Universidade dos EUA publica
o rico passado arqueológico da ilha de Corisco
Depois de na última
temporada de escavações (maio de 2012) conduzida por guineenses e arqueólogos
espanhóis na ilha de Corisco na Guiné Equatorial (Mandji na língua local), a
pesquisa concentra-se agora na divulgação dos resultados entre a comunidade
científica internacional. Recorde-se que estamos falando de descobertas
espectaculares, únicas na África subsaariana, uma vez que os restos
arqueológicos encontrados em 2010 junto ao aeroporto internacional existente na
ilha, pertence a um cemitério com dois mil anos. Além disso, os arqueólogos têm
documentado, no mesmo lugar toda a sequência histórica da ilha de Corisco, a
partir de um período anterior ao nascimento de Cristo até aos nossos dias.
Dada a magnitude da
descoberta, a American University of Florida publicará brevemente em língua
inglesa, um livro que terá como título "Arqueologia do Capitalismo",
assinado pelo arqueólogo espanhol Alfredo González Ruibal, director das
escavações de Corisco e será dedicado ao "Património Arqueológico na Guiné
Equatorial". O director acrescentou à nossa revista, "A Gazeta da
Guiné Equatorial", que a mesma universidade publicará brevemente, um livro
(também em Inglês), intitulado "A Arqueologia do colonialismo espanhol na
América, Filipinas, Marrocos e Guiné Equatorial."
Com o lançamento destas
pesquisas arqueológicas, o director das escavações, o espanhol Alfredo Gonzalez
Ruibal (professor e pesquisador do "Conselho Superior de Pesquisas
Científicas" (CSIC) afirmou que "pode ter a sequência histórica
completa de evolução guineo-equatoriana das populações no estuário do rio Muni
e Corisco desde a Idade do Ferro (700 AC) até ao presente."
Três momentos de desastre
ecológico
Como antecipação do que
serão as futuras publicações, Alfredo González referiu que os pesquisadores
foram capazes de testemunhar três momentos de antropogénica catastrófica (causada
pelo homem) e ecológica em Corisco. Um dos episódios consistiu em que a ilha
sofreu uma desflorestação total, ficando apenas com os recursos para manter a
subsistência dos seus habitantes. A primeira ocorreu no ano de 500 DC; A
segunda, por volta de 1200 DC, e a terceira, coincidindo com os primeiros
momentos da colonização europeia da ilha. Uma colonização que começou em 1642,
quando a Holanda se apoderou da região geográfica que integra actualmente o
território da Guiné Equatorial, estabelecendo na ilha de Corisco a base das
operações de escravos. Seis anos depois, em 1648, a coroa portuguesa recuperou
estas colónias e criou "A Companhia de Corisco". Já em 1778, com a
assinatura do "Tratado de El Pardo," entre Espanha e Portugal, o país
luso cedeu à coroa espanhola as ilhas de Fernando Pó e Ano-Bom, na Baía de
Biafra, com o direito de livre comércio desde o cabo Formoso, na foz do rio
Níger até ao Cabo Lopez, a sul do Gabão. Só depois de 1858, quando os chefes
Bengas de Corisco e das Elobeyes fizeram a transferência das ilhas para o governo
de Madrid, se pode falar de colonização espanhola eficaz destes territórios.
Do luxo à decadência
Assim, desde o início do
século XIX, e até relativamente tarde, pôde-se desenrolar em Corisco uma
notável classe nativa, comparável à rica burguesia espanhola dessa mesma época.
Correspondendo aqueles tempos, os arqueólogos encontraram ricas porcelanas e
luxuosas cerâmicas feitas nas melhores fábricas da Europa. Louça idêntica ao
que então possuíam os colonos ingleses mais ricos das Caraíbas e dos países do
sul da América.
No entanto, tudo mudou
quando os espanhóis começaram formalmente a sua colonização da ilha, totalmente
consolidada no ano de 1880. A burguesia Benga começou então o seu declínio, ao
ver reduzido o seu poder hierárquico e económico em detrimento dos colonos
espanhóis. As louças que a partir de então chegam da Europa a Corisco, não são
tão luxuosas, nem de tanta qualidade. E em 1900, com a chegada do novo século,
a situação ainda piora. Os comerciantes europeus colocam uma linha de produção
de cerâmica de baixa qualidade (o que reduziu significativamente os custos de
produção) concebido exclusivamente para o comércio colonial. Trata-se da louça
que os arqueólogos encontraram tanto em África (Guiné, Namíbia, Gana...), como
na Índia, Indonésia ou Malásia.
Mente sã em corpo são
Um último dado interessante
sobre os efeitos da colonização na ilha de Corisco, à luz da vertente da
ciência arqueológica: durante as suas pesquisas na ilha de Mandji, os
arqueólogos identificaram mais de trinta assentamentos humanos pertencentes aos
tempos contemporâneos (desde o final do século XVIII até meados do século XX).
Em todas encontraram-se recipientes de bebidas alcoólicas: desde as produções
locais para Malamba, até ao gin estrangeiro (uma tradição holandesa) e vinho
espanhol. Quanto aos hispânicos, outra curiosidade: quanto maior é o declínio
da população nativa, mais alta é a graduação (são abundantes evidências de
importação de xerez) dos vinhos oriundos da Península Ibérica.
A Arqueologia, portanto, veio demonstrar a
verdade do velho ditado africano, segundo a qual "a melhor ferramenta de
trabalho de uma pessoa é o seu próprio corpo." Por isso, quando alguém se mutila
por meio de drogas ou álcool, também prejudica a sua dignidade e perde o respeito
pelas suas tradições, família e pelo seu povo. Bem o sabiam na antiga Roma o
seguinte ditado: "Mens sana in corpore sano", ou o que seria o mesmo:
". Respeita o teu corpo e a tua alma, e serás uma pessoa trabalhadora,
honesta e solidária" A arqueologia é também uma fonte de sabedoria, e a
Guiné Equatorial, a possui em abundância. Luís
Marco – Guiné Equatorial in “La Gaceta de Guinea Ecuatorial”
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