Novos territórios marítimos
estão na proposta – entregue nas Nações Unidas em 2009 – de extensão da
plataforma continental portuguesa para lá das 200 milhas. Desde então, o país
já pôde começar aí a exercer a sua soberania sobre o solo e subsolo marinhos.
Mais de 44.000 mapas de
Portugal serão pendurados nesta quarta-feira, 02 de Abril de 2014, nas paredes
das salas de aulas de inúmeras escolas, desde o primeiro ciclo até ao final do
ensino secundário, e tanto públicas como privadas. O que este novo mapa procura
explicitar é que Portugal é praticamente só mar: enquanto o território fora de
água tem pouco mais de 92.000 quilómetros quadrados, o território debaixo de
água chega quase aos quatro milhões de quilómetros quadrados. Portugal é Mar, o
título do mapa, evidencia que 97% do país é mar.
Simbolicamente vai ser
colocado por volta das 10h30 na Escola Básica e Jardim de Infância Rómulo de
Carvalho, em São Domingos de Rana, no concelho de Cascais, pelo ministro da
Educação e Ciência, Nuno Crato, e pela ministra da Agricultura e do Mar,
Assunção Cristas (que já o tinham dado em Fevereiro ao Presidente da República,
Cavaco Silva). Pediu-se também às escolas que o receberam que o pendurassem à
mesma hora.
Por agora, nem todas as
escolas têm o mapa. Hoje, 44.780 mapas serão afixados em salas de aulas e
laboratórios de 1008 escolas ou agrupamentos escolares públicos e privados,
segundo informou ontem a assessoria de imprensa do Ministério da Educação. O
mapa estará em 86% das escolas da rede pública, acrescentou. Por outro lado,
iniciaram-se agora os contactos para que chegue às escolas dos Açores e da
Madeira, onde existe autonomia regional educativa.
O novo mapa resulta dos
trabalhos científicos de alargamento da plataforma continental para lá das 200
milhas náuticas da Zona Económica Exclusiva (ZEE), realizados de forma
sistemática a partir de 2005, na transição entre os governos PSD de Pedro
Santana Lopes e PS de José Sócrates.
Com 80 centímetros de
comprimento por 60 de largura, o mapa tem pouca informação de propósito.
Pintados de amarelo, vêem-se os três pedaços de terra que constituem Portugal
Continental e os arquipélagos dos Açores e da Madeira, como se fossem jangadas
de pedra perdidas num imenso mar azul. À volta desses bocados de terra surge a
ZEE, que já dava ao país jurisdição tanto sobre a água como sobre o solo e
subsolo marinhos; e pode ir até às 200 milhas desde que não chegue a território
espanhol.
Agora, para lá da ZEE,
Portugal (tal como outros países ao abrigo da Lei do Mar das Nações Unidas)
pode ainda estender pacificamente o seu território no mar – neste caso, alargar
a jurisdição sobre solo e subsolo marinhos. É isto que se designa por extensão
da plataforma continental. Os limites da plataforma portuguesa, tal como foram
entregues numa proposta às Nações Unidas em 2009, ainda com José Sócrates como
primeiro-ministro, é o que finalmente mostra o novo mapa, evidenciando a
diferença entre a pequenez da terra e a grandeza do mar.
Os contornos da plataforma
continental apresentados às Nações Unidas ainda serão discutidos na Comissão de
Limites da Plataforma Continental, em princípio em 2016. Mas a proposta da sua
extensão já permite a Portugal exercer direitos de soberania sobre o solo e
subsolo marinhos para exploração e aproveitamento de recursos naturais. Mais:
não só esses direitos são exclusivos de Portugal, por isso nenhum outro país
pode exercer aí actividades de exploração sem o seu consentimento, como não
dependem da ocupação deste território.
No total, a área dos novos
domínios marítimos portugueses ultrapassa 3.800.000 quilómetros quadrados:
desses, 1.600.000 correspondem à ZEE (a terceira maior da Europa) e 2.150.000 à
plataforma continental para lá das 200 milhas. O território marítimo é 40 vezes
superior ao terrestre.
À 14ª versão
A ideia deste mapa partiu da
geóloga Raquel Costa, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma
Continental (agora tutelada pelo Ministério da Agricultura e do Mar), onde
coordena o projecto Kit do Mar, destinado a promover o conhecimento sobre os
oceanos. Surgiu-lhe durante uma conversa com o director do Oceanário de Lisboa,
João Falcato. Esta parceria entre o Oceanário, que pagou a elaboração do mapa,
e o Kit do Mar incluiu ainda o Ministério da Educação, para que o novo retrato
do país estivesse nas escolas.
O objectivo é mostrar aos
mais jovens a importância do mar e renovar a identidade marítima colectiva, até
agora mais virada para o valor histórico desde os Descobrimentos. “Espero que o
impacto de ver o mapa de Portugal centrado no mar mude as consciências das
novas gerações e vejam que o mar tem um potencial enorme de exploração do ponto
de vista científico, económico, social e cultural”, refere Raquel Costa.
Esta é a 14ª versão do mapa
– até se conseguir chegar a “uma versão bonita, simples e didáctica”, conta a
geóloga. Mas a informação não se resume ao próprio mapa. No sítio do Kit do mar, a
equipa do projecto desenvolveu uma série de propostas de actividades
educativas, já disponíveis. Teresa
Firmino – Portugal in “Jornal Público”
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