Ao escrever um artigo como
este imagino a pessoa que o vai ler. Penso em alguém a falar galego a quem
causa estranheza esta forma de ver escrita a sua língua. Para mim também foi um
desafio, no seu dia, ler textos assim porque fum educado, como ela, em que esta
ortografia e esta língua eram estrangeiras. No entanto, eu pediaria-lhe um
pouco de paciência. Talvez descubra um relato novo para a sua língua e quem
sabe se melhor que o que lhe foi transmitido.
Do que leva lido até agora é
provável que lhe provoquem ruído palavras como escrever, alguém ou estranheza. Talvez, imagino, nas aulas de
Língua Galega tenha deparado com estas palavras ao tratar a literatura medieval
mas o certo é que já estamos no século XXI.
Agora as pessoas realizamos
muitas tarefas com o idioma que não eram possíveis na Idade Média. Para
começar, porque daquela a imensa maioria das pessoas não sabia ler. Como agora
sabemos decifrar um texto escrito, podemos fazer um sem-fim de tarefas:
procurar informação na Internet, usar as Apps do telemóvel ou ler as legendas
dos filmes e saber de que tratam. Ora, nem tudo é ler. O idioma serve também
para as nossas crianças desfrutarem com desenhos animados, os adultos chegarem
a um lugar usando o GPS e todos, adultos e miúdos, sermos seduzidos por jogos
em formato eletrónico.
Há quem diga, e é possível ser
assim, que as línguas ausentes nesses formatos do séc. XXI vão ter dificuldades
para garantir a sua presença nas gerações vindouras. E eu pergunto à pessoa que
me lê, será capaz de nos sobreviver a língua da Galiza?
Imagino que te diriam que sim
mas pensarás que não. Ora, repara num aspeto importante. Se foste capaz de
chegar até aqui na tua leitura, com maior ou menor dificuldade, quer dizer que
tens o potencial de fazer muitas cousas com o teu idioma que te ensinaram que
só eram possíveis em castelhano. E aqui entra o relato da língua galega, aquilo
de que é local e que não serve para muito. Ora, os relatos podem-se reescrever.
Devem, de facto, ser reescritos.
Einstein, o físico, afirmava
que fazer todos os dias o mesmo e esperar resultados diferentes é prova de
pouca saúde. Teremos pouca saúde a respeito da língua?
Eu imagino que as políticas
linguísticas do séc. XXI integrarão as outras variedades da nossa língua bem
como as suas sociedades, Brasil, Portugal ou Angola. Isto vai aumentar o
bem-estar da nossa sociedade e fortalecer o nosso idioma milenar. Imagino que,
da mesma forma que sabemos o nome de personalidades que se expressam em
espanhol em lugares que nunca visitaremos, saberemos quem é Pepetela, Luís
Filipe Rocha ou Adriana Calcanhoto e desfrutaremos da sua obra. Imagino que se
alguém quer viver em galego o poderá fazer, sobretudo as crianças. Imagino que
tenhamos do galego a mesma visão alargada e otimista em que fomos educados a
respeito do castelhano.
Ora, do que se trata é de que
tu também o imagines porque quantos mais formos a imaginar, criaremos antes
essa realidade. E, como sabes, temos pouco tempo.
Em se tratando de imaginar,
imagino que se este artigo ganhar e sair publicado nos meios de comunicação
colaboradores (1), ninguém pedirá para alterar a sua ortografia dado
que já estamos no séc. XXI e não podemos fazer todos os dias as mesmas cousas…
e esperar resultados diferentes. Valentim
Fagim – Galiza in “Portal Galego da Língua”
(1) - Este artigo foi apresentado
foi apresentado ao XIII Prémio a artigos jornalísticos normalizadores do
Concelho de Carvalho.
Valentim Fagim, Nasceu
em Vigo (1971). Professor de Escola Oficial de Idiomas, licenciado em Filologia
Galego-portuguesa pola Universidade de Santiago de Compostela e diplomado em
História. Trabalhou e trabalha em diversos âmbitos para a divulgaçom do ideário
reintegracionista, nomeadamente através de artigos em diversas publicações,
livros como O Galego (im)possível, Do Ñ para o NH (2009) ou O galego é uma
oportunidade (2012). Realizou trabalho associativo na AR Bonaval, Assembleia da
Língua de Compostela, no local social A Esmorga e na AGAL, onde foi presidente
(2009-12) e vice-presidente (2012-15). Co-diretor da Através Editora e
coordenador da área de formação. Académico da AGLP.
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