“Na presente avaliação da Transparência
Internacional, que envolveu 176 países, Angola colocou-se num nada cómodo
centésimo quinquagésimo sétimo lugar (157º). Ou seja, o nosso país ficou entre
os cerca de 20 países pior colocados.
Não existe unanimidade quanto à consistência
do “Índice de Percepção da Corrupção”:
a)
Há quem o critique pela influência que a corrupção passada exerce sobre os depoentes;
b)
Há também quem o critique pelo destaque que a imprensa geralmente dá a casos
isolados de corrupção – condicionando, psicologicamente, os depoentes;
c)
E, igualmente, há quem o critique pelo método de cálculo utilizado que
dificulta a sua projecção em séries estatísticas.
Mesmo assim, e em termos gerais, é consensual
a ideia segundo a qual o “Índice de Percepção da Corrupção” permite retirar
informação útil sobre o nível de transparência ou opacidade prevalecente nos
diversos países.
A experiência recente de avaliações extremamente
favoráveis que algumas agências de avaliação do risco de crédito fizeram a
determinados bancos que – depois, se verificou serem verdadeiros “gigantes com
pés de barro” e que vieram mesmo a falir – de certo modo relativiza o valor
desse e de outros indicadores. Contudo, mesmo assim, é sempre possível extrair
conclusões interessantes a partir do posicionamento dos países integrantes do
ranking.
Por exemplo, desde há alguns anos a esta
parte, a Somália – país extremamente instável e sem uma governação sólida –
repete-se no lugar menos honroso da classificação (corrupção generalizada), e a
Nova Zelândia vai tendo lugar cativo nas melhores posições do ranking (ausência
de corrupção), juntamente com outros países nórdicos como a Dinamarca, Suécia,
Finlândia e Noruega, países que têm como parceiro muito próximo Cingapura.
Nos últimos lugares da lista é frequente
aparecerem Estados com estruturas governativas frágeis e instáveis, onde se
desenvolvem, ou desenvolveram, guerras ou conflitos internos, tais como o
Afeganistão, Mianmar, Sudão ou Iraque. A Coreia do Norte acompanha-os na cauda
da tabela. Para debelar os seus desses países, a Transparência Internacional
vai apontando como solução:
a)
O reforço das instituições dos Estados frágeis e instáveis;
b)
Uma maior eficácia e independência dos órgãos judiciais;
c)
A criação de órgãos apropriados para combater a corrupção;
d)
A aplicação vigorosa da lei e uma utilização transparente dos orçamentos
públicos;
e)
A independência dos órgãos de comunicação, bem como o reforço da sociedade
civil.
Depois de África, a América Latina é a região
do mundo onde se percebem os maiores índices de corrupção. A Venezuela (165º) é
tida como o país mais corrupto de América Latina, ombreando com o Haiti.
O Brasil (69º) foi cotado como terceiro
melhor da América Latina (tendo apenas a sua frente o Chile e o Uruguai) e o
menos corrupto entre os BRIC’s, os países emergentes que mais crescem no mundo:
Brasil, Rússia (133º), Índia (94º), China (80º) e África do Sul (69º). O Brasil
partilha tal posição com a África do Sul.
A actual melhor imagem do Brasil será,
seguramente, e em grande medida, devida ao julgamento do chamado “Mensalão”,
que pôs nas barras do Tribunal político importantes e empresários, assim como
às recentemente aprovadas “Lei da Ficha Limpa” e “Lei de Acesso à Informação”.
O Botsuana (30º) lidera os países africanos,
países, por regra colocados nos lugares derradeiros da Tabela.
Do conjunto dos países lusófonos, Portugal
(33º) é tido como o menos corrupto, perseguido muito de perto por Cabo Verde
(39º). Seguem-se São Tomé e Príncipe (72º), Timor-Leste (113º), Moçambique
(123º) Guiné-Bissau (150º). Angola (157º) é o país lusófono onde se percebe
melhor a corrupção.
Repito, a lista da Transparência Internacional
inclui 176 países e nós somos o 157º. Não temos, pois, ainda, os angolanos
motivos sérios para embandeirar em arco, como fez o nosso único jornal diário…
Nem será por efeito de mera propaganda que deixaremos para outros o lugar
incómodo em que hoje nos situamos. Será, sim, por acções concretas e pelo
respeito das leis aprovadas, que até já existem.” Pinto de Andrade – Angola
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