No
próximo ano lectivo, a Universidade da Cidade de Macau (UCM) vai abrir duas
turmas de Mestrado e uma de Doutoramento em Estudos dos Países de Língua Portuguesa.
Para Ivo Carneiro de Sousa, coordenador dos cursos, Macau é o “melhor
laboratório” para desenvolver “estudos de área” sobre os países lusófonos, pelo
que já está a ser pensada a abertura de uma licenciatura neste campo em
2018/2019 e um pós Doutoramento em 2020
A Universidade da Cidade de Macau
(UCM) vai abrir em Setembro um curso de Mestrado e Doutoramento em Estudos dos
Países de Língua Portuguesa, iniciativa pioneira à escala mundial que visa desenvolver
os países de língua portuguesa no domínio dos “estudos de área” por
“partilharem a mesma língua oficial e por se relacionarem em termos
internacionais usando essa unidade da língua”, explicou o coordenador dos
cursos, Ivo Carneiro de Sousa, ao Jornal Tribuna de Macau.
“O argumento que temos
utilizado é que, academicamente, trata-se de uma area studies e queremos desenvolver a investigação desta área
utilizando o equipamento normal, isto é, o conjunto das ciências sociais para
estudar, comparar, contrastar os países, os temas e problemas que existem
nesses países com essa instrumentação”, explicou o docente.
“Acreditamos que Macau tem
condições históricas e prosperidade financeira para poder permitir esses
estudos e tem o lado importante de não haver ressabiamentos”, disse. Em termos
práticos, Ivo Carneiro de Sousa aponta dois argumentos que validam o tratamento
dos países de língua portuguesa enquanto matéria com interesse académico,
sobretudo na RAEM. “Macau é o melhor laboratório para se investigar sobre isto
porque tem uma história de relações com o mundo todo até meados do século XIX”,
além de oferecer “condições privilegiadas históricas para desenvolver
investigação académica sem ter problemas de ressabiamentos coloniais ou
pós-coloniais” e ser plataforma entre as duas partes.
“O objectivo destes cursos
consiste na publicação da investigação nos melhores jornais académicos em
inglês” até porque, “se não se publicar nestas grandes revistas o que se está a
investigar não existe como ciência”, vincou o docente.
Os cursos são veiculados em
inglês e os alunos que “não são de língua portuguesa têm de completar dois anos
de Português, para aprender os termos necessários para ler documentos técnicos”
nessa língua, apontou. No caso do Doutoramento, a UCM vai “facultar uma ida de
três meses a qualquer país de língua portuguesa que [o aluno] esteja a estudar para
que haja realmente trabalho de campo”.
Esse trabalho de campo será
apoiado através de bolsa, ao fim de dois anos e meio de estudos teóricos. “Têm
de estar preparados para ir ao terreno para investigar. Isto está a ser feito
através de acordos com universidade e institutos que possam receber os alunos”,
acrescentou.
Devido à grande adesão, será
necessário abrir duas turmas (20 alunos cada) de Mestrado e uma de Doutoramento
no máximo com 20 estudantes até porque não há “condições de supervisão” para mais.
“Até agora já entregámos a resposta a 14 alunos de doutoramento e a 27 para o
Mestrado”, adiantou, revelando ainda que até Junho estão agendadas mais
entrevistas em Zhuhai. “O número de candidatos é cinco vezes a oferta que
temos”, sublinhou.
Na sua grande maioria, os
candidatos são “assistentes em universidades chinesas”. “Percebemos pelas entrevistas
que estes candidatos procuram fazer um doutoramento fora da China aproveitando o
facto de ser mais barato estudar em Macau do que em Hong Kong (...) e, em segundo
lugar, o acesso a todas as fontes e sites, o que em Ciências Sociais é muito importante”,
disse.
Por outro lado, “também há
candidatos locais, incluindo de diferentes países de língua portuguesa”, embora
60% dos seleccionados sejam chineses do Continente. “Temos entrevistado, por
Skype, candidatos de Angola e Moçambique mas só vamos decidir quando
terminarmoso processo de entrevistar os locais”.
O corpo docente será
constituído por pessoal local e convidado. “Vamos ter um professor de
Timor-Leste, que por acaso é actualmente o Ministro da Economia, dois de Moçambique,
um de Brasília e do Rio de Janeiro, um de Angola e dois de Portugal”, disse.
Licenciatura
é o próximo passo
Uma das razões pelas quais a
UCM está a apostar nesta abordagem académica prende-se muito com o facto de “não
haver investigação científica” neste campo em termos institucionais. “Macau é
oficialmente uma plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Para
nós, em termos científicos, existem ‘muitos menos’ nessa ideia de plataforma. Há
coisas estranhas: Como é que as indústrias do jogo - que ‘pagam’ Macau - não
são mobilizadas para a plataforma quando há mais de 200 portugueses que são directores
de recursos humanos, engenharia, segurança, entre outros?”, questionou Ivo
Carneiro de Sousa.
Nestes moldes, e também para
criar uma “base” que suporte estes cursos de Mestrado e Doutoramento, a
Universidade da Cidade de Macau vai abrir, no ano lectivo 2018/2019, uma
licenciatura para garantir que há “alunos locais comprometidos” com esta área.
“É preciso porque, caso contrário, os cursos serão dominados pelos alunos da China
Continental que sabem o que querem e que vão fazer carreira nesta área. É
preciso alimentar Macau, as empresas, o Governo, centros de investigação, entre
outros”, revelou o docente.
Segundo explicou, a
licenciatura será em Relações Internacionais mas com especialização nos Países
de Língua Portuguesa e a sua relação com a China. “Os alunos têm de estudar a
história desses países, a diplomacia, relações políticas e estratégicas desses
países”, contou. Posteriormente, os melhores alunos serão canalizados para o
Mestrado. Nesta estratégica, em 2020, deverá abrir um Pós-Doutoramento na mesma
área, revelou Ivo Carneiro de Sousa.
Esta aposta, que começa com
Mestrado e Doutoramento, tem como finalidade “convencer o sistema científico global
- revistas, universidades e centros de investigação - que o estudo dos países de
língua portuguesa é um domínio tão académico como o da lusofonia”, vincou.
Os dois cursos forsm
apresentados ontem no campus da UM, na Taipa, num dia em que também se celebrou
África. Catarina Almeida – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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