"Angola 37 anos depois"
“Há trinta e sete anos, quando passavam poucos minutos depois do início do dia 11 de novembro, estava na Praça 1º de Maio, em Luanda, à entrada do bairro Vila Alice. Um bairro em que as ruas adotavam os nomes de poetas e escritores portugueses, como Cesário Verde ou Eugénio de Castro, mas nenhum angolano. E havia poetas e escritores nascidos em terras angolanas.
“Há trinta e sete anos, quando passavam poucos minutos depois do início do dia 11 de novembro, estava na Praça 1º de Maio, em Luanda, à entrada do bairro Vila Alice. Um bairro em que as ruas adotavam os nomes de poetas e escritores portugueses, como Cesário Verde ou Eugénio de Castro, mas nenhum angolano. E havia poetas e escritores nascidos em terras angolanas.
A data é uma das
poucas que não esqueço. Muitas vezes, sou apanhado em falta por não lembrar
aniversários de pessoas que são muito importantes na minha vida, mas,
curiosamente, essa data já distante, o dia 11 de novembro de 1975, a memória
faz-me o favor de a fazer presente.
Estava claro para mim
que testemunhava um momento particularmente importante, cujo registo me
acompanharia sempre. Fazia parte, nessa época, da União Nacional dos
Trabalhadores Angolanos (UNTA), a central sindical ligada ao Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA), que assumia nesse dia o poder.
Nessa noite quente,
estrelada e sem nuvens, se a memória não me trai, Agostinho Neto proclamou aos
angolanos e ao mundo a independência de Angola. Era o fim de cinco séculos do
colonialismo português. Filho de portugueses, eu era testemunha do fim de um
império corrupto e decadente, à semelhança do que aconteceu com outros.
Abria-se para os
angolanos uma janela de esperança, de
sonhos e também de muitas ilusões. Angola independente dava os primeiros passos
numa conjuntura internacional desfavorável. A "guerra fria" estava presente
e a guerra civil, manipulada por Pretória e Washington, lançava o país num
longo e trágico processo de violência e de destruição.
Mas, apesar de todas
essas tragédias, Angola, a partir desse momento, tinha conquistado a sua
independência, enquanto Portugal, o país colonizador, enfrentava, com a
dignidade devolvida pela Revolução dos Cravos, no dia 25 de Abril de 1974, os
dramas de muitos milhares de expatriados que procuravam em terras lusas, e
muitos no Brasil ou na África do Sul, abrigo ou refúgio. Uns, porque não sabiam
ou não queriam conviver com o fim do colonialismo; outros, fugindo das atrocidades
de uma guerra civil, sangrenta, que não poupava ninguém; outros, ainda,
empurrados para fora de Angola pelo radicalismo de grupos que, na véspera,
conviviam harmoniosamente com o sistema colonial.
Volvidos trinta e
sete anos, Angola ainda entreabre as portas do progresso, de uma vida melhor
para os angolanos. A luta de libertação nacional vencedora há trinta e sete
anos vive hoje uma nova etapa, a da construção do Estado democrático. A guerra
civil foi derrotada e a nação procura agora conquistar as promessas tantas
vezes adiadas. Nesse doloroso caminho, as elites coloniais deram lugar a elites
nacionais, muitas vezes igualmente rapaces e incapazes de promover a
redistribuição das riquezas do país.
Levar por diante o
projeto de independência, com desenvolvimento económico, progresso e justiça
social era o sonho da maioria dos libertadores – sinceros, despojados e
generosos - que os angolanos da nova geração precisam levar por diante. Com
mais educação, melhor saúde, mais democracia e mais ousadia. Um caminho difícil
em que a luta contra a corrupção terá de ser uma bandeira nacional. Essencial.”
Alfredo Prado – Portugal – Angola –
Brasil in
“África 21”
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