SÃO PAULO – Apesar
das tentativas do lulopetismo, às vezes canhestras e até mal-educadas, para
desqualificar o mandato-tampão de Michel Temer, a verdade é que, pelo menos na
área de comércio exterior, o atual governo tem registrado inquestionáveis
avanços em comparação com os últimos 14 anos, período em que o Brasil,
praticamente, ficou isolado e sem representatividade em fóruns internacionais.
Defenestrada a
política Sul-Sul, que priorizava o relacionamento com economias pouco representativas
do Hemisfério Sul e apresentava os EUA como o grande satã do planeta, o que se
viu nos últimos nove meses foi o Itamaraty assumir outra vez o papel de
condutor da política externa, sem ser obrigado a prestar vassalagem a algum
assessor da presidência da República.
Basta ver que a
Câmara de Comércio Exterior (Camex), a Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Agência Brasileira de Cooperação
(ABC) passaram a atuar diretamente sob a tutela do Itamaraty, com o consequente
esvaziamento do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Com isso, o País voltou a ganhar visibilidade internacional, saindo do
isolamento a que estava relegado nos entendimentos comerciais.
Isso está claro no
atual estágio em que se encontram as negociações do Mercosul com a União
Europeia, Aliança do Pacífico (Chile e Colômbia, Peru e México) e Canadá. Para tanto, foi decisiva a
reaproximação com a Argentina, a partir da ascensão de Maurício Macri à
presidência do país vizinho. Dentro dessa nova visão da política externa, deu-se
a realização da primeira reunião de ministros do Cone Sul para discutir o
tráfico de drogas, armas e contrabando, além da defesa das fronteiras e a
manutenção da paz no Atlântico Sul.
Em contrapartida, os
dois países ainda não conseguiram superar as dificuldades criadas pelos
entraves colocados pela Argentina, como o licenciamento restrito de
importações, o que tem impedido o Mercosul de cumprir os objetivos que marcaram
a sua criação em 1991, ou seja, a liberalização de comércio e a abertura dos
mercados compartilhados por seus parceiros.
Com o México, os
entendimentos parecem mais avançados a partir da missão comercial liderada pelo
ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que procurou colocar o Brasil como opção
para o fornecimento de carne processada, milho e soja para aquele país, diante
de um possível estremecimento nas relações entre os governos mexicano e
norte-americano. É de se lembrar que o México costuma comprar por ano cerca de
US$ 30 bilhões em alimentos do EUA e, se pelo menos 30% desse valor viessem
para o Brasil, não seria nada mal.
Embora a articulação
dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) seja iniciativa dos
governos anteriores, o atual governo não se tem mostrado contrário ao
aprofundamento do relacionamento com o bloco. Ao mesmo tempo, tem feito
esforços para a assinatura de um acordo entre o Mercosul e a Associação
Europeia de Comércio Livre (Efta), que reúne Suíça, Noruega, Islândia e
Liechtenstein, e mais recentemente com o Reino Unido, que deixou a União
Europeia em junho de 2016.
Por fim, o Itamaraty
não esconde que tem dado ênfase às negociações com a China, hoje o principal
parceiro do País, à frente dos EUA, e com o Japão e a Coreia do Sul com vistas
à formalização de acordos comerciais. Obviamente, tudo isso demanda um período
de amadurecimento, mas não se pode deixar de reconhecer que esses entendimentos
deixam explícito que há um projeto deliberado para inserir o Brasil nos grandes
circuitos do comércio internacional. Com a saída do ministro José Serra, por
problemas de saúde, o que se espera é que essa correção de rota seja mantida. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é
presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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