Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dezembro


Libertação de prisioneiros de guerra senegaleses: Uma acção consistente do MFDC e de Salif Sadio

Os oito soldados senegaleses detidos como prisioneiros de guerra, após as batalhas de Diégoune, Kabeumb e d’Affiniam, chegaram na noite de domingo, 09 de dezembro de 2012, a Dakar, capital do Senegal, a bordo de um avião fretado pelo governo gambiano. Recuperaram a sua liberdade algumas horas antes, através de um acordo entre o Comité Internacional da Cruz Vermelha, a comunidade italiana de Santo Egídio e a ala militar do Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC), liderada por Salif Sadio.

Os detidos foram repatriados a bordo de uma aeronave fornecida pela Gâmbia, uma demonstração do papel de Banjul e dos serviços de informação do governo de Yahya Jammeh.

Conforme explicaram os nossos correspondentes, os prisioneiros de guerra senegaleses foram entregues às autoridades de Banjul, após intensos esforços diplomáticos, liderados de uma forma discreta, por membros da ala interna e externa do MFDC, da direcção de refugiados da Casamansa na Gâmbia, dos iminentes marabutos e da igreja de Casamansa e de duas personalidades casamanseses Nouha Cissé e Alain Diédhiou que negociaram com Salif Sadio. A comunidade de Santo Egídio e a Cruz Vermelha Internacional associaram-se recentemente para darem um cunho internacional e humanitário a esta libertação.

Homens como o comandante Sambou, Sané e Diédhiou, braços direitos de Salif Sadio, conseguiram demonstrar ao seu líder, a importância de escolher o mês de Dezembro para a libertação dos militares, para todos se lembrarem que este mês, se tornou “sagrado” pela luta da independência.

Algumas datas importantes na história da Casamansa:

1º de Dezembro de 1886 – A batalha de Séléky – três militares franceses, Truche, Seguin e Renaudin perderam a vida.

17 de Dezembro de 1962 – O capitão Faustin Preira, de origem casamansesa, salvou Léopold Sédar Senghor de um golpe-de-estado, atribuído a Mamadou Dia e Amadou Fall. 

22 de Dezembro de 1962 – Os deputados da Casamansa, Ibou Diallo e Dembo Coly são detidos e feitos prisioneiros por exigirem a independência da Casamansa e para não se envolverem na crise senegalo-senegalesa entre Léopold Sédar Senghor e Mamadou Dia.

05 de Dezembro de 1980 – O Abade Diamacoune envia uma carta de 25 páginas ao Presidente senegalês Léopold Sédar Senghor a exigir a imediata independência da Casamansa.

31 de Dezembro de 1980 - Léopold Sédar Senghor renuncia ao cargo de presidente senegalês e cede o lugar a Abdou Diouf a 01 de Janeiro de 1981.

23 de Dezembro de 1982 – Prisão violenta e respectiva deportação para Dakar do Abade Augustin Diamacoune Senghor Secretário-Geral do MDFC e do seu adjunto Mamadou Nkrumah Sané.

26 de Dezembro de 1982 – Marcha pacifista de mais de cem mil pessoas em Ziguinchor. Uma bandeira branca símbolo da paz é içada no edifício governamental. Mais de 200 pessoas assassinadas pelos soldados senegaleses, 400 pessoas presas e torturadas. O comissário da polícia senegalesa Cheikh Tidiane Kane executou a sangue-frio sete pessoas com a sua pistola.

06 de Dezembro de 1983 – Acontecimento de Diabir a Ziguinchor com o massacre no mato de oito agentes infiltrados senegaleses.

13 de Dezembro de 1983 - O Tribunal de Segurança Nacional de Estado senegalês condena nove réus, entre eles o Abade Augustin Diamacoune Senghor, Mamadou Nkrumah Sané, Mamadou Diémé e Sanoune Bodian a 5 anos de prisão e outros dez independentistas a 3 anos de prisão.

18 de Dezembro de 1983 – Mais de 100 000 pessoas manifestam-se pacificamente nas ruas de Ziguinchor para reclamar a independência da Casamansa e a libertação dos presos políticos. Intervenção do exército senegalês, mais de uma centena de vítimas e 700 detidos.

Com esta libertação, o Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) por intermédio de Salif Sadio vem colocar uma forte pressão mediática para empurrar o Senegal a uma intenção de negociar.

Resta saber se, como desejam a chancelaria americana, alemã, gambiana e da Guiné-Bissau que estavam presentes na cerimónia de libertação dos prisioneiros de guerra, o gesto do MFDC vai permitir desbloquear a situação num momento em que o governo no Senegal está paralisado.

Hoje, nós estamos convencidos que no Ocidente, apenas Washington e Berlim têm a firme vontade de trabalhar para uma solução na Casamansa. Os antigos colonizadores da Casamansa, franceses e portugueses, permanecem muito hesitantes, talvez reflectindo uma má consciência neste processo.

O fim da detenção no mato de Casamansa dos militares senegaleses cria um clima favorável para a dinâmica da paz e da independência da Casamansa que gostaríamos de acreditar irreversível. Bintou Diallo - Casamansa - Casamance

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