Um casal amigo português divorciou-se, uma
situação banal nos dias que correm, mas este caso chamou-me a particular atenção.
Eram um casal muito feliz com uma vivência
desafogada que os permitia gozar o dia-a-dia com um sorriso nos lábios, até que
chegou a crise e começaram a sentir os problemas diários de contenção nos
gastos, para fazer face aos aumentos sucessivos de preços e a uma congelação
dos seus rendimentos.
Ele trabalhava numa empresa privada, com uma
excelente carteira de clientes e com um trabalho de equipa exemplar, ela, uma
funcionária pública dedicada, irrepreensível na qualidade de trabalho
apresentado e sempre elogiada pelas chefias.
A partir de um dado momento, os clientes da
empresa privada começaram a atrasar os pagamentos e chegou a haver casos em que
nunca o pagamento aconteceu, levando a situações que coube ao tribunal decidir.
Essas dificuldades da empresa transmitiram-se
no pagamento do ordenado aos empregados da mesma e o meu amigo começou a ter
uma nova vida nada compatível com o desafogo anterior. A contagem do dinheiro
passou a ser uma constante para fazer equilibrar o orçamento familiar e tentar
respeitar os compromissos entretanto assumidos durante a época em que viviam
confortavelmente.
Os problemas no casal começaram a aparecer, embora
auferirem-se ordenados idênticos, o atraso do recebimento do ordenado dele,
levava-os a uma ginástica que ia resistindo até ao dia do recebimento do mesmo.
O problema agudizou-se quando ela,
funcionária pública começou a ter cortes no ordenado, diminuindo o seu
rendimento no conjunto do casal. Antigamente quando havia uma crise,
desvalorizava-se a moeda, aumentava-se os preços e era um todo nacional, a
responder perante a crise que alguns construíram, agora são grupos
profissionais ou sociais que aguentam numa responsabilidade que cabe a todos.
Nesse momento tudo se desmoronou, o meu amigo
pegou nas malas, pediu o divórcio e saiu do país, procurando novas
oportunidades num país totalmente desconhecido para ele.
Ela ficou, as despesas conjuntas passaram a
uma despesa individual e vai resistindo, com visitas regulares ao médico, para
debelar uma depressão que entretanto desenvolveu.
Esta história veio-me ontem à memória quando
o Tribunal Constitucional chumbou as medidas do governo de Portugal quanto às reduções
impostas aos ordenados dos funcionários públicos e às pensões dos reformados e
pensionistas, por não respeitar a igualdade entre cidadãos. Chegou tarde. Baía da
Lusofonia
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