SÃO PAULO – Embora um pouco
desacreditada em razão da assinatura de vários acordos regionais nos últimos
tempos, a Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra, ainda se
mantém como um foro de excelência do multilateralismo comercial. Tanto que seus
membros representam mais de 98% do comércio mundial e a entidade tem cumprido
um papel importante pelo menos quando chamada a dirimir controvérsias no
comércio entre países.
Acontece que a OMC não foi criada só
para atuar como árbitro em questões controversas, mas para estabelecer um
conjunto de normas comerciais que possam ser seguidas rigorosamente por todos
os seus membros. E, se esse objetivo hoje ainda parece um pouco distante, as suas
últimas conferências ministeriais em Bali, na Indonésia, em 2013, e em Nairóbi,
no Quênia, em 2015, apontaram para um futuro menos nebuloso nas negociações
comerciais internacionais.
De fato, não foram poucas as
perspectivas que se abriram em dezembro de 2015 com a assinatura a declaração
de Nairóbi, pela qual os países desenvolvidos comprometem-se a eliminar os
subsídios à exportação de produtos agrícolas, como exigiam os países em
desenvolvimento, que, por seu lado, deverão acabar também com estas ajudas no
longo prazo.
Esta e outras decisões deverão dar um
novo impulso à Rodada Doha, embora economias em desenvolvimento, como Índia,
Cuba e Venezuela, temam que o processo de liberalização iniciado na capital do
Catar não se veja reafirmado de forma contundente e possa representar
consequências graves para estes países. A concessão de ajudas à exportação dos
produtos agrários dos países desenvolvidos limitou até agora a entrada em seus
mercados de bens das economias em desenvolvimento, razão pela qual a supressão
destas ajudas foi uma de suas reivindicações históricas no seio da OMC. Segundo
o acordo adotado em matéria de exportações agrícolas, os países em
desenvolvimento deverão eliminar os subsídios em 2018 e terão exceções até
2023.
Outra iniciativa que poderá produzir
bons efeitos é o Acordo de Facilitação do Comércio da OMC, recentemente
ratificado pelo governo brasileiro, mas que ainda depende de novas ratificações
até alcançar dois terços dos membros da entidade, ou seja, 108 países, para que
entre em vigor. Sem contar que, no começo de março, o Senado aprovou o acordo
firmado em Bali, que visa à desburocratização do comércio exterior e à eliminação
de barreiras administrativas. Esse acordo faz parte do pacote de Bali,
considerado histórico por ser o primeiro acordo comercial global em 20 anos.
Não se pode deixar de assinalar que
essa mudança de orientação muito deve à atuação do diplomata brasileiro Roberto
Azevêdo, diretor-general da OMC há dois anos e meio, que, de maneira incansável,
tem percorrido o mundo para detalhar os objetivos da organização, procurando
defender a importância de mecanismos multilaterais, em contraposição aos acordos
regionais. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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