Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Goa e Mário Miranda

Uma Goa antes e depois de Mário Miranda

Cartoonista morreu há dois anos e é uma referência da Índia

Falar de Goa e não falar de Mário de Miranda é uma incongruência. O cartoonista, nascido em Damão, faz parte de todo um imaginário da história das ex-colónias portuguesas na Índia, antes e depois da invasão da União Indiana em 1961. E não só. Mário, como assinou grande parte do seu trabalho, também retratou a Índia toda, em especial a sua cidade adoptiva Bombaim, Portugal, Macau, China, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e muitos outros locais espalhados pelo mundo.

Mário João Carlos do Rosário de Brito Miranda, filho de católicos de origem brâmane, foi descendente de uma família de nome Sardessai que se converteu ao catolicismo em 1750. Cedo mostrou apetência para o desenho e prosseguiu os estudos em Bangalore e em Bombaim.

Mas como a arte de desenhar era a sua grande paixão, acabou por começar a estudar arquitectura, curso que não terminou. Por essa altura, o seu talento foi notado e os seus amigos encorajaram-no a fazer cartões postais e desenhar para eles, o que lhe valeu algum dinheiro extra.

Daí em diante foi subir a pulso. Começou por trabalhar num estúdio de publicidade, onde esteve durante quatro anos, antes de assumir o cartoonismo a tempo inteiro no The Illustred Weekly, na Índia.

O seu trabalho começou a ter alguma notoriedade no meio indiano e, de seguida, começou a publicar na revista Current. Daí até chegar ao jornal mais importante da Índia foi um tiro. Passado um ano, Mário de Miranda começava a publicar no The Times of India e noutros jornais importantes de Bombaim como o The Economic Times ou na revista Femina.

Por essa altura, e ainda com Goa, Damão e Diu na posse do Estado Português, Mário obteve uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, o que permitiu ao cartoonista ficar em Portugal durante um ano. Como dominava a língua portuguesa, a experiência só podia ter corrido bem. Ampliou os seus horizontes e fez um trabalho digno de referência à mais larga escala.

Depois disso seguiu-se a Inglaterra, onde residiu cinco anos, e um pouco por toda a Europa, onde bebeu conhecimento com a interacção com outros cartoonistas. Colaborou com diversos jornais e revistas durante a sua estadia europeia, e até fez animação para televisão.

De volta à Índia fez parelha, no The Times of India, com o notável RK Laxman. Uma dupla de grande sucesso que mudou completamente a restante carreira de Mário de Miranda. Por essa altura conheceu Habiba Hydari, com quem casou, tendo tido dois filhos: Raul e Rishaad.

Em 1974, viajou para os Estados Unidos da América e conheceu grandes nomes do cartoonismo como Charles M. Schulz e Herblock.

Em 1988 foi agraciado com o Padma Shri e em 2002 com o Padma Bhushan. O rei Juan Carlos de Espanha também o agraciou com a ordem civil de “La Cruz de Isabel la Católica”, em 2009. O Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva tornou-o comendador da Ordem do Infante Dom Henrique.

Mário Miranda faleceu a 11 de Dezembro de 2011, em Goa, e foi postumamente condecorado pelas autoridades indianas com a segunda mais alta condecoração civil do país – Padma Vibhushan – a 4 de Abril de 2012.

Realizou exposições individuais em mais de 22 países, incluindo os EUA, Japão, Brasil, Austrália, Singapura, França, Sérvia e Portugal. Hoje em dia os cartoons de Mário de Miranda podem ser vistos em diversas paredes dos lugares mais famosos de Bombaim e Goa. Além de livros próprios, ilustrou obras de Dom Moraes, Manohar Malgaonkar, Mário Cabral e Sá, entre outros. Lobo Pinheiro – Macau in “Hoje Macau”

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