As memórias da infância vividas no tempo do
império, em Damão, por Cândido do Carmo Azevedo, são o tema de “Goa, Damão e
Diu – Factos, Comunidade e Lazer nos meados do século XX”. O livro foi
reeditado e apresentado na passada quarta-feira, 29 de Outubro de 2013, na
Fundação Rui Cunha.
“Goa, Damão e Diu – Factos, Comunidade e
Lazer nos meados do século XX”, livro de Cândido do Carmo Azevedo, consiste num
registo de memória da “infância feliz” entre 1953 e 1958. Foi ontem apresentado
na Fundação Rui Cunha.
Azevedo, autor de oito obras publicadas,
conta que foi depois de uma viagem em 1988 àquele território que decidiu
registar as memórias de infância. “Trinta e tal anos depois da invasão do
território pela União Indiana [em 1961], estava-se a perder aquela cultura
portuguesa e cristã. Então resolvi escrever para salvaguardar aquelas memórias
e é isso que está no livro”, diz o autor.
Cândido do Carmo Azevedo conta que viveu na
Índia 10 anos, onde fez a instrução primária. “O meu pai era comandante da
polícia e eu percorri Goa, Damão e Diu.” Viver com aquelas crianças “hindus,
mouras, cristãs” foi uma vivência que o fez “enormemente feliz, porque poucas
crianças têm oportunidade de viver numa comunidade tão diferente e com tantos valores
estranhos”, explica Azevedo, que foi professor do Instituto Politécnico de
Macau e leccionou em Pequim.
O livro tem uma dimensão etnográfica. O autor
conta as histórias do quotidiano e inclui um dicionário lúdico no final, com a
explicação de passatempos e jogos. Além disso, o autor foi buscar lendas,
histórias, cantares e lengalengas que “mais ninguém se lembra”, diz.
Hoje, o território “está muito modificado”,
diz. “Tive aquele pensamento que me levou a escrever o livro e foi precisamente
isso que aconteceu”: os territórios alteraram-se muito e já não são hoje o que
eram. “Desapareceram muitas coisas” mas, em termos de património arquitectónico
de matriz portuguesa, os edifícios “mantêm-se e são cuidados”, conclui Cândido
do Carmo Azevedo.
Primeiro de muitos livros
“Este livro é o repositório da vivência que o
autor teve, da mocidade dele e, em alguma medida, também da minha”, explica Rui
Cunha, presidente da fundação que ontem recebeu o lançamento da obra e também
ele com infância passada em Goa.
É Rui Cunha quem assina o prefácio desta
segunda edição. O livro ganhou o Prémio Literário Camilo Pessanha em 1994,
atribuído pelo Instituto Português do Oriente à melhor obra sobre o legado
português nesta região do mundo.
Rui Cunha explica que esta reedição do livro,
quase 20 anos depois do seu lançamento, justifica-se pela importância da obra.
“Até para vermos quanta foi a influência e como o padrão português serviu de
exemplo em relação àqueles territórios”, explica.
Com esta reedição, a Fundação Rui Cunha
inicia aquilo que pretende ser um processo consistente de recolha de memórias
do antigo império português. Ao PONTO FINAL, Rui Cunha diz que esta reedição é
um “bom começo”: “Que venham mais livros, que venham mais coisas. Nós
gostaríamos que isto fosse extensível a todos os territórios onde houve
administração portuguesa. Desta vez é Goa, Damão e Diu, mas que haja de outros
lugares. Isso faz parte dos objectivos da Fundação.” Cláudia Aranda – Macau in “Ponto Final”
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