O Presidente da
Comissão Linguística da AGAL (CL-AGAL) Carlos Garrido anunciou a publicação de “O
Modelo Lexical Galego”, texto normativo que, com o subtítulo de “Fundamentos da
Codificação Lexical do Galego-Português da Galiza, representa o primeiro
documento específico e abrangente da Comissão Linguística no domínio da
regulação do léxico da variedade galega da língua galaico-português:
“A
recente saída do prelo de O Modelo Lexical Galego constitui, de facto, todo um
acontecimento no percurso da CL-AGAL e um pequeno marco no desenvolvimento do
Reintegracionismo, porquanto O Modelo Lexical vem a lume cerca de 24 anos depois
de terem aparecido os últimos textos normativos de grande envergadura
produzidos pola Comissom, isto é, a segunda ediçom do Estudo Crítico e o Guia
Prático de Verbos Galegos Conjugados (ambos, de 1989). Ficamos, assim, mais
perto de completarmos a padronizaçom básica da variedade galega do
galego-português, umha vez que a CL-AGAL já realizou a codificaçom ortográfica
(mediante o Estudo Crítico [1983 e 1989], o Prontuário Ortográfico Galego
[1985] e a Atualizaçom da Normativa Ortográfica [2010]) e a morfológica
(mediante o Estudo Crítico [1983 e 1989] e o Guia Prático de Verbos Galegos
Conjugados [1989]), restando apenas a codificaçom prosódica à espera de algum
contributo específico.
O Modelo Lexical
Galego, após o preámbulo e antes do capítulo final de bibliografia,
estrutura-se em duas partes dispositivas, bastante diferentes entre si, mas as
duas necessárias e mutuamente complementares: a primeira parte (cap. 2) é de
natureza analítica (e didática!) e consagra-se a exercer umha prescriçom
enunciativa, quer dizer, expom umha série de regras, medidas ou enunciados cuja
aplicaçom coerente, focalizada em cada um dos fatores e processos degradativos
que incidem sobre o léxico galego contemporáneo, determina a plena regeneraçom
formal e funcional do nosso léxico e, em simultáneo, fai surgir o padrom
lexical galego (PLGz). Exponhem-se, assim, de modo sucessivo e sistemático,
medidas regeneradoras, norteadas por umha constante e enriquecedora coordenaçom
com os padrons lexicais lusitano e brasileiro, que som concebidas para debelar
os fatores degradativos da variaçom sem padronizaçom (geográfica, de registo,
de freqüência), da substituiçom castelhanizante, da erosom, da estagnaçom, da
suplência castelhanizante e do diferencialismo espúrio. Esta primeira parte, cuja
redaçom se baseia na monografia de Carlos Garrido Léxico Galego: Degradaçom e
Regeneraçom (Edições da Galiza, 2011), pode entender-se, pois, como verdadeiro
inventário analítico da histórica degradaçom do léxico galego e das estratégias
mais eficazes para a combater.
Já a segunda parte
dispositiva de O Modelo Lexical Galego (cap. 3), mais breve e de caráter
fundamentalmente prático, constitui um corolário ou derivaçom lógica do
capítulo de prescriçom enunciativa e consta de quatro vocabulários, de pequena
extensom, destinados a explicitar (prescriçom propositiva) em pouco espaço as
unidades que fam parte do PLGz. Os dous primeiros vocabulários compreendem
unicamente os elementos e configuraçons lexicais que som diferentes no padrom
lexical da Galiza aqui definido e no padrom lexical de Portugal (PLPt),
resenhando as pertinentes equivalências, de modo que o primeiro vocabulário é
organizado no sentido PLPt → PLGz, e o segundo vocabulário, inverso do
primeiro, no sentido PLGz → PLPt. Trata-se, portanto, de umha estratégia de
codificaçom propositiva assaz económica, baseada na exclusiva indicaçom das
exceçons à regra geral do isomorfismo ou identidade existente entre os sistemas
lexicais lusitano e galego, e em que os meios e instrumentos definidores do padrom
lexical lusitano, hoje bem eficazes e acessíveis na Galiza (internet!), som
propostos como supletórios para definir o padrom lexical galego. Os
vocabulários 3 e 4, por seu turno, apresentam caráter auxiliar e destinam-se a
relacionar com os correspondentes elementos do padrom lexical galego duas
categorias freqüentes de vozes alheias a tal padrom: os dialetalismos galegos
ou variantes geográficas registadas na Galiza que nom pertencem ao padrom
lexical galego (Vocabulário 3) e os diferencialismos espúrios ainda hoje
freqüentemente usados por utentes cultos de galego (Vocabulário 4).
Nem será preciso
dizer que umha regulaçom e regeneraçom do léxico galego como a que O Modelo
Lexical postula se revela bem mais necessária e urgente para os utentes da
língua (ainda) nom reintegracionistas do que para os já reintegracionistas,
pois se estes, inspirados polo princípio inerente ao Reintegracionismo de
coordenaçom lingüística galego-luso-brasileira, realizam em geral usos lexicais
caraterizados por umha grande vernaculidade, coerência e eficácia, aqueles,
orfos de referência fiável, manejam, quase sem exceçom, um léxico pobre,
deturpado, incoerente e disfuncional. Ora, também para os utentes
reintegracionistas da língua O Modelo Lexical pode e deve erigir-se num útil
instrumento para orientar com segurança os usos lexicais em casos naturalmente
proclives à dúvida e às irregularidades, como som os constituídos pola
conceituaçom dos particularismos lexicais galegos (no seio da Lusofonia), pola
divergência designativa entre Portugal e o Brasil, pola conceituaçom de
castelhanismos presentes nos padrons lusitano e brasileiro, pola substituiçom
castelhanizante de reforço, pola eventual inadequaçom em galego de algumhas
(muito poucas) denominaçons luso-brasileiras, etc., de modo que todas estas
questons, e ainda outras similares, encontram em O Modelo Lexical umha resposta
prática.
Como nom pode deixar
de acontecer numha abordagem racional da problemática lingüística galega, o
padrom lexical galego que O Modelo Lexical contribui para definir é
essencialmente galego e, por isso, substancialmente coincidente com os padrons
lexicais brasileiro e, sobretodo, lusitano. A respeito deste último, o PLGz
aqui definido incorpora um reduzido número de peculiaridades, que, em todos os
casos, som justificadas pola sua genuinidade, funcionalidade, significaçom
social e releváncia expressiva. Deitando umha olhadela às páginas dos
Vocabulários 1 e 2, que apenas registam divergências entre os padrons galego e
lusitano, vemos que som relativamente numerosos os casos em que as diferenças
dim respeito à configuraçom lexical, em que o número ou a natureza dos
elementos semanticamente relacionados varia entre as duas vertentes da língua
(ex.: PLGz: acirrar ==> PLPt: acirrar = açular; PLGz: anho > cordeiro
==> PLPt: cordeiro; PLGz: gago > [tatejo = tato] > tartamudo ==>
PLPt: gago > tartamudo > tato; PLGz: sapo-concho ==> PLPt: cágado >
sapo-concho), freqüentemente pola circulaçom na Galiza de um elemento de
caráter popular que está ausente no padrom de Portugal (ex.: PLGz: [calma =
sossego] + acougo pop. ==> PLPt: calma = sossego; PLGz: clérigo + crego pop.
==> PLPt: clérigo). Quando a divergência di respeito apenas aos elementos
lexicais, som abundantes os casos em que a variaçom se restringe a umha letra
ou fonema (ex.: PLGz: anaco ==> PLPt: naco; PLGz: fento ==> PLPt: feto;
PLGz: renger ==> PLPt: ranger), mas também ocorrem casos de plena
divergência lexemática (ex.: PLGz: palheira ‘ave do gén. Stercorarius’ ==>
PLPt: moleiro; PLGz: rapante ==> PLPt: areeiro; PLGz: zichar ==> PLPt:
esguichar). Casos extremos som aqueles em que se verifica assimetria lexical
absoluta entre as duas vertentes da língua, já que um dos padrons lexicais
carece de soluçom equivalente (ex.: PLGz: maniotas ==> PLPt: 0). Casos
curiosos, enfim, som aqueles em que um dado elemento lexical tem valores
semánticos ou pragmáticos diferentes nas duas vertentes da língua (ex.: PLGz:
serpente + serpe pop. ==> PLPt: serpente + serpe poét.; PLGz: jantar ==>
PLPt: almoço / PLGz: ceia ==> PLPt: jantar; PLGz: rodavalho ‘peixe Psetta
maxima’ ==> PLPt: pregado / PLGz: corujo ‘peixe Scophthalmus rhombus’ ==>
PLPt: rodovalho). Em qualquer caso, convém insistir em que, naturalmente, as
coincidências entre os dous padrons lexicais, o lusitano já definido e o galego
que aqui começamos a definir, avultam muitíssimo mais do que as divergências
(será arriscado aduzir c. 95% de coincidências?).
Padronizar de modo
eficaz o léxico de umha modalidade lingüística é tarefa muito mais complicada
do que codificar a sua ortografia ou a sua morfologia, de tal modo que a
Comissom Lingüística, com realismo, apelida O Modelo Lexical de «fundamentos da
codificaçom lexical do galego». Entende, assim, a Comissom que O Modelo Lexical
é um primeiro contributo neste campo, inexoravelmente necessitado de ulterior
refinaçom, polo que, de facto, na nota de rodapé número 202, ela explicitamente
convida os consulentes do texto para lhe remeterem «sugestons de emenda e
melhoramento»; porém, ao mesmo tempo, ao abrir o subtítulo do documento com a
palavra fundamentos, a Comissom Lingüística também quer manifestar a sua
convicçom de que O Modelo Lexical Galego representa um sólido alicerce
conceptual, um robusto quadro geral de referência, para orientar com eficácia
os usos lexicais da variedade galega do galego-português e para, assim,
podermos configurar também na Galiza a língua verdadeiramente extensa e útil
que todos almejamos.” Portal Galego da
Língua - Galiza
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