Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 31 de março de 2014

Comboios de carga em Sines

CP Carga perto dos 100 comboios semanais em Sines.

Foto: Porto de Sines
A parceria com a MSC Portugal de carga contentorizada, mais os comboios comprados pela CMA CGM, deverão terminar a última semana do mês de Março com uma média que aponta 96 circulações do operador ferroviário CP Carga em Sines. Os números justificam-se no movimento semanal de comboios de contentores com origem e destino no Terminal XXI do Porto de Sines.

De acordo com dados a que a webrails.tv teve acesso, o movimento ferroviário da CP Carga no Terminal XXI, operado pela PSA Sines, deverá apresentar, entre 24 e 30 de Março, 43 entradas e o mesmo número de saídas com destino a Lisboa – Bobadela, e Riachos. A que que se acrescenta o tráfego com origem e destino em Leixões, com 5 circulações em cada sentido. Números que se encaixam dentro do intervalo de capacidade definido pela PSA Sines junto do terminal ferroviário, ” actualmente a PSA Sines tem duas linhas que operam diariamente entre 6 a 8 comboios diários.”

No entanto a CP Carga e o terminal ferroviário já apresentaram números semanais superiores a uma centena de comboios. Como aconteceu no passado mês de Fevereiro, nas circulações especiais onde a operadora foi chamada a traccionar cerca de 140 composições. Na altura, os conflitos laborais do porto de Lisboa determinaram o desvio urgente de um navio do armador Maersk para Sines. Uma situação superada com sucesso, revelou fonte da CP Carga, também devido à entrada de uma nova grua no terminal ferroviário.” A operação ao nível da eficiência duplicou “, referiu, indicando a possibilidade actual da operação de carga e descarga nas duas vias em simultâneo, contra a situação anterior que só permitia a manobra numa via.

Entretanto, para optimizar mais o tráfego de contentores no porto de Sines por via férrea, outros factores estão a ser preparados. Um deles decorre do aumento do terminal ferroviário que acompanha a expansão do Terminal XXI.  “A movimentação de contentores dos nossos clientes no nosso terminal cresceu, consequentemente o nosso objectivo passa por expandir o número de vias para 4 [existem no presente duas vias]. Actualmente temos um acordo com a CP Carga que prevê aumentar o número de comboios diários para 18“, indicou fonte do gestor do Terminal XXI.

A recente introdução de um guindaste de pórtico sobre pneus (RTG) veio permitiram agilizar a operação, indicou fonte próxima do processo. Um ganho na optimização que “permite operar duas linhas, e carregar e descarregar dois comboios” em simultâneo, referiu. Evolução que comporta, no terminal ferroviário, receber e expedir comboios em intervalos que poderão vir a ser inferiores a três horas com manobras incluídas. Como suporte no processo de carga e descarga dos contentores fazem ainda parte dois Reach Stackers, alocados à operação ferroviária.

Apesar dos números diários ainda terem margem de progressão no terminal, o constrangimento da operação ferroviária surge logo na Linha de Sines. A diminuição dos canais disponíveis é uma dos questões apontadas, juntamente com as pendentes de infraestrutura, como é o caso da rampa de Ermidas. Onde a operação pode representar cerca de menos 300 toneladas por comboio. Valor que na MSC se pode expressar no número final de contentores (normal 44 TEU/comboio) com implicação nos ganhos de eficiência, ou na limitação de tracção máxima de um comboio por parte da CP Carga. Rui Ribeiro – Portugal in “Webrails.tv”

domingo, 30 de março de 2014

IX Jogos da CPLP

Comissão permanente estipula data para jogos da CPLP

Os IX jogos desportivos da Comunidade de Língua Portuguesa (CPLP) serão disputados em 2014 entre os dias 23 de Julho a 02 de Agosto, segundo ratificação da comissão permanente do evento reunida sábado, 29 de Março de 2014, no pavilhão Multiusos de Luanda.

O fórum, que contou com a presença dos directores dos desportos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Portugal e Brasil, confirmou que a competição será disputada em andebol sub-17 (feminino), atletismo sub-16 (ambos os sexos) nas especialidades de estafeta olímpica (100, 200, 400 e 800 metros), individuais (100, 200, 400 e 800 metros), salto em comprimento e lançamento de peso.

Evoluirão ainda na prova que a cidade de Luanda vai albergar pela segunda vez, depois da edição de 2005, as modalidades de Basquetebol sub-16 (masculino), futebol sub-16 (masculino), Judo sub-17 (ambos os sexos), natação de águas livres sub-17 (ambos os sexos), ténis sub-16 (ambos os sexos), ténis de mesa sub-17 (ambos os sexos), voleibol de praia sub-17 (ambos os sexos) e desporto adaptado em atletismo sub-20 (ambos os sexos).

De acordo com as conclusões finais da reunião, cada delegação será constituída por 132 pessoas entre atletas e dirigentes. A inscrição, com a indicação das modalidades e número global de participantes, sem indicar nomes, deve ser efectuada até 30 de Abril, enquanto a inscrição nominal das delegações deve ser efectuada até 30 de Maio.

Em termos de previsão, Angola pretende participar com uma delegação de 132 pessoas, à semelhança de Portugal e Brasil. Moçambique (120), Cabo Verde (100), São Tomé e Príncipe (70) e Timor-Leste (30).

 Os delegados ao encontro do Multiusos de Luanda decidiram ainda que o torneio de futebol será disputado no complexo da Associação de Futebol de Angola (AFA) e no estádio nacional da Cidadela. Andebol, basquetebol, judo e ténis de mesa (complexo da Cidadela), natação de águas abertas e voleibol de praia (praia de Luanda), atletismo (campo dos Coqueiros) e ténis (complexo Paz Flor).

 A realização do evento na capital do país resulta da desistência da República de São Tomé e Príncipe. Devido a ordem de subsequência como garante do princípio da rotatividade, Angola é o país que se segue a São Tomé.

O facto foi decidido na VI Reunião da Conferência de Ministros Responsáveis pela Juventude e pelo Desporto da CPLP, realizada em Salvador da Baía, Brasil, dia 01 de Dezembro de 2013.

Em declarações à imprensa após reunião da comissão permanente do evento, realizada no pavilhão Multiusos de Luanda, Inácio dos Santos Carvalho, director nacional dos desportos de Cabo Verde, justificou crer numa boa organização depois da visita efectuada sexta-feira aos recintos da competição e unidades hoteleiras seleccionadas para albergar as delegações.

“Pelo que nos foi dado a ver, Angola está a fazer um grande esforço para albergar os jogos, e neste momento, estão criadas as condições para que em Julho os jovens desfrutem de infra-estruturas e alojamento de qualidade”, frisou.

O responsável explicou que Cabo Verde vai estar presente no máximo da sua força, com uma delegação de 100 elementos e com objectivo de competir, sem deixar de parte a essência da competição que privilegia a convivência e irmandade entre os povos da comunidade.

“Os jovens cabo-verdianos terão o prazer de conhecer Angola, estabelecer relações de amizade com cidadãos de outros países membros, independentemente do aspecto competitivo, que não é o mais importante”, disse.

Os jogos da CPLP, instituídos em 1992, têm contribuído para a união da comunidade, afirmou também à imprensa, em Luanda, o secretário-geral da Conferência de Ministros Responsáveis pela Juventude e pelo Desporto, Augusto Fontes Baganha.

Falando no fim da reunião da Comissão Permanente da IX edição dos jogos, a decorrer de 23 de Julho a 02 de Agosto, na capital do país, disse que a essência do evento privilegia isso mesmo, ou seja, valores como a união, amizade, solidariedade e irmandade, sendo que os resultados desportivos vêm em segundo plano.

O também presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude mostrou-se convicto de que os jogos de Luanda serão bem organizados, tal como foram as restantes oito edições já disputadas. Angop - Angola

Mediação

Cabo Verde vai sediar a Câmara de Mediação e Arbitragem da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CAIMA), uma entidade internacional que irá actuar como meio extrajudicial de resolução de conflitos entre os oito membros da organização. A sede, a ser instalada brevemente na ilha do Sal, deverá gerir diferendos na área de investimento e ainda premiar iniciativas e práticas inovadoras nos sectores da investigação e da justiça de proximidade.

O protocolo rubricado entre o Instituto de Mediação e Arbitragem Internacional (ILMAI) e a Câmara Municipal do Sal é um passo importante no processo de instalação da CAIMA. Trata-se de um acordo de dois anos em que o ILMAI se compromete a promover cursos técnico-profissionais, presenciais ou à distância, em todo o espaço lusófono, principalmente nas áreas de consultoria e assessoria especializada em Mediação e Arbitragem.

No âmbito deste protocolo, a Câmara Municipal do Sal cede o espaço onde vai ser instalada a CAIMA, entidade internacional que tem por missão mediar conflitos que podem surgir entre os países lusófonos nos domínios das relações económicas e comerciais, áreas que assumem particular relevo no mundo globalizado. A sua função é garantir o ambiente ideal para a resolução de litígios. Em outras palavras, um ambiente neutro onde os conflitos são resolvidos de forma eficaz, rápida e confiável.

Segundo o presidente do ILMA, Fernando Tonim, a CAIMA irá contribuir para o fortalecimento e o reforço das relações de comércio, favorecendo o ambiente de negócios entre os países-membros. “Através da sua ampla rede de contactos e vasta experiência na CPLP, este centro vai desenvolver a sua actividade de forma rigorosa e eficaz, contribuindo para o desenvolvimento e internacionalização das empresas e para a melhoria e produtividade das instituições públicas e privadas do espaço da língua portuguesa”.

A CAIMA, explica Fernando Tonim, vai ajudar o funcionamento da Justiça. “Num mundo que se apresenta em constante desenvolvimento, carente de respostas céleres e eficazes no que toca à composição de litígios, a implementação de todo o tipo de iniciativas e actividades que promovam o uso dos meios de resolução extrajudicial de conflitos, este centro representa mais um contributo para o melhor funcionamento da Justiça no seio da CPLP”, frisa.


A ilha do Sal foi escolhida para ser sede da CAIMA “por uma questão geo-estratégica”, afirma o presidente do ILMAI. “O Sal tem a vantagem de ter ligações diárias com o mundo e, por outro lado, temos pessoas cá minimamente capacitadas que nos permitirão arrancar com o centro”. Ora, assinado o protocolo entre o ILMAI e a CMS, o próximo passo a dar é criar a comissão instaladora da CAIMA. Só depois será feita a apresentação pública do projecto em todo o espaço lusófono. Sílvia Frederico – Cabo Verde in “A Semana”

sábado, 29 de março de 2014

Portos: em favor da descentralização

O Porto de Santos movimenta, em media, 25% de todos os contêineres do modal cabotagem, recebe 480 navios por mês, atende à produção de oito Estados, inclusive o de São Paulo, o mais industrializado do País, operou 114 milhões de toneladas em 2013 e é responsável por 25,8% das movimentações da balança comercial brasileira. Segundo dados da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o complexo portuário responde pela exportação de 95% da produção de suco de laranja, 70% de café em grão, 84% de carne bovina, 69% de álcool etílico, 64% de algodão cardado, 63% de açúcar de cana e 47% de milho.

Para enfrentar essa demanda que não para de crescer, não faltam planos – muitos deles sequer saíram do papel e já estão amarelecidos pela ação do tempo. Sabe-se que, feitas as licitações previstas, o governo federal pretende dividir o Porto em dois berços: um que será operado com exclusividade pela empresa vencedora e outro compartilhado por mais operadoras.

Estão previstos investimentos da ordem de R$ 1,39 bilhão em onze terminais nas regiões do Macuco, Outeirinhos, Paquetá, Saboó, Alemoa e Ponta da Praia. Para o bairro do Macuco, está previsto o arrendamento de um terminal para celulose, que funcionará paralelamente a outro que será levantado no Paquetá. Em Outeirinhos, os terminais que movimentam fertilizantes serão unificados e sua capacidade de armazenagem deverá subir de 6,1 milhões de toneladas para 7,8 milhões de toneladas.

No Saboó, os terminais que operam contêineres, veículos e carga geral também ganharão nova configuração, enquanto na Alemoa alguns terminais, hoje inoperantes, deverão ser reativados para aumentar a movimentação de granéis líquidos (petróleo e subprodutos e óleos vegetais). Também deverão ser construídos armazéns e ampliado o atual terminal da Ilha Barnabé.  

Por fim, está previsto um investimento de R$ 473 milhões nos terminais da Ponta da Praia, que movimentam açúcar, soja em grão e milho, as três cargas mais exportadas pelo Porto, embora desde 2006 o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) recomende a transferência desses terminais para a área continental do município. Sabe-se que moradores e a Prefeitura são contra essa ampliação, o que poderá resultar em demorados processos judiciais.

Seja como for, o que se espera é que esses investimentos redundem em maior eficiência operacional, maior movimentação de cargas e tarifas mais reduzidas. Mas, desde já, o que se percebe é que o Porto de Santos não tem como suportar mais do que 30% do total das movimentações da balança comercial. Isso significa que é preciso qualificar outros portos para essa tarefa, reservando-se Santos para produtos de maior valor agregado.

Isso só será possível com a pavimentação da BR-163, que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA, que facilitará o escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste pela hidrovia Tapajós-Amazonas, e investimentos maciços nas ferrovias Leste-Oeste, Norte-Sul, Transnordestina e outras. Sem essa descentralização, o Porto de Santos continuará atendendo à demanda das próximas gerações, mas sempre em meio a problemas gerados por seu gigantismo. Mauro Dias - Brasil
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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

sexta-feira, 28 de março de 2014

Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa

Ontem, dia 27 de Março de 2014, na sede da Comunidade de Países de língua Portuguesa (CPLP), a Literarte, Associação Internacional de Escritores e Artistas, com sede em Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil, fundada a 10 de Julho de 2010, apresentou o Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa, que será a sua delegação na capital portuguesa.

O Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa pretende homenagear académicos, escritores e artistas das mais diversas áreas, agregando-os ao Núcleo e convidou mais de cem personalidades ligadas à cultura lusófona para tomarem posse como Membros de Honra, Académicos Correspondentes e Académicos Correspondentes Estrangeiros.

A Mesa foi presidida pelo jovem escritor Samuel Pimenta, de Portugal, Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa, acompanhado do Vice-Presidente Delmar Maia Gonçalves, presidente da Direcção do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD), de Moçambique, de Izabelle Valladares, do Brasil, presidente da Literarte, Diva Pavesi, presidente da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture, natural do Brasil e Dinorá Couto Cançado, escritora, pedagoga, especializada em inclusão, também do Brasil.

Entre as figuras lusófonas que tomaram posse, a grande maioria dos convidados estiveram presentes, destacamos Pilar Del Rio e Maria João Gama de Portugal, Amilca Ismael, Ribeiro Canotilho e Roberto Chichorro de Moçambique, David Levy Lima de Cabo Verde, Maria Dovigo da Galiza, Marcelo Csettkey e Giselle Wolkoff do Brasil.

O registo do discurso de Samuel Pimenta presidente do Núcleo:


Aturujo à Cultura
Texto do discurso de abertura da Cerimónia de Tomada de Posse dos Membros de Honra,
Académicos Correspondentes e Académicos Estrangeiros do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa

No fim-de-semana passado, estive num encontro poético na Galiza, “Aturujo à Terra”, chamava-se. Aturujo é o grito, um urro de alegria, quase xamânico. É a vida a manifestar-se. Percebi que o aturujo está impregnado no ser dos Galegos, dotando-os de uma verticalidade inabalável e de uma resistência impossível de domar. E ao mesmo tempo em que se impõem, altos e distintos como as montanhas, os galegos trazem no sorriso e no abraço a doçura do cheiro do mar e a beleza das camélias que cobrem aquelas terras. Falo-vos disto porque tomei consciência da força daquela gente. Da simplicidade do que têm e do que são, fazem obra grande e notável. Assumem a tradição e a história que os define e renovam-na numa Cultura sagrada. Repito, sagrada. E se ousarem castrá-los, eles resistem, resistem, resistem e resistem outra vez.

Falo-vos dos nossos irmãos Galegos que a fronteira separou de nós por ver neles o que sonho para Portugal e, ouso dizer, para a Lusofonia. Que possamos resistir sempre que nos quiserem domar. Que possamos assumir a nossa identidade enquanto falantes do Português, uma identidade feita de identidades, pois um falante de português no Brasil é diferente de um falante de português em Angola, há hábitos culturais que lhes são distintos, e que caminhemos juntos nesta multiplicidade de identidades que nos define.

A Cultura é múltipla e, por isso, é sagrada e essencial. Determina-nos. Se vos perguntar se têm um lema de vida, certamente citar-me-ão a frase de um livro que leram. Se vos perguntar se têm um olhar particular sobre o mundo, certamente esse olhar foi determinado pelas pinturas ou pelos filmes que viram. A Cultura é a Estrela Polar que nos orienta os passos enquanto civilização, de uma forma livre e consciente. É a promotora do encontro com o outro e, por isso, dos afectos e do amor universal. E se mergulharmos novamente em tempos sombrios como os que já vivemos, neste tempo em que as ameaças de os vivermos novamente surgem de todas as latitudes e longitudes, a Cultura é o farol que se impõe, é a luz: sempre altiva, vertical e indomável.

Conto com todos vós para que possamos traçar um caminho de seriedade e excelência, um caminho que promova o encontro, a partilha e a oportunidade de fazer de forma nova e diferente. Que possamos fazer com que despontem novas auroras e que tenhamos a vigilância para definirmos o momento de resistir. Saibam que, comigo, terão sempre alguém que quererá ouvir-vos e aprender. Que todos juntos possamos fazer do Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa uma referência de mérito, vanguarda, activismo e liberdade, em Portugal e em todo o mundo da Lusofonia. Todos somos essenciais para o equilíbrio desta Terra em que vivemos. Basta que aprendamos a focarmo-nos naquilo que realmente importa, o que nos une. Baía da Lusofonia

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Samuel Pimenta, escritor, nasceu em Alcanhões, Santarém, Portugal, a 26 de Fevereiro de 1990. Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, começou a escrever com 10 anos. Em 2007, viu-se classificado em 2.º lugar no Concurso de Escrita da Biblioteca Municipal Dr. Hermínio Duarte Paciência, em Alpiarça. Em 2010, foi um dos contemplados com o VI Prémio Literário Valdeck Almeida de Jesus na vertente de Poesia, no Brasil. Em 2011, foi cronista na revista online "Clique". Foi vencedor do Prémio Jovens Criadores 2012, na vertente de Literatura, promovido pelo Governo de Portugal e pelo Clube Português de Artes e Ideias, com o poema “O relógio”. Tem participado em diversas conferências e encontros literários e tem colaborado com publicações em Portugal (Revista LER), Brasil (Revista Orobó), Angola (Jornal Cultura) e Moçambique (Revista Literatas). Actualmente, é cronista do site de informação "Rede Regional", escreve regularmente para o seu blog pessoal (samuelpimentablog.blogspot.com) e dinamiza tertúlias literárias.

Hélder Macedo em Macau

“A Língua Portuguesa vai ser preservada por razões culturais e políticas”

Não gosta do termo lusofonia, mas é precisamente sobre o que hoje conhecemos como isso de que nos fala Hélder Macedo, poeta, escritor, ensaísta, crítico e investigador português. Sobre a literatura lusófona, que analisa na nossa conversa, explica que é inteligível por toda a gente que fala português, mas que varia consoante a cultura que a escreve. Já dizia Camões que todo o mundo é composto por mudança e isso mesmo afirma também este poeta sobre a nossa língua – há ainda muito a descobrir sobre a lusofonia e a China pode dar uma ajuda nisso

É-nos apresentado como sendo um dos grandes pensadores português, além claro de escritor e poeta. Como analisa isto?

Foto: Hoje Macau
Meu Deus! Exagero ou ironia. (risos) Como toda a gente, procuro entender as coisas na medida do possível. Por isso, tenho muitas actividades. Por um lado sou académico, sou universitário, escrevo ensaios. Por outro lado, sou escritor, romancista e poeta. Aliás, comecei precisamente com poesia. Mas, quando se vive muito tempo como eu, até agora, vai-se fazendo algumas coisas assim… o que é importante é tentarmos relacionar as coisas umas com as outras.

E é fácil esse relacionamento de papéis?

Depende. A pessoa nem pensa muitas vezes que está a fazer a relação, mas está automaticamente a fazê-la. Você, todos, faz isso também na sua vida.

Sente que, pelo seu currículo e conhecimento, está, muitas vezes, confinado à literatura lusófona ou à lusofonia?

Não. O que acontece é que todos nós usamos áreas diferentes de nós próprios para as diversas actividades. Quando procuro pensar na obra de um escritor que admiro, procuro entender as coordenadas do que está lá escrito e tentar entender o pensamento do escritor. Quando estou a escrever – uma ficção, por exemplo -, aí procuro imaginar mundos possíveis, coisas alternativas. Nunca escrevo realmente sobre o que me acontece, mas invento situações e personagens. É, no fundo, um mundo de fantasia que a pessoa [que escreve] tenta dar uma aparência de um certo rigor. Poesia é, no fundo, a coisa mais misteriosa, porque vem de zonas interiores. Aí, há um momento de magia que é melhor deixar acontecer.

Podemos dizer que tem uma certa inspiração no mundo real para as suas obras de ficção, mas não para a poesia?

Excepto que também tem. Mas não é uma resposta tão imediata, é mais filtrada por dentro. É mais um processo interior.

Há a tendência de caracterizar tudo o que seja literatura proveniente de países falantes do português como literatura lusófona. Podemos categorizar a literatura lusófona desta forma?

Só na medida em que a língua é comum. Mas, são coordenadas diferentes. A Língua Portuguesa é inteligível por toda a gente que fala português – seja em Manaus, seja em Luanda -, mas as coordenadas são diferentes. Nessa medida, tenho uma certa hesitação ao pensar nisso… para já, não gosto nada do termo lusófono. É horrível. Contudo, até agora, ninguém inventou nada melhor e temos de usar isso. O que acontece é que não há donos da língua e o que é fascinante numa língua como a portuguesa é que pode veicular experiências e culturas totalmente diferentes umas das outras. Há um substrato comum, evidentemente – todos nos podemos ler uns aos outros. Quem pensar em termos literários, pensará, sei lá, num Camões, quer no Brasil, quer em Angola, quer em Moçambique, como alguém que conseguiu, de facto, ter uma visão do mundo extraordinária, escrevendo em Língua Portuguesa. Mas, na realidade, há uma grande diversidade. Quando falam em literaturas africanas de expressão portuguesa, acho que é ainda um rescaldo, uns restos, uma ressaca colonialista. Angola é muito diferente de Moçambique. Sim senhor, há o elemento português comum, mas, se formos ver em termos históricos, até ao século XVIII, a capital de Moçambique era Goa e, no século XIX, Angola era controlada pelo Brasil. Portanto, as coordenadas são diferentes.

As raízes que dão origem à literatura escrita por esses países é, portanto, diferente?

É diferente. Lógico que é diferente, havendo, contudo, esse elemento comum. Aliás, isso acontece também na língua inglesa. Há indianos que escrevem em inglês, nigerianos que escreve em inglês… mas, isso são culturas diferentes, veiculadas pela mesma língua, por essa língua. Esse é um aspecto fascinante das línguas – e da Língua Portuguesa especialmente, porque é uma língua extremamente rica nisto -, que consegue veicular culturas e experiências totalmente diferentes umas das outras.

Tinha precisamente essa questão sobre o termo lusofonia de que falou há pouco. Podemos ver esse termo, hoje em dia, como um produto que é vendido? Como analisa isso?

É. Para já, tem que se dar um nome qualquer a esse facto comum da língua e as pessoas não querem usar “a portuguesa”, para não parecer ser uma afirmação de Portugal sobre o Brasil, a Angola, Moçambique, etc. O que é absurdo, porque a língua é portuguesa. A partir daí, a coisa ramificou-se. Se usarmos, mais uma vez, o exemplo dos ingleses, podemos ver que a língua que é falada é a língua inglesa – ‘the english language’ – e aceita-se como tal. Mas, os portugueses preocupam-se muito com essa ideia de que falei e, então, vão buscar esse patético termo ‘luso’ – que mitologicamente, até era simpático, porque Luso era o protegido ou filho de Baco, de modo que era óptimo para ir para os copos -, mas é um termo absurdo, que ninguém entende realmente o que significa. É um termo.

E se pudesse dar-lhe outro nome? Já pensou nisso?

Já tentei pensar nisso, mas ainda não consegui, sinceramente. Teria que ser Língua Portuguesa.

É a primeira vez que está em Macau. Já teve tempo para “analisar” a cidade?

Dei um passeio maravilhoso hoje [segunda-feira]. Andei pelo centro da cidade, fui ver as coisas habituais.

Apercebeu-se do uso da Língua Portuguesa?

Sim, sim. Bom, o que acho extraordinário é que todas as ruas têm os nomes em português e, depois, parece que algumas, quando é transliterado para chinês, reproduzem o som. Os edifícios públicos têm todos também as legendas em português, mas ninguém fala português na rua.

Vinha com essa esperança, de ouvir falar português, uma vez que é a ideia que ainda se tem de Macau?

Não. Sabia que pouca gente falava português, mas pensei, por exemplo, que os funcionários da alfândega, dos passaportes, falassem algum português. Mas, não. É-lhes mais fácil falar inglês do que português.

Vem a Macau dar uma palestra sobre ‘Portugal e Cultura Lusófona no mundo contemporâneo’. Podemos dizer que há uma perda de identidade da literatura e da cultura portuguesa e lusófona nestes tempos mais modernos?

Todas as culturas – sobretudo as europeias – têm inter-penetrações de toda a ordem. Uma coisa que acontece que é perigoso para culturas como a portuguesa é que há o domínio das culturas anglo-saxónicas. O que acontece é que a importância cultural vai-se deparar com a importância económica e a política. Há a criação de uma espécie de mesmismo universal, em que toda a gente – mais ou menos – tem coordenadas anglo-saxónicas e pode perder as suas coordenadas nacionais ou, pelo menos, deixá-las ficar um bocado diluídas. Ora, isso é perigosíssimo porque é a especificidade das culturas. Nós, de Língua Portuguesa, de maneira geral, temos a vantagem de conseguir compreender outras línguas. Ler inglês ou francês… os de língua inglesa, não. De modo que, para eles, o universo acontece em inglês e perdem a noção da diferença e da variedade. Curiosamente, as culturas como a portuguesa enriquecem-se com a globalização cultural. Mas, as culturas dominantes da globalização empobrecem, porque não notam a diferença.

Podemos dizer que há um país lusófono, falante do português, que preserve melhor a Língua Portuguesa, entre todos os existentes?

Não se pode generalizar. Bem, o país em que mais se fala português é o Brasil, mas as diferenças – tanto de léxico, como de pronúncia – dentro do Brasil são imensas, enormes. Entre o português que se fala no Rio Grande do Sul e o que se fala em Pernambuco, por exemplo, é uma diferença maior do que o português que se fala em Lisboa e São Paulo. Portanto, há essa imensa diversidade. Há áreas do Brasil onde se fala um português muito bom. As línguas evoluem. Não há pureza de língua. O que a pessoa tem é de entender a especificidade das línguas, ter consciência das raízes linguísticas, mas não usar essas coisas como coletes-de-forças. As línguas têm de evoluir e têm de mudar.

Isso não faz com que se possa perder a lusofonia?

Foto: Hoje Macau
Não, de forma nenhuma. Até devido, precisamente, ao poder económico que o Brasil tem cada vez mais. De momento, é através do Brasil que o português se está a tornar numa língua universal. Tempo houve, que foi através de Portugal, devido ao seu passado colonial. Actualmente, em termos diferentes porque são termos económicos, o Brasil é dominante. E, sei lá, se Angola e Moçambique vierem a ter o futuro que a gente deseja, a língua vai ser preservada também por razões culturais e políticas através dos africanos.

Ainda há muito a descobrir sobre a lusofonia e a cultura lusófona?

Imenso a descobrir. Por exemplo, o que vai acontecer quando a China desenvolver o seu programa de cultura portuguesa. Os chineses estão a investir imenso na Língua Portuguesa por causa do Brasil, de África, da globalização. Mas, por outro lado, no estilo muito rigoroso que parece que têm, querem aprender a norma europeia, essencialmente. Quando um país como a China adoptar como um dos seus instrumentos de expansão económica e cultural a Língua Portuguesa, isso vai dar uma outra dimensão [à língua e cultura portuguesas]. Será extremamente interessante, porque, como o chinês não é tão acessível, em termos de mercados, como o inglês é, eles terão de diversificar as suas abordagens e isso é uma coisa fascinante e que contrasta, para mim, com o que acontece na Índia. Os indianos adoptaram como língua nacional a língua colonial inglesa, que não era a deles, e baniram, por exemplo em Goa, o uso do português. O que é uma coisa idiótica. Por um lado, andam a chular a herança cultural portuguesa – as igrejas, aquelas coisas todas – e não investem na Língua Portuguesa.

E a China está a fazer esse investimento.

Está a fazer o oposto, sim. O que é, quanto a mim, muito mais inteligente e muito mais interessante.

Em Inglaterra, onde ensinava, dava aulas sobre a lusofonia?

Sim. Fui o professor catedrático – com o título Camões Professor – no departamento de estudos portugueses do King’s College.

Como é que a língua inglesa reage a esta cultura portuguesa?

Depende. As pessoas mais cultas têm uma certa noção de algumas coisas. Mas os ingleses lêem muito pouco autores de outras línguas. Eles publicam nigerianos, paquistaneses, americanos… tudo em inglês. Traduz-se muito pouco para inglês. Portanto, só os ingleses mais cultos é que têm noção de outras literaturas existentes noutras culturas. Alguns autores, sim, como Fernando Pessoa – muito -, o José Saramago – mesmo antes do Nobel – era muito lido, mas há uma pequena, muito pequena, penetração. Joana Freitas – Macau in “Hoje Macau”

Hélder Macedo nasceu na África do Sul em 1935 e, além de escritor e poeta, é tido como um dos grandes pensadores portugueses. Passou a infância em Moçambique e, 1948, foi para Lisboa, onde estudou Direito. Devido à sua oposição ao regime, exilou-se em Londres onde, entre 1960 e 1971, foi colaborador regular da BBC. Após o 25 de Abril regressou a Portugal tendo Secretário de Estado da Cultura. Regressou a Inglaterra, onde foi professor titular da cátedra Camões, função que acumulou com a de director do departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, do King’s College, até 1991.
A convite do Instituto Politécnico de Macau e do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa da instituição, Hélder Macedo esteve em Macau para dar uma palestra sobre “O Português e a Cultura Lusófona no Mundo Contemporâneo”. Participou ainda como júri do concurso de declamação de poesia do IPM.

Ferrovias: investir é fundamental

Apesar do empenho do poder público em fazer obras que facilitem o escoamento de cargas pelo modal rodoviário, como o anel viário de Cubatão, cuja conclusão está prevista para setembro, é preciso deixar claro que os congestionamentos nas rodovias e acessos em direção ao Porto de Santos são resultado de uma política dos terminais portuários que deixaram de utilizar as ferrovias.

Mas esse é só um lado da moeda. O outro é que, provavelmente, os terminais deixaram de utilizar a ferrovia por falta de investimentos neste modal e por uma desastrosa política levada a efeito por administradores públicos de mentalidade estreita que contribuiu para o sucateamento do sistema ferroviário e desativação de linhas.

O resultado dessa incúria do poder público é que hoje o governo federal tem planos de investir R$ 10 bilhões no sistema ferroviário nos próximos cinco anos, o que inclui a ampliação e abertura de novas linhas nas ferrovias Leste-Oeste, Norte-Sul, Transnordestina e outras. Mas, a levar-se em conta a demora com que as obras públicas são executadas no Brasil, não se pode alimentar muito otimismo. Basta ver que o Rodoanel, projeto essencial para a competitividade e economia do Estado de São Paulo, anunciado em 1990, já passa dos 20 anos e não está concluído.

Portanto, embora seja apontado como uma das soluções para os gargalos logísticos que atravancam o Porto de Santos, o modal ferroviário, dificilmente, terá sua utilização intensificada nos próximos anos por falta de infraestrutura. Além disso, a nova Lei dos Portos (nº 12.815/13) tem falhas que só deverão contribuir para que o modal continue a atuar de maneira marginal no sistema logístico do País.

Uma dessas falhas é que a nova legislação não estabeleceu a obrigatoriedade de construção de pátios ferroviários nos novos terminais de uso privativo (TUPs) para viabilizar a integração e o escoamento das cargas por empreendimentos públicos como o Ferroanel, por exemplo. Além disso, os TUPs não contemplam um planejamento mínimo de capacidade ferroviária em seus acessos.

Sem contar que não há hoje, como havia em outras épocas, uma restrição para a permanência do vagão dentro do terminal portuário, dependendo do produto ou do processo aduaneiro. O resultado disso é que hoje, no Porto de Santos, os ramais ferroviários estão à beira de um colapso, já que não há mais espaço para manobras por excesso de cargas.

Seja como for, é necessário ampliar-se a participação do modal ferroviário na matriz de transporte brasileiro, hoje ao redor de 25%, segundo o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), do Ministério dos Transportes. Se hoje o transporte rodoviário representa 58% da movimentação de cargas, o ideal seria que caísse para 30%, ficando numa situação semelhante à verificada nos países mais desenvolvidos.

Para isso, no entanto, é preciso que o governo federal lidere uma ofensiva de investimentos em ferrovias e hidrovias, buscando parcerias com a iniciativa privada, dentro e fora do País. Mauro Dias - Brasil

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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicam  p). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

quinta-feira, 27 de março de 2014

Guiné Equatorial e Angola solidários com a FAO

Foto: FAO / Paballo Thekiso
FAO apela para que se acelere a transformação económica e o desenvolvimento em África

A Conferência Regional para a África centra-se nos pequenos agricultores e na agricultura familiar

Apesar do notável progresso económico e dos sucessos na agricultura, África continua a ser o continente com mais insegurança alimentar no mundo, níveis relativamente baixos de produtividade agrícola, baixos rendimentos rurais e altas taxas de desnutrição, afirmou a FAO hoje.

Com o início da 28ª Conferência Regional da FAO para a África na Tunísia, a Organização das Nações Unidas apelou aos ministros da Agricultura africanos para que atuem nas áreas prioritárias para acelerar os investimentos e as transformações a favor dos pequenos agricultores, incluindo os jovens e as mulheres rurais.

África tem observado um crescimento económico estável desde 1999, com melhorias nos indicadores de governação e de desenvolvimento humano. Atualmente, sete das dez economias que mais crescem no mundo estão neste continente e o Fundo Monetário Internacional estima que o crescimento económico na África Subsaariana será de 6,1 por cento em 2014.

O PIB total anual de África cresceu em média 4,8 por cento entre 2000 e 2010, em comparação com 2,1 por cento na década anterior, e as taxas de crescimento da agricultura nas décadas mencionadas foram de 3,2 e 3,0 por cento, respetivamente.

África alcançou uma série de sucessos ao nível da agricultura em áreas importantes, incluindo a intensificação da produção de alimentos básicos, as variedades melhoradas de banana no leste e centro do continente, as variedades de milho de alto rendimento a leste e a sul, e o aumento da produtividade de algodão no Burkina Faso e no Mali, bem como do chá e da floricultura na África Oriental.

"A questão está em saber como os líderes africanos podem tirar partido destes progressos através de políticas agrícolas e fiscais estáveis ​​que incentivem o investimento, de acordo com o compromisso assumido há dez anos na Declaração de Maputo, e fortalecer os mecanismos de governança e prestação de contas que contribuem para uma implementação mais sistémica de políticas e programas", afirmou Bukar Tijani, Diretor-Geral Adjunto da FAO e Representante Regional para a África.

"Estas ações são fundamentais para desencadear uma mudança na capacidade dos países de alcançar um crescimento e um desenvolvimento agrícola sustentados e generalizados."

A Conferência vai promover a criação de condições favoráveis para acabar com a fome no continente em 2025, concentrando-se principalmente na exploração do potencial da agricultura sustentável, da pesca, da pecuária e da silvicultura para garantir emprego e rendimentos aos jovens, às mulheres e aos homens africanos que se dedicam a estes sectores para a sua segurança alimentar e nutricional, bem como às empresas alimentares que visam aumentar os rendimentos familiares.

A evolução da agricultura, alimentação e nutrição em África

A evolução da produção de alimentos per capita foi geralmente positiva nas últimas décadas. Em média, a produção agrícola em África aumentou quase 1 por cento ao ano, contra cerca de 2 por cento nos países em desenvolvimento como um todo. Ainda que África tenha observado uma elevada volatilidade dos preços dos alimentos, a produção de alimentos per capita cresceu a um ritmo constante ao longo dos anos e a variabilidade foi relativamente baixa em comparação com outras regiões, como a Ásia ou a América Latina.

Mas apesar do progresso na redução da fome e da má nutrição em África nas últimas décadas, os níveis absolutos da fome e da desnutrição continuam a ser uma preocupação na África subsaariana, segundo a FAO.

Segundo as estimativas, a taxa de pobreza em África teve apenas um ligeiro decréscimo, de 56 por cento em 1990 para 49 por cento em 2010, deixando ainda 388 milhões de pessoas na pobreza extrema e 239 milhões de vítimas de desnutrição crónica. A situação de segurança alimentar no Sahel e no Corno de África continua especialmente preocupante.

África tem sido até 2012 o continente que fez menos progressos na redução da pobreza. Segundo o Relatório de 2012 das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), África estava 41 por cento abaixo do necessário para alcançar o ODM 1 sobre a pobreza, em comparação, com 25 por cento para a Ásia do Sul e 6,1 por cento para a América Latina.

No entanto, onze países africanos já atingiram a meta do primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milénio de reduzir para metade a percentagem de pessoas com fome entre 1990 e 2015 (ver caixa à direita). Três países – Djibuti, Gana e São Tomé e Príncipe – também alcançaram o objetivo ainda mais ambicioso da Cimeira Mundial da Alimentação de 1996, de reduzir para metade o número de pessoas desnutridas.

Criar condições favoráveis ​​ao investimento

Para competir com as importações nos seus próprios mercados em crescimento, quer o doméstico e quer o regional, os agricultores e as agroindústrias africanas têm de melhorar a eficiência da cadeia de valor a todos os níveis, afirmou a FAO.

A Organização observou que existe um vasto potencial para acelerar a agricultura e o agronegócio de pequena escala em África, como bases para a transformação e comercialização do sector.

Com a rápida urbanização, cerca de 40 por cento da população africana vive atualmente em cidades e consome cerca de 50 por cento do total de alimentos, o que aumenta a importância das cadeias de abastecimento alimentar rural-urbanas.

Segundo a FAO, os decisores políticos devem ver este mercado urbano como uma oportunidade, pelo menos tão importante como o mercado de exportação, uma vez que é mais acessível às pequenas explorações e empresas familiares.

Muitos exemplos interessantes atestam o crescimento dinâmico das cadeias de abastecimento rural-urbanas e dos sistemas alimentares em todo o continente, por exemplo: os moinhos de farinha de teff que vendem aos mercados retalhistas de Adis Abeba; a cadeia de abastecimento de milho no Senegal, com o aumento da oferta comercial de milho-painço embalado e de milho associado a produtos lácteos para o mercado de Dakar e para exportação; a cadeia de abastecimento de frango nas áreas urbanas da Nigéria, de Moçambique e de muitos outros países africanos, dando origem a uma série de explorações locais e regionais; bem como o rápido crescimento dos processadores de laticínios ligados a pequenos agricultores no Quénia e na Zâmbia.

É preciso um esforço concertado para ajudar um maior número de agricultores familiares pobres a ter acesso a fatores de produção agrícola, a crédito acessível e a serviços de extensão rural, para que possam tirar partido do mercado em crescimento. Além disso, programas inovadores de proteção social e de gestão de risco são necessárias para responder aos problemas específicos de pequenos agricultores, afirmou a FAO.

Manter o ímpeto do CAADP

Com o objetivo de reforçar as contribuições da FAO para a implementação do Programa Integrado para o Desenvolvimento da Agricultura em África (CAADP) a nível nacional, regional e continental, a Organização realizou várias iniciativas importantes em 2013 para fortalecer e alinhar as capacidades relacionadas com as atividades do CAADP para o próximo biénio.

Em julho de 2013, a FAO trabalhou com a Comissão da União Africano e o Instituto Lula para organizar uma reunião de alto nível, em Adis Abeba (Etiópia), no âmbito do tema: "Rumo a um Renascimento Africano: parceria renovada para uma abordagem unificada para acabar com a fome em África em 2025 no quadro do CAADP."

A Declaração Final da reunião de alto nível – que foi também aprovada em janeiro de 2014 na Cimeira da União Africana – apela aos líderes africanos para erradicar a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição no continente até 2025. O roteiro recomenda ações conjuntas para integrar e implementar a "parceria renovada", que serão executadas principalmente com recursos próprios e com o apoio dos parceiros técnicos e de desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, o Fundo Africano de Solidariedade para a Segurança Alimentar foi lançado durante a 38ª sessão da Conferência da FAO em junho de 2013. O Fundo conta atualmente com 40 milhões de dólares para prestar apoio inicial a projetos realizados na República Centro Africana, na Etiópia, no Malawi, no Mali e no Níger. As principais contribuições até ao momento vieram da Guiné Equatorial e de Angola. O Fundo é um dos poucos mecanismos inovadores para a mobilização de recursos de África para África.

A Conferência Regional da FAO para África realiza-se de 24 a 28 de março de 2014 na capital tunisina. Ao todo vão participar 54 Estados-Membros Africanos, trinta serão representados a nível ministerial. Além disso, vários países estarão presente como observadores (Alemanha, Áustria, China, Espanha, EUA, França, Itália, Índia, Países Baixos, República Dominicana, Reino Unido, Suécia, Suíça e a Santa Sé). FAO - Tunísia

Pode aceder ao documento em língua portuguesa aqui

quarta-feira, 26 de março de 2014

Os Idos de março

Sete e trinta e oito da manhã. Há luz plena na rua. Ainda não é cálido o dia. Mas já presta. As árvores têm verdes rebentos e as amendoeiras, tão madrugadoras, já florescem.

No meio da praça da Universidade, um casal muito novinho beija-se, alheio ao mundo arredor. Ela, com a sacola dos livros às costas e farda escolar, em bicos de pés pendurada no pescoço dele. Ele, mais alto, com uma pucha rechamante e a bolsa escolar também pendurada da mão sem esforço. São outros os ritmos e as forças. Os pássaros, obviamente, cantam. É a vida que multiplicada recende e vai para diante.

Escuto no MP3 Fausto:  "O Barco vai de saída" Lembro-me, dos trabalhos na ILP Paz-Andrade, lembro-me de muita gente com saudades e orgulho; e penso, mandando mentalmente saudações, muita cousa.

Dá para pensar no acontecido no reintegracionismo nos últimos cinco e dez anos. Dá também para pensar nos fracos discursos, no acaso de conjunção de ridículos interesses particulares. Dá para pensar em futuros. Mas, deixemos o leitor pensar. Eu preciso doutro café antes para me despertar.

Em 11 de março, súbita e intensa de esperança, também chegou a primavera ao Parlamento galego. Ernesto Souza – Galiza in “Portal Galego da Língua”

Comércio exterior: crescer mais é possível

De 2000 a 2013, as exportações brasileiras passaram de US$ 55 bilhões para US$ 260 bilhões, o que resultou num aumento de 0,9% para 1,3% em nossa participação no comércio mundial, ou seja, houve um ganho de 40%. Levando em conta o tamanho do produto interno bruto (PIB), é claro que essa participação ainda é pequena e tenderia a crescer nos próximos anos, apesar de todos os problemas que existem na infraestrutura logística que comprometem a eficiência das operações e a competitividade dos produtos.

Não se pode minimizar a participação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) nesse crescimento, com sua presença em feiras internacionais, ao lado dos exportadores nacionais. Nem o incentivo que tem oferecido a pequenas e médias empresas para que tivessem suas primeiras experiências no comércio exterior, a partir especialmente do Mercosul.

Mas a verdade é que esse crescimento poderia ter sido maior e talvez a nossa participação no comércio mundial estivesse ao redor de 2%. Para os Estados Unidos, por exemplo, no começo deste século, o Brasil exportava aeronaves, aço e calçados. E, hoje, além desses produtos, vende combustíveis e equipamentos elétricos. Mas, em razão de um viés ideológico que remonta aos tempos da Guerra Fria (1945-1991), o governo deixou de aproveitar as oportunidades que se desenharam com a discussão a respeito da projetada Área de Livre Comércio das Américas (Alca), trabalhando diplomaticamente para o fracasso das negociações

Enquanto os Estados Unidos, o maior mercado do planeta, saíam em busca de outros acordos de livre comércio, o Brasil fechou-se, apostando na Rodada Doha, que defendia o estabelecimento de regras através da Organização Mundial do Comércio (OMC). Como se sabe, depois de uma década de conversações, a Rodada Doha resultou num rotundo malogro, enquanto a OMC, projetada para ser um órgão regulador, virou uma entidade meramente consultiva.

Restou ao Brasil em 20 anos apenas acordos com mercados pouco expressivos, como Israel, Palestina e Egito. E um incremento do Mercosul, para o qual já exportávamos veículos e máquinas e equipamentos e passamos a vender também aço e combustíveis. Para piorar, o Mercosul até agora não chegou a um consenso entre os seus sócios para apresentar à União Europeia uma proposta mínima de um acordo de livre comércio. Mesmo assim, o Brasil soube ampliar suas exportações para aquele bloco, adicionando combustíveis e máquinas a uma pauta tradicional que incluía soja, minério, aeronaves e café em grão.

O que salvou o País de amargar déficits em sua balança foi mesmo o crescimento vertiginoso das exportações de matérias-primas, como soja e minério para a China, e de carne bovina e de frango e açúcar para o Oriente Médio. O que se espera é que o próximo governo adote uma visão mais utilitarista. Isso significa ampliar os laços comerciais com os Estados Unidos e outras economias de grande expressão. Se não for assim, o País corre o risco de ficar a reboque dos grandes acordos que estão em gestação, limitado a cumprir regras estabelecidas por outras nações. Milton Lourenço - Brasil

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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.