“É uma utopia útil porque é algo que eu penso
que não vai ser fácil de alcançar a transformação dos países para serem
realmente lusófonos, então eu começo por pôr a questão de saber o que é a
lusofonia. Quando eu penso, vejo a lusofonia como um conceito de países que
falam uma língua que devia chamar-se português, mas neste caso parece chamar-se
língua lusitana, então dá-se a impressão que as nações que nós representamos devem
estar conotadas com uma civilização, com uma cultura lusitana.
Ora as nossas nações são todas muito diversas
e estão muito distantes de ter essa cultura mas que comungam uma língua, uma
língua que não é falada por toda a gente. Em Moçambique calcula-se em menos de
50% as pessoas que falam o português, agora, graças ao esforço que estamos a
fazer, adoptamos como língua de educação e o analfabetismo está a diminuir e a
alfabetização tem sido feita nessa língua, mas isso não implica que a cultura
vai ficar lusófona, porque nós também temos traços culturais muito fortes que,
bom…em Portugal são conhecidos quando passamos por um pintor, mas há muita
coisa que se chama cultura.
Ao designar aquele grupo que formava a CONCP,
nós chamámos de PALOP, países africanos de língua oficial portuguesa, não
chamámos nem de lusófonos nem de países de expressão portuguesa, porque de
facto nos nossos países os povos não são de expressão portuguesa, mas utilizam
o português porque temos uma diversidade linguística nos nossos países e utilizamos
o português.
Um dia talvez podemos consolidar, mas há uma
luta, sabe, nós perdemos um presidente da Frelimo precisamente porque
discutimos esta questão. Nós dirigentes defendíamos que tínhamos de continuar a
utilizar o português, fomos colonizados pelos portugueses, a maior parte das
pessoas educadas sabiam falar português e para poder haver uma comunicação
vamos utilizar o português, mas outros que diziam que não, vamos utilizar o
inglês, porque vai ser a língua internacional, a língua do negócio e vamos
precisar dela e isso criou muito choque.” Joaquim
Chissano - Moçambique In
“Entrevista RDP África”
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