Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 8 de março de 2025

Nações Unidas - Jurista brasileira diz que participação de mulheres na política não pode regredir

Ex-presidente da Comissão da ONU sobre Eliminação da Discriminação Contra Mulheres, Silvia Pimentel, declara “perplexidade” com narrativas sobre retorno da mulher a papel doméstico. Ela apresentou abordagens e conquistas do movimento feminista nas últimas décadas



No Dia Internacional da Mulher, a professora e jurista Silvia Pimentel faz um alerta sobre retrocessos que abalam o lugar da mulher no mundo, gerando um “ápice de preocupação”.

A feminista brasileira, que integrou e presidiu a Comissão das Nações Unidas sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra Mulheres, Cedaw, disse estar perplexa com “estratégias comunicacionais” que apelam para um retorno da mulher ao seu “papel tradicional” de mãe e dona de casa.

Participação e poder na esfera política

Em entrevista para a ONU News, ela ressaltou como isso contrasta com décadas de lutas por maior presença e liderança das mulheres na vida pública.  

“A relevância de que nós, mulheres, fôssemos além do nosso papel de mães, donas de casa, que tivéssemos sim condições de ter participação e poder na esfera política da nação e do mundo. E dessa necessidade de encontrar espaços e inclusive permanência em espaços de poder fora dos nossos lares, o que não significava uma proposta de que deixássemos de ser mães, deixássemos de ter a nossa família”.

Para a especialista, foi justamente essa participação feminina que gerou grandes transformações nos arcabouços do direito penal, civil e trabalhista, eliminando dispositivos que efetivamente discriminavam as mulheres no Brasil.

Desinformação e reforço de estereótipos

Ela afirmou que o ambiente digital está cada vez mais repleto de desinformação e notícias falsas que reforçam estereótipos e simbologias de mulheres fechadas em casa, unicamente dedicadas à maternidade.

Mãe de quatro filhos, Silvia afirmou que a maioria das feministas da sua geração é muito dedicada à família, mas que isso não impede a “abertura do estar no mundo”.

“Eu entendo que é fundamental que a nossa escolha de família não significa a amputação do nosso direito de seres políticos, conhecendo e participando das grandes decisões políticas do mundo”.

Lutas interconectadas

A professora de Direito, que participou ativamente da elaboração da Constituição brasileira de 1988 e da revisão do Código Civil, relembrou características fundamentais do movimento feminista.

“Nós, mulheres feministas temos a marca de trabalhar o nosso feminismo de direitos das mulheres interconectados com os direitos de todas as populações que têm sido oprimidas e que estão, nos nossos Estados modernos e contemporâneos, ainda sendo maltratadas por discriminações, estereótipos e preconceitos estruturais”.

Ela afirmou que, nesse sentido, a luta pelos direitos das mulheres se soma com aquela contra o racismo, com o movimento em favor das pessoas Lgbtqia+ e com a procura pela igualdade de classes.

A especialista destacou que Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres, de 1979, é a “Carta Magna” da emancipação feminina.

A partir dela, foram realizadas grandes conferências regionais e globais, que revelaram as situações que fazem com que as mulheres sejam “subalternizadas” em termos de direitos.

Conquistas baseadas em realidades concretas

Silvia Pimentel conclui que esse esforço de décadas tornou possível a passagem de um “sujeito abstrato”, como mencionado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, para as “realidades concretas” das vivências das populações oprimidas.

Ela avalia que de 1979 para cá houve uma notável ampliação de legislações igualitárias, políticas públicas e direitos concretos das mulheres.

Por outro lado, a jurista disse que “respira fundo” ao observar um movimento de afastamento da democracia em várias partes do mundo, preocupada com o que isso pode representar para os direitos das mulheres, duramente conquistados. ONU News – Nações Unidas


Portugal - Lisboa acolhe lançamento do livro de Carlos Reis sobre a independência de Cabo Verde

Lisboa – O lançamento do livro “Da luta pela independência de Cabo Verde às saudades do futuro”, de Carlos Reis, acontece na quinta-feira, 13, no Grémio Literário de Lisboa, com apresentação de Ângela Coutinho e Mário Matos.



A obra, de acordo com a Rosa de Porcelana Editora, pretende evocar “figuras e momentos cruciais” do processo de luta pela independência de Cabo Verde, destacando o papel de Amílcar Cabral.

Na obra, o autor quis enaltecer a visão estratégica e capacidade diplomática de Amílcar Cabral, bem como a solidariedade com outras colónias portuguesas e o próprio povo português.

Carlos Reis, combatente da liberdade da Pátria, integrou o Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e desempenhou diversas funções no período da independência, incluindo os cargos de ministro da Justiça e Assuntos Sociais no Governo de transição e ministro da Educação e Cultura após a independência.

Ele foi também embaixador de Cabo Verde em Portugal e outros países europeus, membro fundador da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria e seu presidente, por três vezes, membro fundador da Fundação Amílcar Cabral e da Fundação Esperança António Mascarenhas Monteiro.       

Além desse novo livro, Carlos Reis já publicou “A educação em Cabo Verde: um outro olhar” (2019) e vários artigos sobre cultura, cidadania e a luta independentista cabo-verdiana.

A sessão de lançamento do livro que tem a égide da Rosa de Porcelana Editora está agendada para as 18:00. In “Inforpress” – Cabo Verde


Cabo Verde - Freirianas Guerreiras lançam Videoclipe “Família é ku Família”

Freirianas Guerreiras Lançam Novo Videoclipe “Família é ku Família”



O grupo de batuco Freirianas Guerreiras acaba de lançar o videoclipe da sua nova música “Família é ku Família”, uma celebração das raízes, união e força dos laços familiares.

Com produção musical assinada por Lejemea, a letra poderosa é de autoria das próprias Freirianas Guerreiras. A mixagem e masterização ficaram a cargo de Carlos Juvandes (J. Studio).

No lado visual, a direção e edição foram conduzidas por C.A PIX (Claúdio Andrade), trazendo imagens que capturam a essência da mensagem da música.

“Família é ku Família” reforça a identidade do batuco cabo-verdiano, exaltando os valores da tradição, união e força das mulheres que usam a música como forma de resistência e expressão cultural. In “Dexam Sabi” – Cabo Verde


Cabo Verde - Garry lança "À Deriva", novo tema do álbum "100%Mi"

Garry, renomado artista cabo-verdiano, lançou recentemente "À Deriva", uma das faixas do seu novo álbum "100%Mi". A música, composta e interpretada pelo próprio Garry, conta com a produção musical de Katiff C’est La Vibe e foi gravada no Jstudio, sob a mixagem e masterização de Carlos Juvandes. O videoclipe, produzido pela PrismaVideos, já está disponível no canal oficial de Garry no YouTube.

"À Deriva" reflete a essência do álbum "100%Mi", evidenciando a versatilidade e profundidade artística de Garry. A colaboração com profissionais como Katiff e Carlos Juvandes enriquece ainda mais a qualidade sonora da faixa. O videoclipe, dirigido pela PrismaVideos, complementa a música com visuais que capturam a atmosfera e a mensagem da canção. In “Dexam Sabi” – Cabo Verde


sexta-feira, 7 de março de 2025

China - Sugerida criação de uma base logística sino-lusófona ao Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês

O reforço da ligação comercial entre Macau e os países lusófonos está entre as propostas submetidas pelos membros de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. O empresário Francisco Ho Ka Lon propôs a construção de um centro logístico sino-lusófono em Hengqin para alargar a troca comercial entre o território, o interior da China e os países de língua portuguesa



As autoridades de Macau devem estudar a criação de uma base logística internacional sino-portuguesa em Hengqin, de forma a expandir a escala de importação e exportação de mercadorias a granel entre a região, o interior da China e os países de língua portuguesa, defende Francisco Ho Ka Lon numa proposta remetida ao Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC).

O representante de Macau no referido órgão consultivo político do Governo chinês argumentou que, para transformar a Ilha da Montanha num centro de comércio sino-português, deve utilizar-se bem o papel de Macau como ponte de ligação com o mundo lusófono. “Macau pode aproveitar a construção da base logística sino-portuguesa em Hengqin e expandir a escala de importação e exportação de mercadorias a granel, incluindo componentes electrónicos, aviões, automóveis e bens de gama média e alta”, defendeu.

Francisco Ho, desse modo, sublinhou que Macau pode assim planear a construção de uma série de bases de importação, bem como de locais de supervisão designados para a importação, com o objectivo de “promover o desenvolvimento de alta qualidade das indústrias locais relevantes em termos de produção, transformação e comércio”.

No documento, segundo o empresário, os dados indicam que, em 2023, as importações de Macau de produtos alimentares dos países lusófonos atingiram o valor de cerca de 1,25 mil milhões de patacas, o que representa mais de 87% do valor total das importações por parte da região. Os três tipos de produtos alimentares com valor de importação mais elevado foram, por ordem, magnésio, carne de porco congelada e carne de vaca congelada.

Já as exportações de Macau para os países de língua portuguesa, segundo o responsável, consistiram principalmente em produtos médicos e químicos orgânicos, automóveis e material impresso. “Sendo assim, a construção de um centro de comércio e distribuição dos produtos e alimentos pode apoiar eficazmente o desenvolvimento inovador do comércio de transformação, incentivando o alargamento do negócio da cadeia industrial”, frisou o empresário.

Por sua vez, Leonel Alves e Chen Ji Min sugeriram a criação de um parque universitário em Hengqin para acolher todas as instituições universitárias de Macau. Os dois membros da CCPPC lembraram que o planeamento de terrenos da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin prevê a reserva de uma parcela de 1,2 quilómetros quadrados para um campus universitário. Indicaram que o espaço “pode ser utilizado para permitir que as universidades de Macau funcionem de forma independente neste recinto e partilhem recursos como edifícios académicos, campos desportivos, bibliotecas e cantinas”.

Leonel Alves e Chen Ji Min pretendem estabelecer um centro regional para o desenvolvimento integrado do ensino internacional da ciência e tecnologia e dos recursos humanos. A ambição revelada na proposta de ambos inclui ainda construções de laboratórios de investigação científica e tecnologia a nível nacional.

Ding Xuexiang quer aumentar a confiança da população de Macau

Ding Xuexiang, vice-primeiro-ministro, disse esperar que a confiança da população de Macau no futuro possa ser aumentada depois de se compreenderem as principais políticas do país e as oportunidades de desenvolvimento. Neste caso, o político pediu aos membros de Macau na CCPPC que aprendam e reforcem a divulgação do “importante espírito” das “duas sessões” junto ao público da RAEM.

A declaração de Ding Xuexiang foi dada num encontro realizado ontem com os representantes de Macau da CCPPC. Em declarações à Rádio Macau em língua chinesa, Ho Ion Sang disse que Ding Xuexiang deu grande importância ao crescimento económico do território. Segundo o responsável, o vice-primeiro-ministro espera ainda que os membros de Macau na CCPPC apoiem plenamente o novo Governo e “visitem mais frequentemente a comunidade para conhecerem as necessidades da população, e reforcem os intercâmbios e a cooperação internacionais”, salientou.

Na mesma ocasião, Edmund Ho, vice-presidente da CCPPC, salientou que a visita de Ding Xuexiang aos membros de Macau “reflecte a afectuosa atenção” à região. Além disso, elogiou o relatório de trabalho do Comité Nacional da CCPPC, descrevendo-o como um relatório “pragmático e orientador” e que “reforça a confiança e inspira o moral das pessoas”. O antigo Chefe do Executivo, que presidiu à reunião conjunta dos delegados de Hong Kong e de Macau na CCPPC, revelou que o encontro concentrou-se na promoção da integração nacional acelerada de Hong Kong e Macau. Catarina Chan – Macau in “Ponto Final”


Portugal - Violas brasileiras e portuguesas protagonistas em concerto de Fernando Deghi na cidade de Castelo Branco

Repertório do compositor e instrumentista brasileiro envolveu diversas afinações da viola caipira brasileira, numa conjugação com o mesmo instrumento na sua vertente portuguesa



Fernando Deghi, prestigiado instrumentista, professor, compositor, arranjador e pesquisador brasileiro, com raízes em Portugal, apresentou-se no Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB) na região Centro de Portugal.

Durante o concerto intitulado “Geografias”, este músico, nascido em Santo André, no estado de São Paulo, em 1962, mostrou o seu talento formado sob várias influências musicais, tendo como protagonistas as violas brasileiras e também um repertório com as suas composições originais para violas portuguesas.

Deghi levou ao público toda a experiência musical e formação adquirida como professor, com o pai e os bisavós, numa viagem sonora aproximando culturas musicais como a espanhola, a brasileira e a celebração da musicalidade luso-brasileira e a universalidade da viola.

É característico do artista a experimentação e o aprendizado de formas diferentes de execução. Durante o concerto, o público pôde ainda ouvir “diversas afinações da viola caipira brasileira, como o Cebolão, Rio Abaixo, Paraguaçu, Rio Acima”.

Segundo apurámos, Deghi revelou “as nuances e as riquezas sonoras que cada afinação proporciona” por meio das suas próprias composições, “criadas para as afinações das violas tradicionais portuguesas, como a beiroa, campaniça, braguesa e açoriana”.

“Cada música é intercalada por “contos e causos que permeiam o universo místico dos violeiros”, revelou o artista.

A organização do concerto ressaltou que, durante o momento do BIS, houve duas “grandes surpresas: guitarra portuguesa e viola braguesa”, com a presença de convidados “especialíssimos”.

O auditório de 275 lugares, integrado num edifício arquitetado pelo catalão Josep Lluis Mateo e pelo português Carlos Reis de Figueiredo, proporcionou ao público a audição de todas as nuances sonoras criadas pelo instrumentista, porque o sistema acústico, de autoria do catalão Higini Arau, foi elaborado sem depender dos “sistemas de amplificação”.

Fernando Deghi conta com vasta experiência musical internacional

De formação erudita, Fernando Deghi desenvolve o seu trabalho em torno da composição, recuperação, divulgação e ensino de viola brasileira, de dez cordas e caipira, desde 1989. Iniciou os seus estudos na área musical em 1975, sendo grande parte desta trajetória dedicados a estudos intensos na prática violonística e inúmeros concertos individuais e duo. As suas composições exploram as possibilidades deste instrumento.

Deghi é o autor dos livros “Viola brasileira e suas possibilidades” (2001), “Ensaios para Viola Brasileira” (2003), “Iniciação a Arte da Viola Brasileira” (2007), “Navegares” (2011), e “Ensino à Distância de Viola”.

Possui três CD’s gravados: “Violeiro Andante” (2000), “Brasil Violado” (2004) e “Navegares”, lançado em junho de 2011. Deghi está, ainda, presente na coletânea “Veredas da Atlântida – uma caminhada simbólica”, lançado na Ilha Madeira em 2005, e no CD “Navegantes Lisboa”, em 2007. Interpretou sinfonia 40 de Mozart no CD “Viola em Concerto”, de 2011, onde foram reunidos os ícones da viola brasileira.

Apresentou-se em centros musicais de renome em São Paulo e em diversos estados brasileiros, além de cidades portuguesas em 2003, 2004, 2005, 2007, 2012, incluindo Lisboa, Coimbra, Évora, Seixal, Castro Verde, Ilha da Madeira (Festivais-Raízes do Atlântico, Machico, Ribeira Brava), Músicas do Mundo, e participação em vários trabalhos como arranjador e compositor.

Em 2005, participou no ano do Brasil na França no “Festival D’Ille de France” a convite de produção francesa. Em 2012, atuou no ano do Brasil na Colômbia. Tem ainda passagens pela Alemanha, Espanha, Itália e Argentina.

Participou como ator e músico na telenovela brasileira “Escrava Isaura” exibida pala Rede Record em 2003, 2004, 2005, sendo reapresentada em edição especial em 2007.

Para a novela “Bicho do Mato”, também na Rede Record, a sua participação foi como compositor, tendo três obras da sua autoria na banda sonora da novela: “Cavalgada”, “Sertão do Canto”, “Riacho” e “Doce”. Além da área musical, é formado em cinema.

Foi curador e diretor-geral do “INSTRUMENTA VIOLA”, na sua segunda edição. Ígor Lopes – Brasil in “Mundo Lusíada”


São Tomé e Príncipe - Gana no caminho da diplomacia económica do país

O governo santomense já começou a atrair o investimento privado do Gana. A abertura do GTI Bank na cidade de São Tomé, antecedida pelo lançamento da plataforma de transferência digital de valores SAO, comprovam o interesse de homens de negócios do país vizinho, o Gana, em investir no arquipélago do golfo da Guiné.

O sector do turismo também tem registado um aumento significativo de turistas do Gana e de outros países da região da África Ocidental.

Américo Ramos primeiro – ministro e Chefe do Governo está desde quarta-feira de visita ao Gana, para segundo as suas palavras abrir caminhos para inaugurar a cooperação bilateral com o país vizinho.

Grande produtor de cacau, o Gana criou uma extensa rede de produção e distribuição de produtos agrícolas. Recentemente, quadros técnicos ganenses começaram a dar formação aos agricultores santomenses no domínio da produção do coco, outro produto agrícola que o país vizinho exporta para o mundo.

«Já temos investimento do Gana no sector bancário e acho que há condições para podermos avançar para outras áreas em que o Gana tem muita experiência e está disponível para cooperar com São Tomé e Príncipe», afirmou o primeiro-ministro.

Em 2021 os dois países assinaram o acordo de livre circulação de pessoas e de mercadorias, para fomentar as trocas comerciais e o investimento privado. Antes, no ano 2015, Gana ofertou e instalou no aeroporto internacional de São Tomé e Príncipe o primeiro sistema de RX para fiscalização das bagagens.

Depois do Gana, Américo Ramos que viajou no voo da Transportadora Aérea Portuguesa, deverá seguir para Portugal, onde na segunda-feira 10 de março inicia uma visita de trabalho. O Chefe do Governo santomense disse aos jornalistas que vai reunir-se com o seu homólogo de Portugal Luís Montenegro, para acelerar as acções de cooperação bilateral.

Educação, saúde e defesa são, segundo o Primeiro-ministro, as áreas em que a cooperação bilateral com Portugal é mais forte. Abel Veiga – São Tomé e Príncipe in “Téla Nón”


“Iberê Camargo: um homem valente”, romance-pintura

A escritora Nilma Lacerda inova na biografia romanceada, 

“fricção”entre arte e fatos, do pintor brasileiro


Na entrevista-diálogo com Iberê Camargo (1914-1994), publicada na revista Manchete em janeiro de 1969, incluída no livro Entrevistas (org. de Claire Williams, Rocco, 2007), Clarice Lispector (1920-1977) perguntou ao pintor qual o processo criador de um pintor versus o processo criador de um escritor. A resposta do artista foi simples, cristalina, tranquila: “Suponho, Clarice, que a diferença que existe esteja apenas na diferença de elementos. O pintor usa cor, a tinta, a linha. O escritor usa a frase. Mas o impulso criador deve ser o mesmo. O que você acha? Que é de natureza diversa?”. Clarice concordou com Iberê: “Acho que não: a fonte é a mesma”. 

Em seguida ela disse ter ficado “impressionada com Lúcio Cardoso [1912-1968] que, depois da doença [um AVC paralisou seu lado direito], não conseguia escrever nem falar, mas pintava com a mão esquerda. Perguntei a um médico por que ele não escrevia com a mão esquerda. O médico explicou-me, se é que entendi bem, que no cérebro existe uma parte de onde sai a escritura, e outra de onde sai a pintura”.

Iberê, então, perguntou e respondeu: “Mas ele pintava como escrevia? Não. Pintar é um artesanato, é saber usar os instrumentos. Assim como o escritor luta por criar com a palavra. Não há um caso de um pintor que tenha feito uma obra definitiva na primeira tentativa. Na literatura há?”. Resposta de Clarice: “Não sei, mas talvez Rimbaud”. Mais adiante, a escritora perguntou: “Qual o conselho que você daria aos novos pintores?”. A resposta seguiu a da outra pergunta: “Não se persuadirem de que inventaram a pintura. E você, que conselho daria a novos escritores?”. Clarice: “Trabalhar, trabalhar e trabalhar”. 

Essa introdução de três parágrafos é para começar a tratar de um romance precioso, Iberê Camargo: um homem valente, mescla de pintura e texto, ou texto feito pintura, fruto de longo, paciente e árduo trabalho de uma grande e experiente escritora, Nilma Lacerda (1948, Rio, onde vive), autora de obra consistente e bonita várias vezes premiada, doutora em Letras, professora aposentada na Universidade Federal Fluminense. A editora Mínimo Múltiplo, de Porto Alegre, publicou Um homem valente em 2022, mas nunca é tarde para resenhar um grande livro. A avalanche de publicações dos últimos anos no Brasil, nem sempre de qualidade, tem deixado esquecidas obras raras, valiosas, que não brotam do cotidiano imediato nem abordam (ou abortam) temas do momento, livros quase sempre com linguagem trivial, sem apuro literário, pouco mais do que o estilo apressado do jornalismo. 

O trabalho de Nilma Lacerda é de outra natureza. Ela produz arte. A escritora pintou o livro, lapidada prosa poética. A alma e a obra do pintor flutuam ali, vivas, transfiguradas, um deleite para o leitor. Nilma não teve o privilégio de se encontrar com Iberê Camargo em vida. No entanto, o conheceu a fundo. Visitou e conversou longamente com a viúva dele, Maria Coussirat Camargo (1915-2014), considerada pelo curador e crítico de arte Paulo Herkenhoff (1949) “sombra e luz”, “esteio seguro e sereno” do marido. Nilma Lacerda contou com a bolsa Vitae de Arte em Literatura, concedida em 1998, para conceber Um homem valente. Leu o que de melhor havia sobre ele, pesquisou profundamente sua vida e obra. Mas não se ateve a fatos para escrever o livro. Foi audaciosa, como em todos seus textos. Há muita imaginação, criação, na “fricção” entre arte e vida no romance, que deve ter surpreendido e talvez incomodado muita gente apreciadora de biografias tradicionais. Foi uma mulher valente e talentosa que escreveu e reescreveu, sem pressa, mesmo após o fim da bolsa, esse belo livro desde a capa, pintura de Theo Felizzola com base em fotos de Iberê Camargo feitas por Luiz Eduardo Achutti. 

A exemplo do pintor, tão original que não tinha filiação definida com alguma corrente estética, Nilma Lacerda é uma escritora inovadora, cada livro seu tem linguagem e estrutura diferentes. Ela captou e transformou em alta literatura a personalidade inquieta do pintor e de suas telas que “assustam e encantam”, como diz Ronaldo Brito em Iberê Camargo (DBA, Dórea  Books and Art, 1994). Da mesma forma, as páginas de Nilma Lacerda encantam e assustam. No livro dividido em 14 capítulos, como a Via-Sacra, e um 15º extra, além do pintor transitam outros personagens fortes (Euclédio, Goretti, Jimena, Luigi, Silveira etc.) que gravitam em torno de Iberê, recriação de pessoas reais ou da imaginação da escritora, em situações-limite, angustiantes, outras de plenitude. 

O resultado é de uma beleza prodigiosa, pura literatura, forte, original, encantadora, por vezes bem-humorada. “O vermelho ruge, dizia Lhote. Ríamos sempre com esse trocadilho do mestre. O vermelho é uma língua da pimenta beijando o olho, dizia Matisse. Para Matisse toda cor era o corpo da amante, o preto era para ele o maior dos luxos, cheio de todas as cores dentro, cheio de vermelho, mais que tudo. O vermelho.” Aulas de pintura e arte. Quadros fulgurantes flutuam nas páginas de Um homem valente, tal “um Manifesto do romance pós-moderno”, nas palavras de Silviano Santiago nas orelhas da obra. 

O prefácio é da cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que conheceu o pintor e, num êxtase ao ver o carnaval na Marquês de Sapucaí, pensou em Iberê Camargo, “na coisa viva, gestual, urgente, da pintura dele”; e o posfácio (“Apêndice: Iberê, independente”), do editor Lucas Colombo, que relatou episódios marcantes da vida do pintor. “Feito outro grande artista brasileiro que contrariou o senso comum, Machado de Assis, Iberê atingiu o ápice na maturidade”, escreveu Colombo. “E isso se deu com uma nova mudança de rumo [na volta de um período na Itália, tinha deixado o figurativismo e passado a adotar o abstracionismo], talvez potencializada por uma tragédia pessoal. Em 1980, no Rio, ele, que então andava armado, matou um homem ao intervir numa briga de rua. Absolvido no julgamento, retornou a Porto Alegre – e à figuração.” E em tons mais sombrios. O livro traz QR codes de quadros dele, a tecnologia a serviço da arte.

O romance de “fricção” de Nilma Lacerda abre a coleção Tipos Raros da editora Mínimo Múltiplo, que promete obras sobre o cineasta Walter Hugo Khouri (1929-2003), o jornalista Daniel Piza (1970-2011) e o romancista Osman Lins (1924-1978), “figuras incomuns no cenário cultural brasileiro: artistas e intelectuais [...] de espíritos livres”. A exemplo de Iberê Camargo e Nilma Lacerda. Hugo Almeida – Brasil

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Iberê Camargo: Um homem valente, de Nilma Lacerda. Porto Alegre: Mínimo Múltiplo, 2022; 192 páginas, R$ 49,50. https://www.minimomultiplo.com/

Livro disponível na Amazon: https://www.amazon.com.br/Iber%C3%AA-Camargo-Um-homem-valente/dp/6599856004

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Hugo Almeida (1952), jornalista e escritor mineiro residente em São Paulo, doutor em Literatura Brasileira pela USP, é autor de 16 livros, entre eles o romance Vale das ameixas e o ensaio livre A voz dos sinos, sobre o sagrado, a mulher e o amor na obra de Osman Lins, ambos publicados em 2024 pela Sinete. Site do autor: https://hugoalmeidaescritor.com.br


quinta-feira, 6 de março de 2025

Internacional - Universidade de Coimbra é a única instituição portuguesa na final de competição mundial de computação quântica

A Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra (FCTUC) foi selecionada para integrar um grupo restrito de 15 projetos inovadores a nível mundial no âmbito do Quantum Challenge da Pasqal. Este feito posiciona a UC como a única instituição portuguesa a garantir um lugar na final deste concurso, que contou com a participação de 150 equipas provenientes de 70 países diferentes.



A equipa da FCTUC em competição é composta por Ana Morgado, Gabriel Falcão, Jorge Lobo, Óscar Ferraz (Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores), Sagar Pratapsi (Departamento de Física) e Nuno Batista (Departamento de Engenharia Informática). 

O projeto da equipa da FCTUC centra-se no desenvolvimento de novos algoritmos de Inteligência Artificial (IA) que exploram o poder da computação quântica para resolver problemas complexos de imagiologia médica. O projeto foca-se no rastreio e prevenção de doenças do foro gastrointestinal, nomeadamente o cancro gastrointestinal, uma área em que a capacidade de processar grandes volumes de dados com rapidez e precisão pode fazer toda a diferença.

A Pasqal, uma empresa com origem em França, que desenvolve computadores quânticos com base em tecnologia de neutral atoms, promove regularmente este tipo de desafios, estimulando a inovação e o progresso da computação quântica. O acesso privilegiado aos recursos da Pasqal, garantido por esta distinção, permite à equipa portuguesa a experiência única de beneficiar de formação exclusiva em tecnologias emergentes, ainda pouco exploradas, oferecendo assim uma vantagem competitiva significativa a nível internacional.

«O facto de termos sido selecionados é extraordinário. Teremos acesso a um produto de nicho, que ainda não está amplamente divulgado, e isso coloca-nos numa posição privilegiada para propor soluções inovadoras para os problemas que pretendemos resolver», destacou Gabriel Falcão, professor do DEEC e líder do projeto.

Para além do impacto científico e tecnológico, este projeto está também alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, neste caso o ODS 3, que procura garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades, reforçando o compromisso da UC com a inovação responsável e a criação de soluções que beneficiam a sociedade global.

«Este reconhecimento internacional sublinha o papel de destaque que a UC está a assumir na vanguarda da computação quântica aplicada à saúde, mostrando que a investigação portuguesa tem potencial para competir e liderar a nível mundial», conclui a equipa. Universidade de Coimbra - Portugal


Macau - Festival Literário leva poesia ao Porto Interior entre os dias 21 e 30 de Março

A 14.ª edição do Rota das Letras – Festival Literário de Macau vai acontecer entre os dias 21 e 30 de Março. O festival regressa este ano à zona da Barra e volta a ter como tema principal a poesia. Os 50 anos do fim da guerra colonial e os 100 anos da publicação de Lin-Tchi-Fá, Flor de Lótus, também vão estar em foco. Lisbon Poetry Orchestra, Xana, Xu Jinjin, Valério Romão e António Costa Silva, entre outros, vão estar presentes



O 14.º Rota das Letras – Festival Literário de Macau vai acontecer entre os dias 21 e 30 de Março, anunciou a organização. Nesta edição, o evento volta à zona da Barra e terá como tema a poesia, como aconteceu em 2019.

A programação do festival conta com duas dezenas de palestras, três exposições, um ciclo de cinema, um concerto, visitas a escolas e oficinas de fotografia e de escrita criativa. A programação detalhada será divulgada em breve pela organização.

A habitual parte musical, que acontece no dia 29 de Março, vai estar a cargo da Lisbon Poetry Orchestra, que faz a sua estreia em Macau. A banda vai apresentar um espectáculo intitulado “Os Surrealistas”, trazendo como convidada especial Xana, a vocalista dos Rádio Macau. Os Poetry & Music, do antigo responsável pela organização do Festival Literário de Pequim, Anthony Tao, farão a primeira parte do concerto, com uma actuação que terá como tema “O Mito da Escrita”.

Uma vez que o ponto focal desta edição é a poesia, o Rota das Letras traz a Macau vários poetas chineses, como por exemplo Xu Jinjin, artista interdisciplinar que divide o seu tempo entre Xangai e Nova Iorque, expondo os seus trabalhos com regularidade em museus de ambas as cidades. Xu Jinjin foi recentemente premiada pela Sociedade Americana de Poesia. A Xu Jinjin juntam-se, entre outros poetas, Valério Romão, de Portugal, Zang Di e Jia Wei, de Pequim, Chan Ka Long e Wang Shanshan, de Macau. As récitas de poesia, apresentações de novos livros, palestras e workshops vão decorrer no edifício do Antigo Matadouro Municipal.

A ocasião vai servir para assinalar o 100.º aniversário da publicação de Lin-Tchi-Fá, Flor de Lótus, um livro de poemas de Maria Anna Acciaioli Tamagnini. No festival, serão lançadas traduções inéditas da obra para chinês e inglês.

O Rota das Letras também vai assinalar os 50 anos do fim da guerra colonial e da independência dos Países Africanos de Língua Portuguesa através de uma exposição do fotojornalista português Alfredo Cunha, que fez a cobertura desses acontecimentos históricos. Além disso, o realizador Luís Filipe Rocha, que adaptou para o cinema o romance “O Teu Rosto Será o Último”, de João Ricardo Pedro e que também aborda o tema da descolonização, regressa a Macau, depois de, no final da década de 1980 ter dirigido no território a programação da TDM e filmado “Amor e Dedinhos de Pé”, uma adaptação do romance de Henrique de Senna Fernandes.

Ainda dentro da temática da descolonização, virá a Macau António Costa Silva, escritor, poeta, ensaísta e antigo ministro português da Economia e do Mar. António Costa Silva vai apresentar no território o romance “Desconseguiram Angola”, sobre um período vivido há já meio século, “quando no meio de uma guerra fratricida se procurava construir a nação angolana”.

Chen Jiming, vice-presidente da Associação de Escritores de Guangdong, também vai estar presente. Ao longo da sua carreira tem coleccionado distinções literárias, incluindo o Prémio Anual da Literatura Chinesa para o Melhor Novelista, o Prémio Literário do Povo e o China Good Book Award, entre outros. “Cidade dos Sete Passos” e “Monólogo em Voz Alta” são dois dos romances mais premiados do autor.

Vão também fazer parte desta edição do Rota das Letras autores de língua inglesa. O escritor britânico Paul French traz ao festival os seus dois últimos trabalhos: “Her Lotus Year”, biografia de Wallis Spencer, “Duquesa de Winsor”, sobre o período que viveu na China durante os anos 20 do século passado; e “Destination Macao”, uma colecção de histórias sobre algumas das mais fascinantes figuras do território dos séculos XIX e XX. Tony Banham, de Hong Kong, apresenta o resultado da sua investigação sobre o afundamento do navio Lisbon Maru. Thomas DuBois, autor sediado em Pequim, dá a conhecer a China em “Sete Banquetes”, um estudo profundo da história da gastronomia chinesa.

Os livros para os mais novos serão levados às escolas por Chen Shige, o primeiro escritor pós-anos 80 a ganhar a mais alta distinção da literatura infantil na China, e por André Letria, ilustrador e editor português que tem já várias das suas obras publicadas em língua chinesa. Sophia Hotung, ilustradora de Hong Kong, vem ao festival partilhar a sua arte com o público de Macau.

Na véspera da abertura do festival, Wang Zhengping, considerado um dos grandes mestres da fotografia chinesa, inaugura na Galeria do Tap Seac, a exposição “O Vento Sopra na Pradaria”, um olhar poético sobre os campos de pastagens da Mongólia Interior e quem os habita. Rao Yongxia, discípula de Wang, seguiu-lhe os passos e mostra o seu trabalho dias mais tarde, na Galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia.

O evento, organizado pela Sociedade de Artes e Letras e pela Praiagrande Edições, é patrocinado pela MGM Macau, contando também com o apoio do Fundo de Desenvolvimento da Cultura e de outras entidades. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


Adelto Gonçalves – vida e obra de um autor santista

Percurso de uma paixão pelas letras

Trabalho de conclusão de curso mostrou a trajetória do jornalista e escritor Adelto Gonçalves

Há 20 anos, ao final de 2004, os alunos José Djacy Campos Freire e Elaine Cristina da Cunha defenderam, na Faculdade de Comunicação e Artes do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), atual Universidade São Judas-campus Unimonte, de Santos, o trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado Adelto Gonçalves – vida e obra de um autor santista. O TCC, que contou com a orientação da professora doutora Fátima de Azevedo Francisco, é uma grande reportagem que procura mostrar a trajetória até então do jornalista, professor e escritor Adelto Gonçalves (1951), autor de obras publicadas no Brasil e em Portugal.  

“Ao registrar o seu percurso literário, buscamos tornar mais conhecida a história de um homem apaixonado pelas letras, que dedica sua vida à literatura e às pesquisas, através das quais elucidou fatos históricos”, observam os jornalistas à abertura do trabalho, lembrando que, nascido no Paquetá, bairro degradado do beira-cais de Santos e filho de família de poucos recursos, Adelto Gonçalves é um exemplo para as novas gerações, pois, “com muito trabalho e dedicação aos estudos, fez uma carreira brilhante, tornando-se renomado escritor, reconhecido pela casta intelectual de países de línguas portuguesa e espanhola”.

Ao tomar conhecimento desta nota, Djacy Campos, que hoje vive em Portugal, disse que sempre lembrará “o quão prazeroso foi poder registrar referências sobre este grande autor brasileiro, que deixou uma impressão maravilhosa em nossas vidas, com seus ensinamentos e experiências relatadas com tanta riqueza de detalhes”. Para ele, “tudo o que o nosso querido professor faz tem uma maestria histórica cheia de profundo senso de pesquisa e conhecimento”.  Ressaltou ainda que a forma de comunicação relatada em suas obras mostra exatamente o que um texto cheio de detalhes necessita para ser exposto. “Será sempre uma honra poder dizer que fiz parte da história de um grande ser humano brilhante, que é o professor Adelto”, acrescentou.

O trabalho acadêmico registra o percurso do autor desde a sua estreia com o livro de contos Mariela Morta (Ourinhos, Editora Complemento, 1977), que foi seguido pelo romance Os Vira-latas da Madrugada, publicado em 1981 pela Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro, depois de obter em 1980 menção honrosa no Concurso Nacional José Lins do Rego. Trata-se de um trabalho que é considerado a primeira obra que apresenta como pano de fundo a ditadura militar (1964-1985) e suas arbitrariedades cometidas no porto de Santos. 

Este romance, por coincidência, foi lançado na sede da editora, em 30 de abril de 1981, noite em que ocorreu o atentado do RioCentro, causado pela explosão antes da hora de uma bomba no colo de um terrorista de direita. Em função do clima de repressão que se seguiu, a editora preferiu arrancar dos exemplares o prefácio em que o jornalista Marcos Faerman (1943-1999) dizia que este romance de “sons delicados e histórias tristes” não iria “agradar àqueles que venceram em 1964”. Em 2015, sairia a segunda edição deste romance pela editora LetraSelvagem, de Taubaté, com o prefácio censurado em 1981 e posfácio de Maria Angélica Guimarães Lopes, professora emérita da South Carolina University, dos Estados Unidos.

Mestre e doutor em Letras

Adelto Gonçalves é mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana (1992), com trabalho sobre a obra do escritor espanhol Eduardo Mendoza, e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa (1997), com estudo sobre a vida e a obra do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), ambos títulos concedidos pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1997, publicou Fernando Pessoa: a Voz de Deus, pela Editora da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos, obra que reúne artigos e ensaios sobre o poeta português (1888-1935). Em 1999, saiu pela Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, Gonzaga, um Poeta do Iluminismo, sua tese de doutoramento, com prefácio do poeta, memorialista, ensaísta e diplomata Alberto da Costa e Silva (1931-2023), ex-presidente da Academia Brasileira de Letras. 

Em 1986, publicou o ensaio “O ideal político de Fernando Pessoa” no livro Estudos sobre Fernando Pessoa, da Fundação Cultural Brasil-Portugal, trabalho premiado em concurso promovido por aquela entidade. Em 1999, em Lisboa, pela editora Nova Arrancada, publicou o romance Barcelona Brasileira, que trata da influência anarquista no porto de Santos entre 1917 e 1922, obra que sairia no Brasil em 2002 pela Publisher Brasil, de São Paulo, com prefácio do professor doutor Massaud Moisés (1928-2018) e texto de apresentação do embaixador Dário Moreira de Castro Alves (1927-2010). 

Em 2003, publicou pela Editorial Caminho, de Lisboa, a biografia Bocage – o Perfil Perdido, com prefácio de Fernando Cristóvão, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, trabalho que desenvolveu com bolsa de pós-doutoramento da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), que lhe permitiu pesquisar em arquivos portugueses em 1999-2000. A edição brasileira saiu em 2021 pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp).

Nos últimos 20 anos, o autor continuou o seu trabalho de pesquisa e publicou o estudo biográfico-crítico Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imesp, 2012), Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797 (Imesp, 2019), que teve prefácio do brazilianist inglês Kenneth Maxwell e texto de apresentação do professor doutor Carlos Guilherme Mota (USP).

Prêmios e reconhecimento

Em 2006 e 2007, escreveu prefácios para dois livros de contos de Machado de Assis (1839-1908) que foram publicados em edição bilingue russo-portuguesa pelo Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou. Como articulista e ensaísta, mantém intensa atividade na imprensa e em publicações digitais do Brasil, Portugal, Moçambique e Angola, além de escrever prefácios para obras de vários autores brasileiros, portugueses e de países lusófonos. 

Esse trabalho de resenhista e ensaísta lhe rendeu os prêmios Assis Chateaubriand (1987) e Aníbal Freire (1994), ambos da Academia Brasileira de Letras. Recentemente, teve esse trabalho também reconhecido pela dramaturga, poeta e ensaísta portuguesa Maria Estela Guedes que criou um Tributo a Adelto Gonçalves na revista digital Triplov, de Portugal.

Em 2010, publicou o ensaio “Ambiguità e ossimoro: simboli dell´universo e del mistero in Fernando Pessoa” no livro Studi su Fernando Pessoa (Perugia, Itália, Edizioni dell ´Urogallo). É autor do ensaio “O feminismo negro de Paulina Chiziane”, publicado no livro Passagens para o Índico: encontros brasileiros com a literatura moçambicana, de Rita Chaves e Tania Macêdo (Maputo, Marimbique Conteúdos e Publicações, 2012) e em Dicionário de Personagens da Obra de Paulina Chiziane, de Salma Ferraz, Patrícia Leonor Martins e Márcia Mendonça Alves Vieira (São Paulo, Todas as Musas, 2019).

Por último, escreveu prefácio para o livro Kenneth Maxwell on Global Trends, publicado em 2023 por Robbin Laird, editor, na Inglaterra, com artigos e ensaios do professor doutor Kenneth Maxwell, professor visitante da Harvard University, de Cambridge/Massachusetts, Estados Unidos, desde 2004.

Professor, jornalista e conferencista

Adelto Gonçalves foi professor na Universidade Santa Cecília, Universidade São Judas-campus Unimonte, Universidade Paulista (Unip), em Santos, e no Centro Universitário Amparense (Unifia), em Amparo. Em julho de 2011, fez palestra sobre sua obra no Centro Lusófono Camões, da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, para alunos russos que estudavam a língua portuguesa, a convite do professor Vadim Kopyl (1940-2023), diretor da instituição. 

Na segunda semana de julho de 2019, em Quito, a convite do então embaixador do Brasil no Equador, o escritor João Almino, fez palestras sobre as obras de Fernando Pessoa, Tomás Antônio Gonzaga e Manuel Maria du Bocage (1765-1805) para alunos do Instituto Brasileiro-Equatoriano de Cultura (Ibec) e no Centro Cultural Benjamin Carrión. 

Formado em Jornalismo em 1974 pela Faculdade de Comunicação (Facos) da Universidade Católica de Santos (Unisantos), trabalhou nos jornais Cidade de Santos, A Tribuna, de Santos, O Estado de S. Paulo, Folha da Tarde e revista Placar (Editora Abril). Foi correspondente da revista Época (Editora Globo) em Lisboa, em 1999-2000. Conquistou o Prêmio SBS de Jornalismo de 1974, ao lado dos jornalistas Ouhydes Fonseca (1940-2022) e Carlos Manente (1944-1999), com a reportagem “Santos, a opção do turismo”, publicada no jornal A Tribuna, nos dias 3, 4, 5, 6 e 7 de fevereiro de 1974.

É colaborador assíduo dos impressos Jornal Opção, de Goiânia, e As Artes Entre as Letras, do Porto, e dos sites Baía da Lusofonia, DasCulturas e Revista Triplov, de Portugal, e colunista da VuJonga, revista digital editada em Lisboa e dirigida aos povos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), entre outras publicações. 


Europa decide pelo rearmamento diante da ameaça russa

Imitando de certa forma, o discurso de Churchill de maio de 1940, Emmanuel Macron falou em ameaça russa, necessidade de reformas e de uma nova era, no seu discurso no meio da semana, de quinze minutos, pela televisão. Trump foi mais prolixo no seu discurso diante do Congresso, que se prolongou por duas horas.

Enquanto o presidente estadunidense Donald Trump provoca a união dos países europeus com a suspensão de ajuda na luta da Ucrânia contra a progressão da invasão russa, os 22 países da Liga Árabe estiveram reunidos no Cairo para fazer frente à transformação de Gaza numa Riviera do Oriente Médio.

A primeira impressão para quem vê o noticiário na tevê francesa com o discurso do presidente Macron, depois do discurso de Trump, em Washington, é de um estranho clima de pré-guerra, no qual se fala em se defender o território europeu com um aumento nas despesas de um rearmamento de urgência.

Essa impressão se reforça, com a chegada da notícia de um maciço rearmamento da Alemanha, comunicado pelo futuro chanceler Friedrich Merz, e a convocação de todos os países europeus sob a liderança da Inglaterra, França e Alemanha para se prepararem à proteção da Ucrânia, no caso de um acordo de paz. Inclusive com o envio de tropas, destinadas não ao combate mas a vigiar o cumprimento pela Rússia do esperado acordo de paz.

Tudo muito estranho porque a inesperada e incompreensível aproximação dos Estados Unidos de Trump com a Rússia de Putin, deixou os países europeus sem a costumeira proteção dos Estados Unidos. Embora Trump pareça confiar no russo Putin, os europeus demonstram desconfiança com base em experiências de compromissos não respeitados pelos russos.

O problema é o custo que representará todo esse rearmamento defensivo. Mas como acentua o alemão Merz, prestes a ser confirmado como novo chanceler, "custe o que custe" deverão ser feitos esses investimentos maciços na defesa da Alemanha, mesmo que as contas fiquem deficitárias.

Em síntese, a Europa passou a sofrer de russofobia, medo do urso russo, tão logo Donald Trump declarou retirar sua proteção à Ucrânia.

Enquanto isso, os países árabes procuram contornar a ameaça de Trump, esperando manter os palestinos em Gaza, no processo de reconstrução da região previsto por cinco anos com um custo de 55 bilhões de dólares. Para não provocarem Israel e os Estados Unidos, já parece decidido, o movimento islâmico Hamas, governando Gaza desde 2006, terá de ceder seu lugar para a Autoridade Palestina, da concorrente OLP, movimento palestino laico, criado por Yasser Arafat. 

Entretanto, no encontro no Cairo, não se falou num desarmamento do Hamas. Mas ficou evidente a desconfiança dos países árabes com relação ao Hamas, responsável pelo ataque do 7 de outubro sem consulta prévia.

Tão logo Trump teve conhecimento da decisão dos países árabes, já a considerou irrealista, afirmando ser inabitável a Faixa de Gaza e necessitando uma evacuação coletiva. Quase ao mesmo tempo, na sua rede Truth Social, Trump ameaçou os palestinos de Gaza, caso não devolvam rapidamente todos os reféns israelenses. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.


quarta-feira, 5 de março de 2025

Portugal - Universidade de Coimbra debate processos de evacuação em incêndios rurais

Em caso de incêndio deve sair de casa ou ficar? A resposta a esta questão será debatida esta sexta-feira, dia 7 de março, numa mesa-redonda organizada pela Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). O evento terá lugar no auditório do Departamento de Engenharia Mecânica, entre as 14h15 e as 17h00, mas também será transmitido online.



«A evacuação durante incêndios rurais é uma questão controversa, que gera por vezes resistência por parte dos cidadãos. Muitos recusam-se a abandonar as suas habitações, outros regressam logo após a retirada, desobedecendo às indicações que lhes são dadas. Para além disso, a interpretação das ordens de evacuação nem sempre é homogénea», considera Miguel Almeida, investigador da ADAI e responsável pela organização do evento. 

Desta forma, a mesa-redonda “Sair ou ficar?” pretende abordar questões legais, operacionais e científicas, procurando estabelecer um consenso sobre a obrigatoriedade e melhoria da eficiência das ações de evacuação. A sessão será estruturada em dois painéis de discussão: o “Painel jurídico – Debate sobre a obrigatoriedade legal das evacuações e a necessidade de legislação complementar” e o “Painel operacional – Discussão sobre a eficiência dos processos de evacuação, equilibrando a proteção da vida humana com a necessidade da salvaguarda de bens”. 

Esta iniciativa contará com a presença de especialistas de várias áreas, incluindo representantes do setor jurídico, forças de segurança, proteção civil e peritos científicos.

O evento é aberto ao público, com participação presencial limitada mediante inscrição prévia. A sessão será ainda transmitida via Zoom (requer inscrição) e pelo canal YouTube do CEIF/ADAI (acesso livre, sem certificado de participação).

Para informações adicionais, consultar o sítio do evento. Universidade de Coimbra - Portugal


Macau - Exposição retrata a herança da porcelana cantonesa pelo mundo

A galeria da Fundação Rui Cunha realizou a abertura da exposição “Regresso à Navegação”, do artista Lei Iat Po. A mostra, que inclui cerca de 40 peças de porcelana de grande dimensão de Macau e Guangzhou, apresenta a rica herança da porcelana cantonesa pelo mundo. Ficará em exibição até ao dia 14 de Março e a entrada é gratuita



A Fundação Rui Cunha (FRC) inaugurou a exposição “Regresso à Navegação”, do ceramista Lei Iat Po, que reúne uma envolvente colecção de obras de porcelana de Macau e Guangzhou. Esta mostra, com curadoria de Margareth Lei Siu Heng, apresenta cerca de 40 peças de porcelana colorida no tradicional estilo da província de Cantão coleccionadas pelo artista ao longo de anos de estudo na prática. Relíquias que funcionam como um testemunho do legado cultural e artístico das dinastias chinesas passadas, bem como símbolos de uma economia chinesa antiga, que já apresentava o seu progresso no panorama global de exportações de produtos, destacando o Delta do Rio das Pérolas como o centro dessa actividade.

A porcelana de Cantão, conhecida também como Guangcai, remonta à Dinastia Qing, período em que a manufactura se consolidou como uma importante indústria para a exportação. Este tipo de porcelana tornou-se extremamente popular nas cortes europeias e entre a aristocracia ocidental, desempenhando um papel crucial na promoção da cultura chinesa no Ocidente durante os séculos XVIII e XIX.

A exposição revela a essência deste tipo de porcelana, famosa pela sua palete de cores fortes e reluzentes vidrados, bem como os seus padrões intricados e aplicações douradas, todas pintadas à mão. O desenvolvimento desta arte cerâmica não se limitou à China continental. No século XX, a produção de porcelana ganhou nova vitalidade em territórios como Hong Kong e Macau, especialmente após a instabilidade na produção no resto do país. A década de 1950 assistiu a um crescimento radical na procura internacional por estas peças exóticas, reflectindo o gosto por produtos orientais na época do pós-Guerra, principalmente na Europa e América. Muitas dessas peças levavam no seu calço um carimbo onde se lia “Fabricado em Macau”.

Lei Iat Po, o artista por trás da exposição na galeria da FRC, é um exemplo vivo desta tradição. Nascido em Macau em 1954, o seu interesse pela arte da porcelana foi moldado desde a infância, influenciado pelo pai, que esteve directamente envolvido na produção e exportação de peças para o mercado europeu e americano. Lei Iat Po trabalhou na Fábrica de Bases de Madeira Guangcai do seu pai e, mais tarde, na Fábrica de Porcelana Colorida Guangcai. Ao longo da sua carreira, o artista teve a oportunidade de aprender com mestres tradicionais, tais como o renomado mestre Zhao Zhuo, aperfeiçoando as suas técnicas de pintura e coloração.

As obras expostas são não apenas exemplos excepcionais de uma habilidade técnica desenvolvida após anos de prática, mas também representam uma fusão rica entre as culturas oriental e ocidental. A dedicação de Lei Iat Po em preservar essa arte e a sua rica história é palpável em cada uma das peças apresentadas, segundo o comunicado da organização.

Os interessados em visitar esta exposição terão a oportunidade de apreciar estas obras até ao dia 14 de Março. A entrada é livre. Elói Carvalho – Macau in “Ponto Final”


Moçambique - Quem disse que as mulheres não podem fazer uma Serenata? Banda Kakana & Convidadas

Para abrir as celebrações do “Mês dos Direitos da Mulher”, o Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM) recebe, na Sexta-feira, 7 de Março, às 20h, na Sala Grande, a 7ª  edição do espectáculo “Quem Disse que as Mulheres Não Podem Fazer uma Serenata?“.  Este projecto da Banda Kakana celebra a força e o talento feminino, reunindo diversas formas de expressão artística num encontro singular. Este espectáculo destaca o talento e a arte das mulheres de várias partes do mundo, inspirado pela música “Serenata”, do  primeiro álbum da banda, que transmite uma forte mensagem de empoderamento  feminino.



Por ocasião do Dia Internacional dos Direitos da Mulher, que se assinala a 8 de Março, a Banda Kakana promove anualmente, desde 2019, este evento que dá palco a artistas de diferentes estilos e linguagens artísticas. Esta será a terceira vez que o CCFM acolhe o espectáculo, reforçando o seu compromisso com a valorização da arte e do  protagonismo feminino. Nesta edição, o espetáculo contará com a participação de Ângela Comé (violoncelista), Anneliese Huber (bailarina), Anita Macuácua (cantora),  Beauty Sitoe (cantora e mbiricista), Catarina Rombe (flautista), Ema de Jesus (poetisa),  Iveth Mafundza (rapper), Ivete Vales (saxofonista), Orlanda da Conceição (cantora e  contrabaixista), Rosália Mboa (cantora) e Juliana de Sousa como MC.

Como é tradição, a noite prestará homenagem a uma figura feminina da música moçambicana, reconhecendo o seu legado e a sua contribuição para a cultura musical  do país. Além do espetáculo, haverá também uma feira de artesanato, enriquecendo a experiência do público e promovendo o trabalho de artistas e criadores locais. 

Segundo o comunicado de imprensa enviado à Moz Entretenimento, o evento marca a abertura das actividades alusivas ao Mês dos Direitos da Mulher, promovido pela Embaixada de França em Moçambique, que se estendem até ao dia 7 de Abril, data em que celebramos a Mulher Moçambicana. 

Cientes da importância cultural e social deste evento, convidamos os órgãos de  comunicação social a estarem presentes e a cobrirem este momento especial.

Sobre a banda

Fundada em 2004 por Azarias Arone, guitarrista e líder da banda, e Yolanda Chicane, vocalista, a Banda Kakana é composta actualmente por um grupo de 6 músicos. A banda é amplamente reconhecida pela fusão inovadora de estilos como Afro Rock, Afro  Jazz, World Music e toques de Marrabenta, criando uma sonoridade única que conquista  o público moçambicano e internacional. Kakana também se distingue por interpretar canções em várias línguas nacionais e em inglês, uma característica que reflecte a rica  diversidade linguística de Moçambique. 

Em 2013, a banda lançou o seu primeiro álbum, Serenata, que lhe valeu o prémio de “Disco Mais Vendido” no Mozambique Music Awards do ano seguinte. Em 2017, a banda lançou Juntos, e, em 2022, foi a vez de Uma Nova Flor, seu terceiro disco, gravado durante a pandemia. Este trabalho marcou uma evolução no som da banda, com uma proposta mais introspectiva e uma forte intenção de resgatar valores culturais e reforçar  a moçambicanidade na sua expressão musical. 

Em 2024, a Banda Kakana celebrou 20 anos de carreira, consolidando-se como uma das principais referências da música moçambicana, com uma trajectória marcada por inovações e pela valorização da cultura do país. In “Moz Entretenimento” - Moçambique

Banda Kakana - Tem Novidade



Angola - Novas comunidades rurais sustentáveis serão criadas em cinco províncias

Novas comunidades rurais sustentáveis serão criadas nas províncias do Cunene, Cuando, Moxico Leste, Malanje e Cuanza-Norte, numa primeira fase, no âmbito do Plano de Desenvolvimento das Agrovilas (PDA), aprovado pelo Decreto Presidencial n.º 55/25, de 25 de Fevereiro



Segundo o Portal do Governo de Angola, o PDA faz parte do Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027, com abrangência nacional e prevê a criação de comunidades que integrem habitação, infra-estruturas básicas e serviços essenciais, para a promoção da agricultura como principal actividade económica.

O objectivo é melhorar, a curto e médio prazos, as condições de vida das famílias rurais, aumentar a produção e a produtividade agro-pecuária, para a geração de rendimento e emprego, redução da pobreza e mitigação do êxodo rural.

Nesta fase inicial, serão estabelecidas cinco Agrovilas, para beneficiar 3557 famílias, o equivalente a 17.785 pessoas, num projecto destinado a famílias vulneráveis, jovens, antigos combatentes e veteranos da pátria e outras pessoas interessadas na actividade agrícola.

Os terrenos atribuídos serão utilizados para habitação e produção agro-pecuária, abrangendo culturas como grãos, frutas e hortícolas, além da pecuária e piscicultura. O PDA também prevê o incentivo ao turismo rural e ao desenvolvimento de pequenas indústrias agrícolas.

A gestão da identificação, loteamento e titulação dos terrenos ficará a cargo dos Órgãos da Administração Local do Estado, garantindo segurança jurídica aos beneficiários.

Os lotes terão áreas diferenciadas, variando entre pequenas parcelas para a agricultura familiar e extensões maiores para a produção em maior escala, com terrenos de 2,5 hectares e outros que poderão atingir cinco ou dez hectares, consoante a exploração pretendida.

Os beneficiários receberão títulos de concessão gratuitos, o que reforça o compromisso do Executivo com a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais.

O PDA inclui ainda a construção de infra-estruturas essenciais, como vias de acesso, redes de energia e abastecimento de água, além de equipamentos sociais e apoio técnico para os agricultores.

A implementação das Agrovilas será da responsabilidade dos Órgãos da Administração Local do Estado, sob a supervisão de uma Comissão Multissectorial coordenada pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica.

A estrutura integra ainda os titulares dos departamentos ministeriais da Agricultura e Florestas, Planeamento, Finanças, Administração do Território, Pescas e Recursos Marinhos, Energia e Águas, e Obras Públicas, Urbanismo e Habitação.

O projecto alinha-se ao Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à Agenda 2063 da União Africana, tendo em conta a aposta do Executivo no crescimento equilibrado entre as zonas urbanas e rurais. In “Jornal de Angola” - Angola


terça-feira, 4 de março de 2025

Portugal - Duarte a 11 de Março às 21h30 no Coliseu Club - Venham Mais Vinte 2004-2024

A nova sala do Coliseu Club vai ser palco do novo espectáculo de Duarte no dia 11 de Março às 21h30



Pedro Amendoeira na guitarra portuguesa, João Filipe na viola de Fado e Carlos Menezes no contrabaixo, são os músicos que acompanharão o fadista neste seu concerto em Lisboa, após apresentação em inúmeros palcos pelos Estados Unidos e Europa, com especial incidência em França.

Um novo concerto, uma nova sala, uma nova experiência - vinte anos a cantar. Uma noite imperdível, uma oportunidade única de assistir e conhecer grande parte da obra de Duarte destas duas décadas. Não falte!

Os bilhetes já se encontram à venda e podem ser adquiridos aqui. P&C Assessoria de Imprensa - Portugal

Não importou que ficasse

ReViraVolta


Moçambique - Defendido diálogo com Venâncio Mondlane para “desligar” protestos

Analistas moçambicanos defenderam à Lusa o diálogo com Venâncio Mondlane como uma solução a curto prazo para o fim das manifestações em Moçambique, considerando-o o “actor” que consegue “ligar e desligar” os protestos.



“Havendo tanta popularidade do Venâncio, sendo ele o actor que consegue ligar e desligar estes protestos, sendo o único actor que a população segue, eu acho que ele tem de ser incluído em qualquer mesa de negociação. Isso é óbvio já há muito tempo”, disse João Feijó, analista e pesquisador moçambicano.

Feijó defende, a curto prazo, o diálogo e discursos “menos incendiários” para pôr fim à crise pós-eleitoral em Moçambique, referindo que o Presidente da República, Daniel Chapo, tem responsabilidades acrescidas, além da responsabilidade de chamar Mondlane à mesa de negociação. “O importante é baixar a temperatura e para baixar a temperatura é preciso diálogo, é preciso discursos menos incendiários e o Presidente da República tem responsabilidades, sendo ele a governar, é dele que se espera a iniciativa para resolver isto”, referiu.

Para João Feijó, o ex-candidato presidencial é visto como um “messias” e o povo segue-o “de uma forma cega”, considerando, por isso, que ao excluí-lo do diálogo “estão a exaltá-lo perante o povo” e estão a dar-lhe “mais prisma e mais força”. “É preciso incluí-lo nessa mesa de negociações, não há como não incluir. Tem de ser acarinhado se é que queremos serenar os ânimos deste país”, afirmou o analista.

“Nós achamos, honestamente, que não são aquelas figuras que estão ali com o Presidente Chapo, na mesa do diálogo, que vão resolver os problemas do país. As pessoas olham para Venâncio Mondlane como o representante delas, o povo está a olhar para Venâncio Mondlane como o seu legítimo representante, portanto, excluir também Venâncio Mondlane do diálogo não me parece que nós possamos conseguir a paz em Moçambique”, disse André Mulungo, jornalista e editor no Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) de Moçambique.

Mulungo defende um diálogo “genuíno, sem armadilhas e o mais inclusivo possível” para o fim da crise pós-eleitoral, com a participação também da academia, organizações da sociedade civil e líderes religiosos, além dos partidos políticos que já têm estado na mesa de conversações.

“O Presidente Chapo diz que quer a independência económica de Moçambique, quer desenvolver o país, [mas] não se desenvolve nenhuma sociedade num cenário de instabilidade, de guerra, como está a acontecer em Moçambique neste momento”, referiu o analista, considerando “pouco inteligente” adiar o diálogo.

Os analistas convergem no alerta para incertezas, insegurança, caos e destruição da economia moçambicana caso prevaleçam os protestos no país, pedindo, além do diálogo, reformas para aliviar o custo de vida em Moçambique.

“Adiar o diálogo genuíno e inclusivo significa continuarmos a caminhar na incerteza, com um risco real de nós voltarmos para uma guerra civil”, concluiu Mulungo.

Moçambique vive desde Outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 9 de Outubro, que deram vitória a Daniel Chapo. Actualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.

Desde Outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3500 feridos durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais. O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias, durante as manifestações. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”