Libertação de prisioneiros de guerra
senegaleses: Uma acção consistente do MFDC e de Salif Sadio
Os oito soldados senegaleses detidos como
prisioneiros de guerra, após as batalhas de Diégoune, Kabeumb e d’Affiniam,
chegaram na noite de domingo, 09 de dezembro de 2012, a Dakar, capital do
Senegal, a bordo de um avião fretado pelo governo gambiano. Recuperaram a sua
liberdade algumas horas antes, através de um acordo entre o Comité
Internacional da Cruz Vermelha, a comunidade italiana de Santo Egídio e a ala
militar do Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC), liderada por
Salif Sadio.
Os detidos foram repatriados a bordo de uma
aeronave fornecida pela Gâmbia, uma demonstração do papel de Banjul e dos
serviços de informação do governo de Yahya Jammeh.
Conforme explicaram os nossos
correspondentes, os prisioneiros de guerra senegaleses foram entregues às
autoridades de Banjul, após intensos esforços diplomáticos, liderados de uma
forma discreta, por membros da ala interna e externa do MFDC, da direcção de
refugiados da Casamansa na Gâmbia, dos iminentes marabutos e da igreja de
Casamansa e de duas personalidades casamanseses Nouha Cissé e Alain Diédhiou
que negociaram com Salif Sadio. A comunidade de Santo Egídio e a Cruz Vermelha
Internacional associaram-se recentemente para darem um cunho internacional e
humanitário a esta libertação.
Homens como o comandante Sambou, Sané e Diédhiou,
braços direitos de Salif Sadio, conseguiram demonstrar ao seu líder, a
importância de escolher o mês de Dezembro para a libertação dos militares, para
todos se lembrarem que este mês, se tornou “sagrado” pela luta da
independência.
Algumas datas importantes na história da
Casamansa:
1º de Dezembro de 1886 – A batalha de
Séléky – três militares franceses, Truche, Seguin e Renaudin perderam a vida.
17 de Dezembro de 1962 – O capitão Faustin
Preira, de origem casamansesa, salvou Léopold Sédar Senghor de um
golpe-de-estado, atribuído a Mamadou Dia e Amadou Fall.
22 de Dezembro de 1962 – Os deputados da
Casamansa, Ibou Diallo e Dembo Coly são detidos e feitos prisioneiros por
exigirem a independência da Casamansa e para não se envolverem na crise senegalo-senegalesa
entre Léopold Sédar Senghor e Mamadou Dia.
05 de Dezembro de 1980 – O Abade Diamacoune
envia uma carta de 25 páginas ao Presidente senegalês Léopold Sédar Senghor a
exigir a imediata independência da Casamansa.
31 de Dezembro de 1980 - Léopold Sédar
Senghor renuncia ao cargo de presidente senegalês e cede o lugar a Abdou Diouf
a 01 de Janeiro de 1981.
23 de Dezembro de 1982 – Prisão violenta e
respectiva deportação para Dakar do Abade Augustin Diamacoune Senghor
Secretário-Geral do MDFC e do seu adjunto Mamadou Nkrumah Sané.
26 de Dezembro de 1982 – Marcha pacifista
de mais de cem mil pessoas em Ziguinchor. Uma bandeira branca símbolo da paz é
içada no edifício governamental. Mais de 200 pessoas assassinadas pelos
soldados senegaleses, 400 pessoas presas e torturadas. O comissário da polícia
senegalesa Cheikh Tidiane Kane executou a sangue-frio sete pessoas com a sua
pistola.
06 de Dezembro de 1983 – Acontecimento de
Diabir a Ziguinchor com o massacre no mato de oito agentes infiltrados
senegaleses.
13 de Dezembro de 1983 - O Tribunal de
Segurança Nacional de Estado senegalês condena nove réus, entre eles o Abade
Augustin Diamacoune Senghor, Mamadou Nkrumah Sané, Mamadou Diémé e Sanoune
Bodian a 5 anos de prisão e outros dez independentistas a 3 anos de prisão.
18 de Dezembro de 1983 – Mais de 100 000
pessoas manifestam-se pacificamente nas ruas de Ziguinchor para reclamar a
independência da Casamansa e a libertação dos presos políticos. Intervenção do
exército senegalês, mais de uma centena de vítimas e 700 detidos.
Com esta libertação, o Movimento das Forças
Democráticas de Casamansa (MFDC) por intermédio de Salif Sadio vem colocar uma
forte pressão mediática para empurrar o Senegal a uma intenção de negociar.
Resta saber se, como desejam a chancelaria
americana, alemã, gambiana e da Guiné-Bissau que estavam presentes na cerimónia
de libertação dos prisioneiros de guerra, o gesto do MFDC vai permitir
desbloquear a situação num momento em que o governo no Senegal está paralisado.
Hoje, nós estamos convencidos que no
Ocidente, apenas Washington
e Berlim têm a firme vontade de trabalhar para uma solução na Casamansa. Os
antigos colonizadores da Casamansa, franceses e portugueses, permanecem muito
hesitantes, talvez reflectindo uma má consciência neste processo.
O fim da detenção no mato de Casamansa dos
militares senegaleses cria um clima favorável para a dinâmica da paz e da independência da
Casamansa que gostaríamos de acreditar irreversível. Bintou Diallo - Casamansa -
Casamance
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