O mercado de construção no
Brasil é fechado, o que facilita a formação de cartéis e corrupção. O
diagnóstico, razoavelmente conhecido no país, vem dessa vez do Banco Mundial,
órgão internacional que financia projetos de desenvolvimento.
“As empreiteiras aqui estão
sossegadas”, afirmou Paul Procee, diretor para infraestrutura do Banco Mundial
no Brasil, que chegou recentemente da China.
O banco terminou no início
deste ano um diagnóstico sobre o país para basear sua política de
relacionamento com o Brasil para os próximos quatro anos, apontando que será
necessário resolver problemas no setor de infraestrutura –classificado como
“deplorável” no documento– se quiser de fato voltar a ter participação de
estrangeiros nesses projetos.
As barreiras para a entrada
de estrangeiros no mercado de infraestrutura são muitas. O consultor do Senado
Marcos Mendes apresentou trabalho em 2015 em que aponta centenas de pequenas
regras que dificultam que empresas de fora disputem com as companhias
nacionais.
Mas, para Procee e o
diretor-geral para o Brasil do Banco Mundial, Martin Raiser, os problemas vão
além. As faltas de planejamento, de bons projetos e de financiamentos de bancos
privados são os principais inibidores de novos entrantes nesse mercado.
MÁ
QUALIDADE
Raiser diz que o Banco
Mundial é “pequeno” para ajudar no desenvolvimento da infraestrutura no Brasil,
pois tem apenas R$ 10 bilhões para financiar projetos nos próximos anos (o
último programa de infraestrutura do governo federal previa obras de R$ 200
bilhões).
Mas, segundo ele, o banco
pode auxiliar no que ele acha ser o problema que mais afasta estrangeiros:
projetos de má qualidade. Para o executivo, o nível dos projetos apresentados
no Brasil é “abaixo do básico”, o que torna impossível calcular riscos reais.
Para as empresas nacionais,
esses riscos são gerenciados de melhor forma porque elas já sabem como negociar
com os governos.
Além disso, as empresas
estrangeiras encaram um outro problema. Por terem poucas obras no país, ao
parar uma, não têm como realocar máquinas e equipes em outros empreendimentos,
o que é facilmente feito pelas concorrentes nacionais.
“O projeto vai com muita
coisa em aberto, e o estrangeiro reage por não saber como quantificar”, diz
Raiser.
DENÚNCIA
A falta de projetos bem
elaborados está no centro das discussões. Na semana passada, a CBIC (Câmara
Brasileira da Indústria da Construção), entidade que reúne centenas de
entidades do setor, lançou um guia de ética e boas práticas (“compliance”) com
o qual orienta empresas a não entrar em licitações com projetos malfeitos.
O guia pede ainda que as
empresas denunciem quando isso ocorrer. “Falta de projeto é o rei dos
problemas”, afirma José Carlos Martins, presidente da CBIC.
Procee, do Banco Mundial,
acredita que mais competição é uma das formas mais eficazes para reduzir
corrupção e formação de cartéis, que ocorrem em todo o mundo.
Para ele, a tendência é que,
se empresas de fora vierem para o Brasil, seja em obras ou concessões, elas se
associem a companhias nacionais, sem ameaça à geração de empregos.
“Teríamos um maior
desenvolvimento do setor, com mais tecnologia e empregos”, defende o dirigente.
Para o diretor do Banco
Mundial, Martin Raiser, a falta de infraestrutura no país é um dos motivos para
a produtividade nacional ter crescido desde a década de 1980 a níveis entre
metade e dois terços abaixo do verificado nos EUA e na Europa.
Segundo ele, sem aumento da
produtividade, o país não repetirá nem sequer o crescimento da última década.
Por isso, melhorar a estrutura de portos, rodovias e ferrovias é essencial.
“A infraestrutura no país
faz falta. O custo dos produtos fica maior e causa prejuízo, reduzindo sua
competitividade”, diz Raiser. Dimmi
Amora – Brasil in “Folha de São Paulo”
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