À descoberta do estúdio de Yue Minjun
Na primeira exposição que faz em Macau, o
artista chinês Yue Minjun não só mostra novos trabalhos nunca exibidos em
público, mas uma recriação do seu estúdio em Pequim. Acredita que as pessoas
que vivem em lugares com “mais tradições”, como Macau, poderão questionar a
sátira presente na sua arte. “Neo-Idolatria” pode ser visitada a partir de
ontem no Museu de Arte.
Famoso pelo sorriso imenso das figuras que
pinta e por obras como “Execução”, inspirada em Édouard Manet e que é ainda o
mais caro trabalho alguma vez vendido por um artista chinês contemporâneo, Yue
Minjun está em Macau para inaugurar a exposição individual “Neo-Idolatria”,
aberta ao público a partir de hoje e até Fevereiro do próximo ano no Museu de
Arte (MAM).
A curadoria do MAM usou o estúdio do artista
em Pequim como conceito para a mostra agora patente. O estúdio de Yue foi
“transplantado” da capital para Macau, onde estão para ver 52 obras de arte,
incluindo pintura, escultura patente no interior e na zona exterior do MAM, mas
também materiais utilizados no processo de criação artística, críticas de arte
e objectos, utensílios e mobílias trazidas para o território propositadamente.
A maior parte das peças exibidas são as mais
recentes criações de Yue Minjun, nunca antes mostradas em público, facto
destacado pelo director do MAM, Chan Hou Seng, na conferência de imprensa
realizada na passada quarta-feira, dia 13 de Novembro de 2013.
Os auto-retratos exagerados e com sorrisos
esmagadores tornaram-se no principal símbolo dos trabalhos deste artista
chinês, primeiro em pinturas a óleo, depois também em esculturas e impressões.
Como escreveu a revista Time, quando em 2007 o considerou uma das “pessoas que
importam” – junto a nomes como Barack Obama, Hillary Clinton e Vladimir Putin –
“se a grande questão do nosso tempo é saber o que fazer com a China, este é o
homem para pintá-la”. Yue foi o único chinês e o único artista a receber a
distinção naquele ano.
Yue Minjun já expôs em vários países, do
Reino Unido aos Estados Unidos da América, passando por Noruega, França e
Suíça, mas é a primeira vez que o faz na RAEM. Um lugar que o artista considera
ser-lhe “pouco familiar” e onde faltam exposições de artistas contemporâneos.
“É um lugar com mais tradições”, diz sobre Macau. “Talvez as pessoas questionem
os meus trabalhos, o que pode também ajudar-me a repensar a minha perspectiva
artística (…). Estou a antecipar o resultado mesmo antes de o público estar
perante as minhas obras”, admite.
No estúdio do artista montado no MAM, há
livros de um outro pintor não contemporâneo, Qi Baishi, e revistas que Yue
costuma ler, na maior parte também relacionadas com arte. Todas os materiais
que o inspiram estão espalhados pelo estúdio – formam um cenário estereotipado
daquilo que poderia imaginar-se ser o lugar de trabalho de um artista.
Além dos famosos sorrisos, a exposição
“Neo-Idolatria” mostra ainda peças da série “Reformulando o Retrato”,
caricaturas de diferentes personalidades, criadas desde 2009. Yue Minjun conta
ao Ponto Final que algumas delas representam amigos artistas, como Xu Bing e Ai
Weiwei. Outras imagens, da série “Epiderme”, revelam retratos da família e,
claro, auto-retratos.
Uma das peças em destaque no MAM é “Roles”,
pintura a óleo de 2011, em que a figura icónica do homem rosa aparece ao centro
e a rir, ladeado de figuras como a Marilyn Monroe de Andy Warhol, a personagem
Rei Macaco, do clássico “Jornada ao Oeste”, e Batman.
Yue Minjun chegou a Macau esta semana para
preparar a exposição que tem inauguração oficial agendada para a próxima
semana, a 20 de Novembro de 2013. As impressões que até agora tem do território é que
se trata de “uma cidade onde é possível viver” e encontrar “harmonia”, com
cidadãos que levam os dias “preguiçosamente”. Apesar de se confessar fascinado
com o território, o artista não pensa para já em incorporar elementos de Macau
nos seus trabalhos futuros. Iris Lei in “Ponto Final” - Macau
Sem comentários:
Enviar um comentário