É preciso ser um otimista contumaz para se acreditar que
o governo irá investir no prazo anunciado a totalidade dos R$ 6,4 bilhões
previstos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras de acesso
terrestre e aquaviário aos portos. Até porque o Ministério dos Transportes e,
agora, a Secretaria Especial de Portos (SEP) tem um retrospecto sofrível:
costumam aplicar em obras por ano menos de 30% dos recursos alocados no
Orçamento da União.
Portanto, se o governo federal pretende atrair R$ 54,2
bilhões da iniciativa privada até 2017 em investimentos para os portos, como
previsto no último pacote que alterou as regras do setor, é de temer que possa
ocorrer uma eclosão de gargalos na infraestrutura. Mesmo porque na Medida
Provisória nº 595, que criou regras para a exploração de terminais de uso
privativo, não há um artigo estabelecendo a responsabilidade do empreendedor
por investimentos em infraestrutura de transporte.
Isso significa que a União e os Estados serão ainda mais
exigidos para dotar os portos e terminais privados de estrutura pública, ou
seja, rodovia, ferrovia e até hidrovia. O que leva à conclusão óbvia de que os
recursos previstos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) equivalem uma
gota no oceano.
Para aumentar a preocupação, sabe-se que a SEP quer
colocar em andamento o Plano Nacional de Dragagem II, que prevê a licitação em
cinco blocos de portos, ficando a empresa vencedora responsável pela manutenção
e dragagem da área por uma década. Quer dizer: com profundidade maior, os
portos começarão a operar com embarcações de maior porte e, em conseqüência,
haverá maior volume de contêineres operados na exportação e na importação.
Para se ter ideia do tamanho do problema, basta ver que
até 2009 a produtividade média nos terminais no Porto de Santos era de 30 a 35
contêineres movimentados por hora, mas hoje já passa de 50 – um aumento de 40%.
Com isso, a questão do acesso e escoamento dos contêineres começa a se agravar.
É de lembrar que dos R$ 54,2 bilhões que a iniciativa
privada deve investir em portos nacionais até 2017, R$ 28,6 bilhões serão nos
complexos portuários da Região Sudeste, o que inclui o Porto de Santos. Para
tanto, os investidores poderão usar linhas de financiamento do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com correção pela taxa de juros
de longo prazo mais 2,5% ao ano. Sem contar que o prazo de carência poderá
chegar a três anos, com amortização em 20 anos e alavancagem de até 65%.
É claro que esses investimentos vão contribuir para
modernizar as operações portuárias bem como aumentar a movimentação de cargas e
reduzir custos. Só que esses empreendimentos particulares estimulados pelo
governo podem vir a perder rentabilidade, se não houver o equacionamento da
rede de distribuição na entrega e saída dos terminais de uso privativo e do
porto público.
Como esse é um problema que exige tempo e muitos
recursos, não se sabe se o governo terá agilidade para responder à demanda que
será criada pelos investimentos privados. Infelizmente, o histórico não é
favorável ao poder público. Mauro Dias -
Brasil
_______________________
Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário