Graça Pacheco Jorge, Joey Ho, Pedro Jorge Barreiros |
Fotografias raras da colecção de Danilo
Barreiros podem ser vistas agora em Macau, numa exposição que junta imagens de
hoje do fotógrafo Chan Hin Io e pinturas que retratam épocas passadas de João
Magalhães. “Transformações – Fotos e Ilustrações de Macau do passado ao
presente” é o título desta viagem no tempo inaugurada ontem no edifício do
antigo tribunal.
Os escritores Wenceslau de Moraes e Camilo
Pessanha convivendo com o seu mestre de chinês num café em Macau no final do
século XIX é apenas uma das fotos raras da colecção privada do macaense Danilo
Barreiros que agora pode ser vista pelo público na exposição “Transformações –
Fotos e Ilustrações de Macau do passado ao presente”.
A mostra é comissariada pela artista local
Joey Ho e inaugurou ontem no edifício do antigo tribunal, com a presença do
filho de Danilo Barreiros, Pedro Jorge Barreiros, que é quem conserva o
espólio. O fotógrafo Chan Hin Io, nascido em Zhongshan, mas estabelecido em
Macau desde 1990, faz a ponte entre o passado e o presente, apresentando um
conjunto de imagens actuais dos lugares antigos. O artista plástico João
Magalhães participa na mostra com um conjunto de quadros que retratam Macau na
época de Danilo Barreiros, entre 1910 até 1946, quando partiu para Lisboa.
“A Joey já nos tinha falado em fazer uma
exposição de fotografias do Danilo [Barreiros]. Ela escreveu-nos em Setembro [de
2013] a dizer-nos que o projecto ia mesmo para a frente. Esteve connosco [em
Lisboa] em Outubro. Estivemos praticamente 24 horas por dia a trabalhar, a
fazer a escolha, a digitalização, fizemos tudo em casa. O Pedro fez as legendas
em português, eu fiz a tradução para inglês, a Joey fez em chinês. Foi o
trabalho de nós os três”, explica Graça Pacheco Jorge, mulher de Pedro Jorge
Barreiros, também ela parente de Danilo Barreiros, autora de diversos livros
sobre culinária de Macau, tendo colaborado em documentários sobre a cultura e
gastronomia macaenses.
Para Pedro Jorge Barreiros, médico,
professor, pintor, autor de várias obras literárias e colaborador de
documentários sobre figuras ilustres de Macau, que nasceu no território mas
saiu muito novo para Portugal, esta exposição é uma forma de manter uma ligação
com o território. “[Representa] uma continuidade das vezes que tenho vindo a
Macau, a propósito não só do meu pai mas da minha família, e que tem sido muito
importante, que é a recordação, no local, de tudo o que aprendi de Macau, que
me foi ensinado por eles, e da ligação que continuo a ter.”
“As pessoas querem saber a história”
João Magalhães pintou “quadros inspirados na
cidade, na vivência de Macau, nas histórias contadas pelos pais”. “Desde pequenino
que estou habituado a ver fotos antigas”, explica. Magalhães pinta as suas
próprias memórias da cidade e o que ainda se conserva do passado. “Esta
exposição consegue mostrar o antigo, o presente e consegue mostrar essa
passagem [entre o antigo e o novo], porque ainda se consegue ver e sentir muita
coisa, os cheiros, o mahjong na rua, o que faz esta cidade um lugar
interessante, com essa mistura das duas culturas, o ocidente e o oriente”.
Para a comissária da exposição, Joey Ho, esta
mostra é uma forma de os habitantes da cidade conhecerem melhor as suas raízes
e a sua história. “As pessoas querem conhecer o passado, os que vivem na cidade
querem saber a sua história. Penso que vai ser fácil atrair a atenção do
público, as pessoas querem entender-se a si próprias”, afirma.
Joey Ho conheceu Graça e Pedro há cerca de
três anos, quando trabalhavam na biografia trilingue do avô de ambos, o
macaense José Vicente Jorge, sinólogo, coleccionador de arte, figura influente
da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Em múltiplas
conversas, Joey começou a interessar-se pelo passado daquela família, com uma
história conhecida desde o século XVII.
Por sua vez, Miguel de Senna Fernandes,
advogado, dramaturgo, presidente da Associação dos Macaenses, presente na
inauguração, afirma que esta mostra permite “dar a conhecer o que foi a
cidade”. “Macau não foi só uma terra antiga onde tudo se destruiu e onde tudo
se substituiu pelas coisas que vemos agora. É uma terra com história, o que
vemos [nestas imagens] é a história a nível arquitectónico, mas sobretudo o
aspecto humano”. “Muitas pessoas não fazem ideia do que foi este território e
esta exposição pode dar uma nova perspectiva”, prossegue Senna Fernandes.
“Claro que é apenas uma pequena amostra, mas é o suficiente para dar uma ideia
bem precisa que aqui sempre houve várias nuances,
várias comunidades que se cruzaram, que sempre viveram aqui. A parte dos
chineses, que eram a população maioritária, e a comunidade portuguesa, bem
enraizada, com costumes muito próprios. Esta exposição vem trazer precisamente
esta dimensão.” Cláudia Aranda – Macau in “Ponto Final”
Sem comentários:
Enviar um comentário