Quem vive o dia a dia
portuário sabe que a exigência de investimentos na infraestrutura dos portos
vai crescer ainda mais nos próximos anos, já que é inevitável um aumento no
tamanho dos navios, além de um crescimento do número de produtos que serão
acondicionados em contêineres.
Na contramão dessa
tendência, o Porto de Santos teve o seu calado operacional reduzido, causando
problemas ao escoamento das safras de grãos, açúcar e suco de laranja, já que
os navios não podiam receber a carga que seus armadores planejavam. Lutando
contra o tempo, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) executa um
serviço de dragagem no canal de navegabilidade, o chamado Trecho 1, para
permitir que o calado de 13,2 metros venha a ser retomado.
Como se sabe, para
navios Pós-Panamax, esse tipo de calado ainda é irrisório. E, se essa
profundidade não for aumentada, é inegável que muitos desses meganavios terão
de obrigatoriamente evitar escalas no Porto de Santos.
Na verdade, a luta da
Secretaria Especial de Portos (SEP) e da Codesp hoje ainda é para manter as
profundidades já homologadas, a partir da contratação de serviços de manutenção
de berços, acessos a berços e do canal de navegação. E, nesse sentido, o Porto
tem recebido navios de maior porte, o que, em outros tempos, teria sido
impossível. Mas isso não significa que o complexo portuário esteja minimamente
preparado para o futuro que se desenha.
Fora do canal de navegação,
a situação também não é animadora. Embora seja assunto discutido desde o começo
deste século, a implantação de zonas de apoio logístico (ZALs) na retroárea do
Porto ainda não saiu do papel. A ideia é que essas unidades viessem a formar um
sistema integrado na Baixada Santista e no Planalto Paulista que permitisse
gerenciar os fluxos de carga com origem e destino ao Porto. A previsão da SEP é
que só ao final de 2016 essas áreas estarão em pleno funcionamento, mas, diante
da demanda das safras e dos congestionamentos, a Codesp já se adiantou
credenciando pátios reguladores, que deverão ser agregados às Zals.
Ao mesmo tempo, a SEP
tem anunciado a disponibilidade de recursos para a ampliação da rede de
armazenagem pública e privada, o que poderia representar pelo menos um desafogo
no fluxo de caminhões. Afinal, maior capacidade de armazenagem significa menos
caminhões nas estradas. Por enquanto, 77 empreendimentos nesse segmento em
vários pontos do País já foram anunciados, o que não significa que estejam em
funcionamento. O que não se sabe é se essas medidas serão suficientes para
enfrentar um futuro que prevê a movimentação de 200 milhões de toneladas por
ano até 2024 só pelo Porto de Santos.
O governo prevê
investimentos de R$ 740 milhões na modernização de sete portos brasileiros –
desses, R$ 119,9 milhões no Porto de Santos –, mas não se sabe se isso será
suficiente para dar competitividade ao sistema portuário nacional. Ou para dar
ao País uma avançada cadeia logística que possa correr por um eficiente sistema
multimodal. Neste caso, o Brasil teria muito a aprender com a China que, em
menos de duas décadas, praticamente saindo do zero, criou essa cadeia
logística. Mauro Dias - Brasil
___________________________________________________________________
Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário