Percurso de uma paixão pelas letras
Trabalho de conclusão de curso mostrou a trajetória do jornalista e escritor Adelto Gonçalves
Há 20 anos, ao final de 2004, os alunos José Djacy Campos Freire e Elaine Cristina da Cunha defenderam, na Faculdade de Comunicação e Artes do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), atual Universidade São Judas-campus Unimonte, de Santos, o trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado Adelto Gonçalves – vida e obra de um autor santista. O TCC, que contou com a orientação da professora doutora Fátima de Azevedo Francisco, é uma grande reportagem que procura mostrar a trajetória até então do jornalista, professor e escritor Adelto Gonçalves (1951), autor de obras publicadas no Brasil e em Portugal.
“Ao registrar o seu percurso literário, buscamos tornar mais conhecida a história de um homem apaixonado pelas letras, que dedica sua vida à literatura e às pesquisas, através das quais elucidou fatos históricos”, observam os jornalistas à abertura do trabalho, lembrando que, nascido no Paquetá, bairro degradado do beira-cais de Santos e filho de família de poucos recursos, Adelto Gonçalves é um exemplo para as novas gerações, pois, “com muito trabalho e dedicação aos estudos, fez uma carreira brilhante, tornando-se renomado escritor, reconhecido pela casta intelectual de países de línguas portuguesa e espanhola”.
Ao tomar conhecimento desta nota, Djacy Campos, que hoje vive em Portugal, disse que sempre lembrará “o quão prazeroso foi poder registrar referências sobre este grande autor brasileiro, que deixou uma impressão maravilhosa em nossas vidas, com seus ensinamentos e experiências relatadas com tanta riqueza de detalhes”. Para ele, “tudo o que o nosso querido professor faz tem uma maestria histórica cheia de profundo senso de pesquisa e conhecimento”. Ressaltou ainda que a forma de comunicação relatada em suas obras mostra exatamente o que um texto cheio de detalhes necessita para ser exposto. “Será sempre uma honra poder dizer que fiz parte da história de um grande ser humano brilhante, que é o professor Adelto”, acrescentou.
O trabalho acadêmico registra o percurso do autor desde a sua estreia com o livro de contos Mariela Morta (Ourinhos, Editora Complemento, 1977), que foi seguido pelo romance Os Vira-latas da Madrugada, publicado em 1981 pela Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro, depois de obter em 1980 menção honrosa no Concurso Nacional José Lins do Rego. Trata-se de um trabalho que é considerado a primeira obra que apresenta como pano de fundo a ditadura militar (1964-1985) e suas arbitrariedades cometidas no porto de Santos.
Este romance, por coincidência, foi lançado na sede da editora, em 30 de abril de 1981, noite em que ocorreu o atentado do RioCentro, causado pela explosão antes da hora de uma bomba no colo de um terrorista de direita. Em função do clima de repressão que se seguiu, a editora preferiu arrancar dos exemplares o prefácio em que o jornalista Marcos Faerman (1943-1999) dizia que este romance de “sons delicados e histórias tristes” não iria “agradar àqueles que venceram em 1964”. Em 2015, sairia a segunda edição deste romance pela editora LetraSelvagem, de Taubaté, com o prefácio censurado em 1981 e posfácio de Maria Angélica Guimarães Lopes, professora emérita da South Carolina University, dos Estados Unidos.
Mestre e doutor em Letras
Adelto Gonçalves é mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana (1992), com trabalho sobre a obra do escritor espanhol Eduardo Mendoza, e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa (1997), com estudo sobre a vida e a obra do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), ambos títulos concedidos pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1997, publicou Fernando Pessoa: a Voz de Deus, pela Editora da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos, obra que reúne artigos e ensaios sobre o poeta português (1888-1935). Em 1999, saiu pela Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, Gonzaga, um Poeta do Iluminismo, sua tese de doutoramento, com prefácio do poeta, memorialista, ensaísta e diplomata Alberto da Costa e Silva (1931-2023), ex-presidente da Academia Brasileira de Letras.
Em 1986, publicou o ensaio “O ideal político de Fernando Pessoa” no livro Estudos sobre Fernando Pessoa, da Fundação Cultural Brasil-Portugal, trabalho premiado em concurso promovido por aquela entidade. Em 1999, em Lisboa, pela editora Nova Arrancada, publicou o romance Barcelona Brasileira, que trata da influência anarquista no porto de Santos entre 1917 e 1922, obra que sairia no Brasil em 2002 pela Publisher Brasil, de São Paulo, com prefácio do professor doutor Massaud Moisés (1928-2018) e texto de apresentação do embaixador Dário Moreira de Castro Alves (1927-2010).
Em 2003, publicou pela Editorial Caminho, de Lisboa, a biografia Bocage – o Perfil Perdido, com prefácio de Fernando Cristóvão, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, trabalho que desenvolveu com bolsa de pós-doutoramento da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), que lhe permitiu pesquisar em arquivos portugueses em 1999-2000. A edição brasileira saiu em 2021 pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp).
Nos últimos 20 anos, o autor continuou o seu trabalho de pesquisa e publicou o estudo biográfico-crítico Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imesp, 2012), Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797 (Imesp, 2019), que teve prefácio do brazilianist inglês Kenneth Maxwell e texto de apresentação do professor doutor Carlos Guilherme Mota (USP).
Prêmios e reconhecimento
Em 2006 e 2007, escreveu prefácios para dois livros de contos de Machado de Assis (1839-1908) que foram publicados em edição bilingue russo-portuguesa pelo Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou. Como articulista e ensaísta, mantém intensa atividade na imprensa e em publicações digitais do Brasil, Portugal, Moçambique e Angola, além de escrever prefácios para obras de vários autores brasileiros, portugueses e de países lusófonos.
Esse trabalho de resenhista e ensaísta lhe rendeu os prêmios Assis Chateaubriand (1987) e Aníbal Freire (1994), ambos da Academia Brasileira de Letras. Recentemente, teve esse trabalho também reconhecido pela dramaturga, poeta e ensaísta portuguesa Maria Estela Guedes que criou um Tributo a Adelto Gonçalves na revista digital Triplov, de Portugal.
Em 2010, publicou o ensaio “Ambiguità e ossimoro: simboli dell´universo e del mistero in Fernando Pessoa” no livro Studi su Fernando Pessoa (Perugia, Itália, Edizioni dell ´Urogallo). É autor do ensaio “O feminismo negro de Paulina Chiziane”, publicado no livro Passagens para o Índico: encontros brasileiros com a literatura moçambicana, de Rita Chaves e Tania Macêdo (Maputo, Marimbique Conteúdos e Publicações, 2012) e em Dicionário de Personagens da Obra de Paulina Chiziane, de Salma Ferraz, Patrícia Leonor Martins e Márcia Mendonça Alves Vieira (São Paulo, Todas as Musas, 2019).
Por último, escreveu prefácio para o livro Kenneth Maxwell on Global Trends, publicado em 2023 por Robbin Laird, editor, na Inglaterra, com artigos e ensaios do professor doutor Kenneth Maxwell, professor visitante da Harvard University, de Cambridge/Massachusetts, Estados Unidos, desde 2004.
Professor, jornalista e conferencista
Adelto Gonçalves foi professor na Universidade Santa Cecília, Universidade São Judas-campus Unimonte, Universidade Paulista (Unip), em Santos, e no Centro Universitário Amparense (Unifia), em Amparo. Em julho de 2011, fez palestra sobre sua obra no Centro Lusófono Camões, da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, para alunos russos que estudavam a língua portuguesa, a convite do professor Vadim Kopyl (1940-2023), diretor da instituição.
Na segunda semana de julho de 2019, em Quito, a convite do então embaixador do Brasil no Equador, o escritor João Almino, fez palestras sobre as obras de Fernando Pessoa, Tomás Antônio Gonzaga e Manuel Maria du Bocage (1765-1805) para alunos do Instituto Brasileiro-Equatoriano de Cultura (Ibec) e no Centro Cultural Benjamin Carrión.
Formado em Jornalismo em 1974 pela Faculdade de Comunicação (Facos) da Universidade Católica de Santos (Unisantos), trabalhou nos jornais Cidade de Santos, A Tribuna, de Santos, O Estado de S. Paulo, Folha da Tarde e revista Placar (Editora Abril). Foi correspondente da revista Época (Editora Globo) em Lisboa, em 1999-2000. Conquistou o Prêmio SBS de Jornalismo de 1974, ao lado dos jornalistas Ouhydes Fonseca (1940-2022) e Carlos Manente (1944-1999), com a reportagem “Santos, a opção do turismo”, publicada no jornal A Tribuna, nos dias 3, 4, 5, 6 e 7 de fevereiro de 1974.
É colaborador assíduo dos impressos Jornal Opção, de Goiânia, e As Artes Entre as Letras, do Porto, e dos sites Baía da Lusofonia, DasCulturas e Revista Triplov, de Portugal, e colunista da VuJonga, revista digital editada em Lisboa e dirigida aos povos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), entre outras publicações.