Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Galiza - Imagina

Ao escrever um artigo como este imagino a pessoa que o vai ler. Penso em alguém a falar galego a quem causa estranheza esta forma de ver escrita a sua língua. Para mim também foi um desafio, no seu dia, ler textos assim porque fum educado, como ela, em que esta ortografia e esta língua eram estrangeiras. No entanto, eu pediaria-lhe um pouco de paciência. Talvez descubra um relato novo para a sua língua e quem sabe se melhor que o que lhe foi transmitido.

Do que leva lido até agora é provável que lhe provoquem ruído palavras como escrever, alguém ou estranheza. Talvez, imagino, nas aulas de Língua Galega tenha deparado com estas palavras ao tratar a literatura medieval mas o certo é que já estamos no século XXI.

Agora as pessoas realizamos muitas tarefas com o idioma que não eram possíveis na Idade Média. Para começar, porque daquela a imensa maioria das pessoas não sabia ler. Como agora sabemos decifrar um texto escrito, podemos fazer um sem-fim de tarefas: procurar informação na Internet, usar as Apps do telemóvel ou ler as legendas dos filmes e saber de que tratam. Ora, nem tudo é ler. O idioma serve também para as nossas crianças desfrutarem com desenhos animados, os adultos chegarem a um lugar usando o GPS e todos, adultos e miúdos, sermos seduzidos por jogos em formato eletrónico.

Há quem diga, e é possível ser assim, que as línguas ausentes nesses formatos do séc. XXI vão ter dificuldades para garantir a sua presença nas gerações vindouras. E eu pergunto à pessoa que me lê, será capaz de nos sobreviver a língua da Galiza?

Imagino que te diriam que sim mas pensarás que não. Ora, repara num aspeto importante. Se foste capaz de chegar até aqui na tua leitura, com maior ou menor dificuldade, quer dizer que tens o potencial de fazer muitas cousas com o teu idioma que te ensinaram que só eram possíveis em castelhano. E aqui entra o relato da língua galega, aquilo de que é local e que não serve para muito. Ora, os relatos podem-se reescrever. Devem, de facto, ser reescritos.

Einstein, o físico, afirmava que fazer todos os dias o mesmo e esperar resultados diferentes é prova de pouca saúde. Teremos pouca saúde a respeito da língua?

Eu imagino que as políticas linguísticas do séc. XXI integrarão as outras variedades da nossa língua bem como as suas sociedades, Brasil, Portugal ou Angola. Isto vai aumentar o bem-estar da nossa sociedade e fortalecer o nosso idioma milenar. Imagino que, da mesma forma que sabemos o nome de personalidades que se expressam em espanhol em lugares que nunca visitaremos, saberemos quem é Pepetela, Luís Filipe Rocha ou Adriana Calcanhoto e desfrutaremos da sua obra. Imagino que se alguém quer viver em galego o poderá fazer, sobretudo as crianças. Imagino que tenhamos do galego a mesma visão alargada e otimista em que fomos educados a respeito do castelhano.

Ora, do que se trata é de que tu também o imagines porque quantos mais formos a imaginar, criaremos antes essa realidade. E, como sabes, temos pouco tempo.

Em se tratando de imaginar, imagino que se este artigo ganhar e sair publicado nos meios de comunicação colaboradores (1), ninguém pedirá para alterar a sua ortografia dado que já estamos no séc. XXI e não podemos fazer todos os dias as mesmas cousas… e esperar resultados diferentes. Valentim Fagim – Galiza in “Portal Galego da Língua”

   (1)   - Este artigo foi apresentado foi apresentado ao XIII Prémio a artigos jornalísticos normalizadores do Concelho de Carvalho.


Valentim Fagim, Nasceu em Vigo (1971). Professor de Escola Oficial de Idiomas, licenciado em Filologia Galego-portuguesa pola Universidade de Santiago de Compostela e diplomado em História. Trabalhou e trabalha em diversos âmbitos para a divulgaçom do ideário reintegracionista, nomeadamente através de artigos em diversas publicações, livros como O Galego (im)possível, Do Ñ para o NH (2009) ou O galego é uma oportunidade (2012). Realizou trabalho associativo na AR Bonaval, Assembleia da Língua de Compostela, no local social A Esmorga e na AGAL, onde foi presidente (2009-12) e vice-presidente (2012-15). Co-diretor da Através Editora e coordenador da área de formação. Académico da AGLP.

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