A Acnur precisa de US$ 38,2 milhões para atender às necessidades dos deslocados internos em 2026, cerca 100 mil pessoas foram deslocadas nas últimas semanas devido à propagação da violência na região
A Agência da ONU para Refugiados,
Acnur, está preocupada com a intensificação dos ataques a aldeias do norte de
Moçambique e a rápida deterioração do conflito para distritos anteriormente
seguros.
Quase 100 mil pessoas foram forçadas a fugir nas últimas
duas semanas, segundo uma atualizaçao publicada nesta segunda-feira.
Grupos armados
Pessoas que conseguiram chegar em segurança contaram que
fugiram com medo, enquanto grupos armados invadiam as suas aldeias, muitas
vezes à noite. Eles incendiaram casas, atacando civis e forçando famílias a
fugir sem nada.
À medida que as necessidades aumentam, os esforços
coletivos, dos agentes humanitários e governamentais, continuam insuficientes
para atender à escala de proteção e assistência necessária no terreno.
Muitos descreveram um cenário caótico de fuga, com pais
perdendo os seus filhos de vista e parentes idosos ficando para trás em meio ao
pânico.
Para uma boa parte deles, esta é a segunda ou terceira
vez que são deslocados somente este ano, com os ataques a alcançar novas áreas.
Insegurança
Muitos deixam as suas áreas de origem sem qualquer
documento civil e nem acesso a serviços essenciais, caminhando durante dias em
extremo medo. A falta de rotas seguras e de apoio básico deixa as famílias,
especialmente mulheres e meninas, em maior risco de exploração e abuso.
Elas são as maiores vítimas da falta de iluminação e
privacidade nesses abrigos comunitários, que já enfrentaram jornadas perigosas na
procura de segurança.
Os ataques expõem o grupo a novos riscos de violência
sexual e de género, enquanto idosos e pessoas com deficiência enfrentam
dificuldades em locais que não são acessíveis ou equipados para atender as suas
necessidades.
Apoio humanitário
Isadora Zoni é oficial de comunicação do Acnur em
Moçambique. Ela cita alguns dos momentos tristes.
“São mães que fugiram à noite com os filhos no colo. Eu
mesma conheci uma senhora chamada Filomena e teve um bebé e ela fugiu algumas
horas depois desse bebé ter nascido ainda com dores de parto. Então, essa
realidade e realmente muito complexa e muito triste. Pessoas com deficiência
algumas delas são deixadas para trás, crianças desacompanhadas. A realidade que
nós percebemos, inclusive nesses centros de acolhimento, é de uma maioria de
crianças."
Para a oficial de comunicação do Acnur em Moçambique, o
apoio é urgente.
Apoio urgente
“Para 2026, o Acnur vai precisar de US$ 38,2 milhões.
Essa é a estimativa com base nas necessidades de proteção que são observadas no
terreno. E essas necessidades elas aumentam agora num momento bastante sensível
uma vez que em 2025 nós recebemos apenas 50% daquele que foi o orçamento para
responder às necessidades no norte de Moçambique. Então é bastante preocupante
o cenário.”
Em parceria com as autoridades locais foram criados
postos de atendimento para oferecer aconselhamento e apoio em saúde mental,
distribuir kits de dignidade e dispositivos de mobilidade para pessoas com
deficiência e auxiliar as famílias na substituição de documentos civis
perdidos.
Os atos de violência, que começaram na província de Cabo
Delgado em 2017, já deslocaram mais de 1,3 milhão de pessoas.
Em 2025, os ataques espalharam-se para
além da área habitual atingindo a província de Nampula e ameaçando comunidades
que antes acolhiam famílias deslocadas. Ouri Pota – Moçambique ONU News
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