Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Divórcio

Um casal amigo português divorciou-se, uma situação banal nos dias que correm, mas este caso chamou-me a particular atenção.

Eram um casal muito feliz com uma vivência desafogada que os permitia gozar o dia-a-dia com um sorriso nos lábios, até que chegou a crise e começaram a sentir os problemas diários de contenção nos gastos, para fazer face aos aumentos sucessivos de preços e a uma congelação dos seus rendimentos.

Ele trabalhava numa empresa privada, com uma excelente carteira de clientes e com um trabalho de equipa exemplar, ela, uma funcionária pública dedicada, irrepreensível na qualidade de trabalho apresentado e sempre elogiada pelas chefias.

A partir de um dado momento, os clientes da empresa privada começaram a atrasar os pagamentos e chegou a haver casos em que nunca o pagamento aconteceu, levando a situações que coube ao tribunal decidir.

Essas dificuldades da empresa transmitiram-se no pagamento do ordenado aos empregados da mesma e o meu amigo começou a ter uma nova vida nada compatível com o desafogo anterior. A contagem do dinheiro passou a ser uma constante para fazer equilibrar o orçamento familiar e tentar respeitar os compromissos entretanto assumidos durante a época em que viviam confortavelmente.

Os problemas no casal começaram a aparecer, embora auferirem-se ordenados idênticos, o atraso do recebimento do ordenado dele, levava-os a uma ginástica que ia resistindo até ao dia do recebimento do mesmo.

O problema agudizou-se quando ela, funcionária pública começou a ter cortes no ordenado, diminuindo o seu rendimento no conjunto do casal. Antigamente quando havia uma crise, desvalorizava-se a moeda, aumentava-se os preços e era um todo nacional, a responder perante a crise que alguns construíram, agora são grupos profissionais ou sociais que aguentam numa responsabilidade que cabe a todos.

Nesse momento tudo se desmoronou, o meu amigo pegou nas malas, pediu o divórcio e saiu do país, procurando novas oportunidades num país totalmente desconhecido para ele.

Ela ficou, as despesas conjuntas passaram a uma despesa individual e vai resistindo, com visitas regulares ao médico, para debelar uma depressão que entretanto desenvolveu.

Esta história veio-me ontem à memória quando o Tribunal Constitucional chumbou as medidas do governo de Portugal quanto às reduções impostas aos ordenados dos funcionários públicos e às pensões dos reformados e pensionistas, por não respeitar a igualdade entre cidadãos. Chegou tarde. Baía da Lusofonia

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