbad considera que Pepetela é indubitavelmente o maior escritor angolano vivo e uma das vozes que mais ecoa pela lusofonia e mundo afora. Na sua opinião, as traduções das suas obras para outras línguas revelam por si só a sua grandeza.

“Por consequência disso, acho normal que o Brasil, um país que respira letra e muito faz pela língua portuguesa, coloque mais uma vez no vestibular um dos maiores cultores da palavra em prosa escrita em língua portuguesa. O reconhecimento de Pepetela é o reconhecimento de Angola como uma nação literária forte”, defendeu. Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos “Pepetela” nasceu em Benguela, em 1941. Actualmente com 83 anos, é autor de mais de 25 livros e conquistou diversos prémios literários, com destaque para o Prémio Camões, em 1997, o maior reconhecimento literário da língua portuguesa. Katiana Silva – Angola in “Jornal de Angola”


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