É preciso executar as obras
O
anúncio do pacote que alterou a Lei nº 8630/93 e criou um novo marco regulatório,
ao que parece, só teve um grande objetivo: mascarar a ineficiência estatal na
gestão dos portos. Mesmo porque as modificações apresentadas como de largo
alcance, ainda que sejam bem justificadas e possam melhorar a produtividade
portuária, só terão efeito se o governo superar alguns obstáculos que, a rigor,
são criados por ele mesmo.
Afinal,
o que está em questão é a incapacidade do governo – e não é só o da União, mas
também os estaduais – de responder às demandas criadas pelo próprio
desenvolvimento. Ou seja, não dá para esconder que o País tem ficado sujeito a
um crescimento pífio em função da incapacidade governamental de melhorar a
infraestrutura. E, sem infraestrutura, o
Brasil continuará limitado a uma participação de 1,3% de tudo o que se vende e
se compra no planeta, o que não condiz com o seu Produto Interno Bruto nem com sua
dimensão territorial e populacional.
Para
não ficar apenas no campo da retórica, pode-se recorrer aos números. Há dias, o
Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) –
portanto, um órgão governamental – divulgou estatísticas que atestam a
incapacidade do governo de tirar do papel os planos que costuma anunciar com
estardalhaço.
Parece
até que voltamos ao tempo do governo Washington Luís (1926-1930), ao qual se
atribui o lema “governar é abrir estradas”. Hoje, uma atualização desse lema
poderia ser resumida nas seguintes palavras: “governar é anunciar
investimentos”. E só.
É
o que mostram os números do Dest: só o Porto de Santos de 2002 a 2011 deixou de
aplicar recursos no valor de R$ 1,003 bilhão, embora essa importância tivesse
sido incluída no Orçamento da União. Da verba de R$ 1,359 bilhão destinada a
investimentos em infraestrutura portuária naquele período, a Companhia Docas do
Estado de São Paulo (Codesp) só conseguiu utilizar R$ 356 milhões, ou seja,
26%.
Se
tivesse tido agilidade para utilizar os recursos, o Porto de Santos já estaria
com as avenidas perimetrais concluídas, o projeto do Mergulhão pronto e, mais
importante, o túnel submerso entre as duas margens construído e aberto ao uso
prioritário dos veículos de carga.
É
claro que a ineficiência não é só da Codesp. As sete companhias docas
subordinadas à Secretaria Especial de Portos seguem o mesmo padrão. Naquele
período, essas companhias tiveram a possibilidade de colocar a mão em R$ 5,071
bilhões, mas só conseguiram aproveitar R$ 1,415 bilhão, ou seja, menos de 28%.
O restante dos recursos ficou só no papel e voltou para os cofres da União.
Para
justificar o injustificável, os gestores públicos alegam que os obstáculos
ambientais impedem que o ritmo das obras seja mais intenso. Também culpam a
morosidade dos processos licitatórios e os recursos que as empresas privadas
costumam impetrar na Justiça. E defendem a aplicação nos portos do Regime
Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), que vem sendo utilizado nas obras
da Copa do Mundo. Só que esse regime já é alvo de ação direta de
inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal. Não é preciso dizer mais. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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