Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Portugal - Seminário Internacional de Cinema Doc’s Kingdom 2023 vai decorrer em Odemira

O Doc’s Kingdom – Seminário Internacional de Cinema Documental vai decorrer pela primeira vez em Odemira, de 30 de novembro a 5 de dezembro.

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Este ano, a programação fica a cabo de Elena Duque, selecionada através de um concurso público internacional. Sob o título “Corte-Travessia”, a montagem será o tema central do programa que mergulha na obra das cineastas Amy Halpern, Noémia Delgado e Rose Lowder. Está também confirmada a presença da montadora Claire Atherton, colaboradora habitual de Chantal Akerman. A iraniana Maryam Tafakory, a portuguesa Beatriz Freire, a venezuelana Valentina Alvarado Matos, o chileno Carlos Vásquez e a espanhola Miriam Martín também estão entre os cineastas convidados na edição 2023.

Amy Halpern, figura incontornável do cinema independente e experimental norte-americano, partiu no ano passado, mas deixou atrás de si um legado de criatividade e liberdade consubstanciado em quase 40 curtas-metragens e numa única longa, Falling Lessons, que será exibida em 16mm durante o seminário em Odemira e terá nova projeção na Cinemateca Portuguesa a 9 de dezembro. O filme, que inspirou a programação desta edição do Doc's Kingdom, é uma experiência cinematográfica concretizada através da montagem de 200 rostos humanos e animais, numa confrontação com o olhar no seu sentido mais político.

Como de costume, a programação completa do Doc's Kingdom - com excepção do filme de Halpern anunciado acima - será mantida em segredo até ao início de cada sessão. Certo é que todos os participantes mergulharão também na obra de Noémia Delgado (1933-2016), autora do pioneiro documentário etnográfico sobre os caretos tradicionais de Trás-os-Montes, Máscaras (1976). A realizadora e também reconhecida montadora, ligada desde os anos 1960 à geração do Cinema Novo, que então procurava revolucionar a produção cinematográfica portuguesa, foi assistente de Paulo Rocha em Mudar de Vida (1966) e de Manoel de Oliveira em O Passado e o Presente (1971), e estagiou com Jean Rouch.

Claire Atherton, montadora de excelência e parceira de Chantal Akerman nos seus filmes durante mais de três décadas, é a convidada especial desta edição do Doc's Kingdom, dedicada à “montagem como ferramenta de pensamento” de que fala a curadora Elena Duque. Natural de São Francisco, Claire Atherton trabalhou com montadora em documentário, ficção e outras formas audiovisuais, ao lado de Akerman mas também de muitos outros cineastas, como Luc Decaster, Emmanuelle Demoris ou Éric Baudelaire. Em 2019, recebeu o Vision Award Ticinomoda por ocasião da 72ª edição do Festival Internacional de Cinema de Locarno, tornando-se a primeira mulher a vencer o prémio.

A franco-peruana Rose Lowder dedicou boa parte da sua vida às belas-artes e ao cinema experimental. Foi co-fundadora do Archives du film expérimental d’Avignon (AFEA, 1981) e durante décadas programou a projeção de filmes raros ou raramente exibidos. Por motivos pessoais, Rose não estará presente no Seminário e o debate sobre sua obra contará com a presença de Miguel Armas (crítico e investigador nascido em Tenerife em 1989), como representante da Light Cone, uma organização sem fins lucrativos com sede em Paris cujo objetivo é a distribuição, promoção e preservação do cinema experimental em França e no mundo, que distribui os filmes de Rose Lowder desde os anos 1980. Aos 82 anos, Rose continua a ser um dos nomes mais influentes do cinema experimental, também através da sua investigação sobre percepção visual e composição, através da gravação e do entrelaçar de imagens sucessivas, abordando a montagem a partir da unidade mínima do cinema: o fotograma.

Maryam Tafakory reparte o seu tempo entre Shiraz e Londres. Trabalha com imagens, palavras e sentimentos para criar colagens textuais e fílmicas que juntam poesia, documentário, performance, arquivos e material encontrado. Interessa-se por representações de apagamento, secretismo e violência dos organismos reguladores invisíveis. Os seus projetos assentam sempre numa forte investigação e analisam o que é frequentemente negligenciado e descartado como trivial, excessivo ou não científico. Tem em curso um conjunto de ensaios vídeo que dialogam com o cinema iraniano pós-revolução. A sua obra, vastamente premiada, foi exibida internacionalmente, incluindo no MoMA, em Locarno e na Quinzena dos Cineastas de Cannes.

O trabalho artístico da portuguesa Beatriz Freire tem o foco na tecelagem e no têxtil como suporte de ideias e/ou como temática de estudo. Em paralelo, investiga a relação entre o texto e o tecido, e o sentido do táctil na percepção do mundo. Está neste momento a trabalhar em peças e performances que relacionam a materialidade do cinema com a materialidade do tecido e com a montagem.

Miriam Martín realizou em 2019 a curta-metragem La espada me la ha regalado e, em 2023, Vuelta a Riaño. Utiliza a dialética da montagem para confrontar por meio de imagens e sons as dúvidas pendentes da história recente de Espanha. Atuou como programadora em várias instituições.

Valentina Alvarado Matos trabalha sobre temas como a diáspora por meio da colagem e do trabalho com a linguagem. Carlos Vásquez, por sua vez, actua em duas vertentes: o cinema como dispositivo; e os traços do colonialismo e da violência da história do território chileno. Juntos, investigam a imagem em torno do dispositivo cinematográfico. Participaram recentemente em programas de projeção na Microscope Gallery e no Anthology Film Archives. Na primavera de 2023, estrearam a performance FFF no Museum of Moving Image em Nova Iorque e foram selecionados para o Barcelona Producciò. São autores de várias instalações e outros projetos apresentados internacionalmente. Atualmente, são ambos artistas residentes no centro de artes catalão Hangar e as suas obras fazem parte do catálogo de distribuição de filmes Light Cone em França. Doc’s Kingdom - Portugal

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