Ainda que não se possa
dizer que vêm por aí tempos de vacas magras, os prognósticos dos especialistas
em comércio exterior são de que o cenário global nos próximos anos deverá estar
carregado de nuvens plúmbeas. Como o Brasil não soube se beneficiar dos anos de
vacas gordas que foram os da primeira década deste século e não fechou acordos
de livre-comércio nem ampliou tanto quanto podia a sua inserção internacional,
as perspectivas não são muito favoráveis.
Por isso, não é fortuita
a preocupação com certo isolamento comercial a que o País se impôs, limitado a
sua participação no Mercosul, que hoje nem progride nem regride. A impressão
que fica é que o governo anterior, ao trabalhar decididamente há dez anos para
o fracasso das negociações que visavam à formação da Área de Livre Comércio das
Américas (Alca), deu um tiro no pé na Nação.
Afinal, com o fracasso
da Alca, os Estados Unidos partiram para outras alternativas. E a expectativa é
que venham a fechar acordos amplos, ainda que regionais, como a Parceria
Trans-Pacífico (TPP), com países da Ásia, com exceção da China, e o Acordo de
Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), com a União Europeia.
Se esses acordos megarregionais forem formalizados, não é difícil imaginar um
quadro em que os países que não façam parte deles possam estar excluídos dos
grandes mercados mundiais.
Menos mal que a China
continuará a comprar as commodities brasileiras, o que poderá garantir
por largos anos a manutenção do superávit na balança comercial. É de notar,
porém, que as commodities minerais em direção a China começaram a cair
e, dificilmente, esse ritmo será revertido, o que significa que o país asiático
deverá comprar mais produtos agropecuários, como exige o seu modelo de
crescimento baseado no consumo doméstico. Seja como for, para o Brasil, não é
confortável que venha a se tornar um país apenas exportador de matérias-primas.
A aposta nos Brics
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) também não resultou em grandes
operações comerciais para o País até agora, ainda que para julho estejam
previstas a criação de um Banco de Desenvolvimento e a formalização de um
Acordo Contingente de Reserva. A previsão é que essas nações, com exceção da
China, não deverão apresentar taxas elevadas de crescimento, o que significa
que deverão contribuir pouco para a evolução do comércio a nível global.
Diante disso, o que se
espera é que haja, a partir do próximo governo, maior empenho do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em aumentar a
participação do Brasil no comércio mundial, hoje limitado a 1,2% de tudo o que
se vende e compra no planeta. Essa ampliação pode começar pelas vizinhanças mesmo,
com um acordo de preferências comerciais com países como Chile, Colômbia, Peru
e México, que já formaram a Aliança para o Pacífico. Mauro Dias - Brasil
___________________________________________________________________
Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário