O presidente da
república do Equador Rafael Corrêa esteve no auditório da Universidade Pablo de
Olavide em Sevilha para uma conferência de imprensa com o fim de explicar como
o Equador saiu da crise, falando à margem da XXII Cimeira Ibero-americana.
Como o auditório não
conseguiu acolher todos os que pretendiam ouvir a conferência, foi necessário
recorrer a outras três salas, mesmo assim insuficientes, para através de vídeo
poderem assistir à comunicação de Rafael Corrêa.
O presidente do
Equador considerou que o problema do seu país começou na década 70 do século
passado, quando o seu país iniciou a extracção de petróleo. Nesses anos o
equador cresceu a 10% ao ano, um ritmo superior ao da China, o que permitiu,
devido a excesso de liquidez, a compras no mercado internacional, de
mercadorias, umas necessárias, a maior parte não, apoiadas por empréstimos internacionais
com o aval do FMI, Banco Mundial e de bancos internacionais com uma política de
endividamento agressiva.
Em 1982 o Equador
viu-se incapaz de pagar a factura do endividamento e a situação explodiu,
entrando a lógica do FMI que considera prioritário o pagamento de toda a dívida.
Os governos do Equador viram-se na necessidade de criar novos endividamentos
para pagar os juros, a taxas cada vez mais elevadas, de uma dívida que
continuava a crescer. "O objectivo
da economia passou a ser o pagamento da dívida do próprio estado e dos bancos,
enquanto a população ia empobrecendo", afirmou Rafael Corrêa, no momento
que os estudantes presentes começaram a aplaudir a intervenção, e acrescentou "o
círculo infernal em que estão agora a Grécia e Portugal", não mencionado a
Espanha por cortesia com o país anfitrião.
No Equador,
considerou o presidente, "a dívida privada interna (dos bancos) foram
pagos com base em empréstimos externos, mas à custa do endividamento do
Estado." Recordou que há dois anos em visita a Portugal alertou o Governo Português
de José Sócrates que a mesma situação iria ocorrer, um prognóstico que se
cumpriu.
A seguir Rafael
Corrêa continuou a enumerar o trajecto do Equador, "Foram as privatizações,
as desregulamentações e os cortes sociais, apoiados pelo consenso de
Washington, a Bíblia do neoliberalismo na América Latina. Impuseram-nos leis,
que impulsionavam a competitividade e a flexibilidade no trabalho, o mesmo que
dizer, explorar os trabalhadores, diabolizavam a despesa pública quando era
para pagar aos professores, mas não para comprar armas”. Os estudantes
continuavam a aplaudir com mais clamor.
E assim se chegou ao ano
2000, altura em que faliram 16 bancos e continuou. "Então, os políticos,
que não representavam o povo, mas sim os poderes económicos fizeram o melhor
que sabiam fazer, por as pessoas a pagar a crise".
O presidente do
Equador asseverou que o país conheceu
pela primeira vez o fluxo maciço de emigração, com milhares de equatorianos a
procurarem no estrangeiro um emprego que os permitissem sobreviver.
Corrêa criticou a
independência do Banco Central Europeu que não está a fazer o necessário para a
Europa sair da crise. "A ideia de que a economia não é política, disse
ele, não pode resistir a uma análise séria e é insensato afirmar que os
tecnocratas tomam decisões sem interesses políticos específicos, como se fossem
seres celestiais que não estão contaminados pelas maldades terrenas. A
burocracia financeira internacional quando toma decisões não é a pensar em
resolver o vosso desemprego, está considerando apenas pagar a dívida"
Com o desenrolar da
conferência e com o apoio dos estudantes presentes, Rafael Corrêa ia ficando
mais contundente. “Pessoas sem casa e casas sem gente” recordando o que tinha
visto de manhã em Sevilha, “segue-se a lógica dos poderes financeiros e vai-se
chegar aos piores dos mundos possíveis, em que as pessoas não têm casas e os
bancos carregados de casas que não necessitam. Os despejos são desumanos, não
há lógica que alguém devolva a casa, por não poder pagá-la, continue endividada
para o resto da vida”.
Rafael Correa foi
eleito presidente do Equador em 2007, tomou de imediato medidas para inverter o
rumo do país para a catástrofe económica: reformou o banco central, auditou e
reestruturou a dívida, eliminou a parcela considerada ilegítima pelos auditores
e comprou as obrigações de dívida do Estado aos credores por 35% do seu valor
nominal. Em seguida, pagou a parcela restante.
Correa terminou recordando
que "expulsei de Quito a missão do Banco Mundial e há seis anos que a
burocracia financeira internacional não voltou para o meu país. Agora estamos
melhor do que nunca." Baía da Lusofonia
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