Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Pressupostos

Durante o ano de 1985 muitas vozes apregoavam que a iminente entrada na CEE Comunidade Económica Europeia iria trazer riqueza aos portugueses que num período de dez anos alcançariam os vencimentos auferidos pelos povos da europa central. É bom recordar, hoje, dia 01 de Janeiro de 2013, 27 anos passados da entrada efectiva nesta Comunidade, excertos do discurso do primeiro-ministro português da altura, em meados de Junho de 1985, pela ocasião da assinatura do Tratado de Adesão.

“A tarefa primordial que nos ocupará a partir de agora será a de reduzirmos cada vez mais a distância que ainda nos separa dos países desenvolvidos da Europa, criando para os Portugueses padrões de vida e de bem-estar verdadeiramente europeus. Para tanto, não há outro caminho. Precisamos de persistir na via que temos trilhado nos últimos dois anos, praticar uma política financeira de rigor e de verdade, lutar pela estabilidade política como elemento essencial de recuperação económica e de modernização e aprofundar as instituições democráticas, designadamente mediante a prática da solidariedade nacional, da concertação social e do diálogo. O povo português, na sua esmagadora maioria, sabe bem o que a democracia lhe trouxe no plano da cidadania e da dignidade no trabalho, mas também no das realizações materiais. Sabe que uma vivência democrática a nível local, regional e nacional representa um bem de inestimável valor que importa preservar e saber desenvolver em benefício das populações.”

Agora, os políticos daquela época passaram a comentadores e afirmam o oposto do que na altura diziam, que os vencimentos dos portugueses são muito elevados e por isso não somos competitivos, perante países com salários muito superiores. Mas continuemos a ler as palavras do discurso de adesão:

“A palavra será agora conferida às jovens gerações, a quem se abrem exaltantes perspectivas de realização pessoal e de progresso. Principais beneficiários da integração europeia, os jovens terão agora de saber mobilizar-se para a grande tarefa nacional do desenvolvimento e da modernização, por forma a que Portugal venha a ser não só terra de liberdade, de convivência cívica e de tolerância, mas também um espaço de prosperidade, de desenvolvimento científico e tecnológico e de justiça social.”

Que dirão hoje os jovens, se lerem estas palavras ditas quando ainda não tinham nascido? Que pensarão os jovens quando o actual primeiro-ministro os convida a emigrar, porque na terra que os viu nascer, não há trabalho para eles, apenas desemprego…. Mas continuemos:

“Gostaria que as minhas palavras fossem ouvidas pelo povo trabalhador de Portugal, para quem surgem novas perspectivas e potencialidades de progresso e justiça social. Nas mãos dos agricultores, dos operários, dos cientistas, dos homens de cultura, dos empresários, dos quadros, dos intelectuais, dos técnicos, dos artistas e sobretudo dos jovens, de todos os Portugueses em suma, mulheres e homens, está o futuro de Portugal, para cuja construção não faltarão a partir de agora os estímulos e as ajudas necessárias. Não estamos mais isolados. A solidariedade europeia não nos faltará, como hoje aqui ficou comprovado com a presença de qualificados representantes de todos os Estados da Comunidade dos Doze.”

As novas perspectivas e potencialidades foram, o abandono das terras, pois já não era preciso trabalhar na agricultura, havia excesso de produção nos outros países parceiros comunitários, o abate da frota pesqueira, já não havia necessidade de pescar, a oferta de pescado pelos outros membros era elevada, a destruição da indústria, o nosso mercado era pequeno e com custos elevados, passaríamos a ser um país de serviços, principalmente virados para o turismo. Entretanto os centros de decisão das principais empresas rumaram para Barcelona.

A 23 de Outubro de 2000, outro político, na área financeira, mais tarde promovido a um cargo internacional afirmava, entre outros dislates, sobre a entrada de Portugal na moeda euro, o seguinte:

“Sem moeda própria não voltaremos a ter problemas de balança de pagamentos iguais aos do passado. Não existe um problema monetário macroeconómico e não há que tomar medidas restritivas por causa da balança de pagamentos. Ninguém analisa a dimensão macro da balança externa do Mississipi ou de qualquer outra região de uma grande união monetária. Isto não significa que não exista uma restrição externa à economia. Simplesmente esta é o resultado da mera agregação da capacidade de endividamento dos vários agentes económicos. O limite depende essencialmente da capacidade de endividamento dos agentes internos (incluindo os bancos) perante o sistema financeiro da Zona Euro. Se e quando o endividamento for considerado excessivo, as despesas terão que ser contidas porque o sistema financeiro limitará o crédito. O equilíbrio restabelece-se espontaneamente, por um mecanismo de deflação das despesas, e não têm que se aplicar políticas de ajustamento. “


Na realidade, os pressupostos para a integração na União Europeia, já não existem. Na nossa história, as relações com os países europeus não têm sido amistosas para Portugal, começando no primeiro político português a passar os Pirinéus, El-Rei D. Afonso V, que precisou da ajuda do seu filho, o Príncipe João para regressar ao seu país. Está na altura de os portugueses começarem a pensar pela sua cabeça, qual o futuro que pretendem, sem serem influenciados por políticos ou comentadores, que comendo do mesmo tacho, se preocupam mais com eles próprios, do que a família de portugueses onde estão inseridos. Baía da Lusofonia  

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