SÃO PAULO – Houve uma época em que as
grandes economias ocidentais – Estados Unidos e União Europeia (UE) – queriam
abrir seus mercados e, em contrapartida, esperavam encontrar mais espaço para
colocar seus produtos nos demais países, inclusive nos sul-americanos. Essa
época coincide com a abertura em 1999 das negociações entre a UE e o Mercosul.
Antes disso, em 1990, houve a proposta norte-americana para a formação da Área
de Livre-Comércio das Américas (Alca), ao tempo de George Bush, pai, que previa
a sua entrada em funcionamento até 2005.
Como se sabe, não houve muita
receptividade por parte das nações do Cone Sul para nenhuma das propostas. A
Argentina sempre foi um país muito fechado – tanto que ainda hoje suas
exportações representam 15% do seu Produto Interno Bruto (PIB), menos que o
resto dos países da região –, com pouca inversão estrangeira, o nível mais
baixo da região, e nunca se mostrou aberta ao diálogo. O Brasil, por sua vez, à
época de Fernando Henrique Cardoso, mostrava-se mais aberto a entendimentos,
até à chegada de Lula à presidência da República, em 2003, quando optou pela
chamada cooperação Sul- Sul, que privilegiava a colaboração com os países do
Terceiro Mundo.
O resultado disso foi que o Mercosul
virou um fórum de debates político-ideológicos e tanto Brasil como Argentina
trabalharam nos bastidores pelo fracasso da Alca. Já as negociações com a UE
para a assinatura de um acordo de livre-comércio arrastam-se por quase duas
décadas.
Como a vida se faz em ciclos, hoje,
os papéis se mostram invertidos. O Brasil, com o presidente Temer, e a
Argentina, com o presidente Mauricio Macri, defendem maior inserção de seus
países no mundo, mas, desta vez, são Estados Unidos e UE que não estão muito dispostos
a conversas. Com Trump, os Estados Unidos adotaram uma política isolacionista e
ameaçam até implodir o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na
sigla em inglês), que reúne também Canadá e México. Já a UE vive momentos de
indefinição, com eleições em vários países e uma onda de protecionismo,
especialmente na França, onde as empresas agropecuárias temem a concorrência
dos produtos sul-americanos.
Em função disso, o Mercosul perdeu
velocidade nos últimos anos, passando por uma fase de esgotamento. Portanto,
necessita urgentemente de uma nova agenda, que poderia incluir um acordo com a
Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia). No mais, só lhe resta
apostar na próxima reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), prevista
para dezembro em Buenos Aires, e aproveitar, quem sabe, a abertura que se vê na
Ásia, especialmente nos países do Pacífico.
Seja como for, a OMC prevê que em
2017 o comércio internacional crescerá 2,5% em relação a 2016, período em que o
crescimento foi de 1,6%. Como os preços estão estabilizados, o Mercosul precisa
se remodelar e mostrar-se mais unido para aproveitar esse momento. Milton Lourenço - Brasil
____________________________________
Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística
Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário