Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Quantos...

Quantos sorrisos sujos dentro d’um “País”?

Se esses filhos da puta ainda cantam
é porque nós continuamos dançando.

No emergente coração desta pátria que se diz ser nossa, chovem incoerências de uma precipitação carregada de arrogâncias. Nuvens que por vezes, aliás, até então, embaciam o futuro do pacato cidadão. Em jogo está o futuro de milhares de sorrisos inocentes; milhares de horizontes fechados a fechadura do pão. Do mesmo pão que se quer por tudo ou nada; nada que são a maioria, dessa "nação" que ainda não existe, - como bem disse Craveirinha. Dessa nação acorrentada a gravatas brilhantes e subdesenvolvidas em camisas-de-forças, cujo hospício é, messianicamente, pertence individual, de indivíduos sorridentes sem razão de felicidades. Indivíduos sem razão de ser o que a história quotidiana impõe na mente obtusa dessa crença singular que se populariza e ridiculariza, mais ainda, em autêntico insulto e escandaliza a inteligência moçambicana.

Dessa inteligência turva e muda. Inteligência senso comunal, cujo funcionamento acontece, nada pior que, em total conspiração. Uma conspiração categoricamente abstracta, nunca levada à prática e professada pelos novos "doutores", que se dizem académicos por mais que saibam que, por aqui, o ensino nunca e jamais foi superior, é terciário como melhor chamou o professor Francisco Noa.

No emergente pulsar desse coração, há sorrisos cujos dentes precisam de ser reeducados em novas aldeias descomunais e escovados à moda militar.

Da descomunal vergonha a ignóbeis carraços que não se envergonha de agir, e continua em tremenda aberração; aberração de sorrisos feitos de lábios semi-serrados. E riem-se das pessoas, pessoas comuns, ou melhor, pobres.

Riem-se poeticamente, com rimas cruzadas nas ruas esburacadas no verso dessa convivência marginal que se passa despercebida na dita pérola do índico. E nós, os comuns só vemos sem nada fazer para tapar estes buracos mentais dos, quando chamados agir, continuam falando. Falar é fácil, difícil é tornar-se que se fala. Falas tanto em futilidades, biltres e vis assuntos como justiça, paz, união, eleições, e tudo quanto a transparência é um vocábulo abolido; em que o lustro de qualquer mandante que seja é feito na motivação amnésica e quando a razão fala, fala tão alto a fome, a miséria, a corrupção, a falta de habitação, a má governação e tudo aquilo que, na sua culpa pesa menos. De menos, tão ínfimo, que se vive no interior do seu coração moçambicano, absolutamente moçambicano, absoluto que o da pobreza que fazes parte. Mais moçambicanos do que os Mercedes que vês nas ruas e nas ínfimas casas moçambicanas.

Mais moçambicanas que as metas do milénio que Moçambique tem que atingir. Mais moçambicanos que os recursos naturais (vendidos a preço de bananas ainda por cultivar).

Mais moçambicanos que os próprios ditos moçambicanos revestidos a casacos e gravatas e botas escovadas e expostas na prateleira do desemprego alheio que os estrangeiros assumirão o cargo. Mais moçambicanos do que esse projecto inexequível (<<República de Moçambique>>). Que todos os dias, todos nós fingimos crer; e por isso voltamos as ilusões, as crenças ocas, as urnas; mesmo sabendo que, assim orquestramos as nossas próprias urnas.

Quantos sorrisos, diariamente, minuto pois minuto, deixam de exercer essa mística fragrância, que só a natureza, livremente, concede ao homem? Desse homem que nunca será outro, enquanto continuar seiva dessa "nação". Seiva dessa poesia declamada a ferro e fogo nas Medias. Seiva que, sugada do homem comum enche os dirigentes a moda da pocilga. Enche o bolso deles e sua bolsa de fome, uma fome que eles só vêem num Jornal (de) Notícias. Num jornal parcial; parcial como todos os Medias, nos quais te expões: faminto, stressado e obediente. É, ou não é?, responda sempre é. É! Só assim serás o verme que faz surgir poemas como esses. Que, de certeza absoluta (absoluta que o da pobreza sempre, já o disse) não vais ler, mas, como tudo em ti, vais ouvir dizer, e vais dizer também há quem queiras que é o povo quem escreve, e esse mesmo povo a partir de hoje vai parar de sorrir dos vossos sorrisos sujos e vazios. Vai parar de conspirar e passar a praticar o certo que vossos erros desumanos impõem. Vai parar de dançar a música que esse vosso aparelho desajeitado toca. Vai parar e passar a dançar o ritmo que poemas como esses ditam. Que poemas como esses inspiram. Inspiram não só no recital abstracto, mas sim na concretude. Na concreta visão que vocês fingem crer que haja para que o povo se manifesta e fingem ser por direito do mesmo povo que vocês só os têm como estatística números, para de igual número adquirirem balas para depois chamarem nas de perdidas ou em gases lacrimogéneos. Do povo faminto que se ergue, nesse papel que chora os vossos sorrisos de cifrão, desse sorriso que condena famílias e crucifica as mesmas num ordenado miserável que nem sequer faz-se num prato a mesa, a mesa cheia de silêncios e vazios, a mesa cheia de desertos, tão desertos e vazios de tudo, tudo ou nada que valem as nossas vidas, vidas que vocês burlam da nossa breve alegria que se deixa congestionada nessas ruas nuas de justiça e de justos. De que se riem vocês? Parem de rir! Japone Arijuane – Moçambique in “Revista Literatas”

Sem comentários:

Enviar um comentário