SÃO PAULO – Se preciso é esgrimir
números para mostrar o desastre que foi a política de comércio exterior do
governo que se encerrou em 2014, aqui vão alguns dados da Organização Mundial
de Comércio (OMC), entidade que tem sede em Genebra e hoje é comandada pelo
diplomata brasileiro Roberto Azevêdo: em 2011, o Brasil alcançou seu melhor
desempenho em meio século, obtendo 1,41% das exportações mundiais, mas, desde
então, só desceu a ladeira – 1,33% em 2012, 1,32% em 2013 e 1,22% em 2014. Com
isso, retornou ao patamar de 2008.
Obviamente, muitos fatores explicam
essa derrocada, desde entraves e obstáculos colocados por uma infraestrutura
logística interna deficiente e arcaica, até uma persistente burocracia
promovida pela atuação de 17 órgãos governamentais no desempenho do comércio
exterior. Sem contar que, basicamente, foram fatores externos que impulsionaram
o resultado obtido em 2011, como a explosiva elevação das cotações dos produtos
primários (commodities) em razão de
uma considerável procura no mercado internacional por este tipo de mercadoria (minério
de ferro, carvão, petróleo bruto, sal, açúcar, café, soja, alumínio, cobre,
arroz, trigo e outras). É de se lembrar que mercadorias agrícolas (soft
commodities) são bens cultivados, enquanto as mercadorias pesadas (hard
commodities) são bens extraídos ou minerados.
Olhando-se por este prisma, como diria
o conselheiro Acácio, o governo estaria isento de quaisquer responsabilidades
ou culpas pela ascensão e queda da participação brasileira no comércio
exterior. Mas não é bem assim. Esgrimindo-se dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), vê-se que, a partir do
ano de 2000, teve início uma constante queda da participação dos produtos
manufaturados na pauta de exportação do País.
Naquele ano, a participação dos
manufaturados era de 59%, enquanto a das commodities
chegava a 38,2%. Em 2013, já havia uma total inversão dos índices: 38,4% de
manufaturados contra 59,2% de commodities.
Isto porque o MDIC rotulou como manufaturados produtos como açúcar refinado,
suco de laranja, etanol, óleos combustíveis e café solúvel, ainda que sejam
comercializados como commodities. Em
2014, segundo dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as
exportações nacionais de manufaturados na pauta mundial ficaram em torno de 20%,
ocupando a 33ª posição no ranking
global. Enquanto isso, as exportações de commodities
chegaram a 80%.
Se atingimos esse ponto, a par do
cenário econômico mundial, foi porque o governo não só não fez sua parte no
sentido de incentivar a produção e exportação de manufaturados como contribuiu
decisivamente para a redução do mercado, ao isolar o País comercialmente,
limitando sua participação praticamente ao Mercosul, sem assinar novos acordos bilaterais
ou regionais.
Além disso, ao priorizar a orientação
Sul-Sul, abandonou o diálogo Sul-Norte (especialmente com Estados Unidos,
Canadá e México), permitindo a perda de mercados significativos para os manufaturados.
Diante desse diagnóstico, o que se espera é que o governo que assume reveja
esses erros flagrantes. É hora de reagir. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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