“A Noite Desceu em Dezembro”, publicado em
fascículos no PONTO FINAL, deve sair em livro no próximo mês de Dezembro.
Família, Praia Grande Edições e Instituto Cultural acertam detalhes para a
publicação da obra de Henrique de Senna Fernandes. Cumpriu-se três anos sobre a
morte do autor no passado dia 06 de Outubro de 2013.
O romance “A Noite Desceu em Dezembro”,
resultado dos textos publicados no PONTO FINAL por Henrique de Senna Fernandes,
corria o ano de 2004, deve ser finalmente publicado em livro em Dezembro, mês
que condiz com o título da obra. A família, representada por Miguel de Senna
Fernandes, a Praia Grande Edições, empresa que publica o PONTO FINAL, e o
Instituto Cultural, que quer dar à estampa a obra completa de Senna Fernandes,
estão a ultimar a edição prevista para o Natal.
Miguel de Senna Fernandes fala da vontade da
Praia Grande Edições em dar à estampa o romance do pai, que morreu faz hoje
precisamente três anos. “Acharam por bem publicar o romance e estamos em
conversações. O Ricardo Pinto propõe que se lance em Dezembro e o Instituto
Cultural já fez uma abordagem, também.”
Ricardo Pinto, administrador da Praia Grande
Edições, confirma que tudo aponta que para que “A Noite Desceu em Dezembro”
esteja nos escaparates ainda este ano, faltando “acertar apenas alguns
detalhes”.
O vice-presidente do Instituto Cultural, Yao
Jing Ming, também assegura que tem estado em contacto com família e editora, e
que “a vontade e o projecto é publicar a obra completa do escritor”. Yao, que
espera que Senna Fernandes seja “o mais divulgado possível”, revela também que
há conversas com a família do autor de “Amor e Dedinhos de Pé” para que mais
obras sejam traduzidas de português para chinês.
Traduções em marcha
Um dos propósitos do Instituto Cultural é
tornar os trabalhos de ficção do também jurista ao público chinês. “O Pai das
Orquídeas” deve ser vertido para caracteres em breve, revela Yao Jing Ming, e
“Os Dores” já está a ser traduzidos para a língua chinesa, acrescenta o filho
Miguel de Senna Fernandes.
Este objectivo de tornar Henrique de Senna
Fernandos legível para o público chinês está em consonância com o projecto da
Casa da Literatura de Macau, prevista para uma das casas junto ao Jardim Lou
Lim Ieoc e onde, assegura o vice-presidente do Instituto Cultural, Senna
Fernandes terá “um lugar destacado”. Neste momento há académicos a preparar
biografias críticas de vários escritores de Macau, incluindo do autor de
“Trança Feiticeira”, outro dos seus romances levados ao cinema.
Vendido e estudado
Na Livraria Portuguesa, quando se assinalam
três anos sobre a morte de Henrique de Senna Fernandes, os livros do autor
continuam a vender-se. Rui Simões, um dos responsáveis pelo espaço, refere que
“em termos de livros editados em Macau, os de Henrique de Senna Fernandes são
dos que mais vendem”. No top dos mais procurados está, revela, “Nam Van –
Contos de Macau”. A publicação das novas edições do Instituto Cultural também
tem feito crescer as vendas, acrescenta Simões.
Na Universidade de Macau, por seu turno, o
autor continua a ser estudado e a receber atenção por parte de docentes como
Maria Antónia Espadinha e Fernanda Gil Costa, que o incluem nos seus programas
curriculares. Há até uma tese de mestrado, coordenada por Fernanda Gil Costa, a
ser desenvolvida sobre a obra do autor.
Maria Antónia Espadinha refere um fenómeno
interessante: “O Brasil está-se a apropriar da literatura de Macau. Há um grupo
de investigadores que estudam os escritores de Macau, como o Henrique de Senna
Fernandes.” Desse grupo fazem parte nomes como Mónia Simas.
Senna Fernandes |
Henrique de Senna Fernandes partiu em 2010,
aos 86 anos. Deixou filhos, família, amigos e, também importante, obra feita.
“Foi uma pessoa que deixou um legado importante, que ainda não está todo
valorizado e conhecido”, dizia Espadinha em Outubro passado. “Era um homem
muito de Macau, que tinha uma ternura muito grande por esta terra, que
transparece nos livros, e uma ternura muito especial pelo sexo feminino, com
personagens femininas sempre extremamente simpáticas. Tinha uma capacidade de
ficcionar bastante grande.”
O também advogado e professor arrancava das
peripécias que lhe enchiam os dias para escrever os livros que o tornaram
célebre. “Os romances partem sempre de alguma coisa que foi real e que ele
transforma e reconta. Teve uma vida longa mas foi pena que nos últimos anos
estivesse doente e não pudesse ter deixado mais coisas”, lamenta a professora
de Literatura, responsável pela proposta feita à Universidade de Macau de atribuir
o título Doutor Honoris Causa a Henrique de Senna Fernandes. A distinção
concretizou-se em 2008.
Filho de uma família ilustre, com 11 irmãos,
Henrique nem sempre teve vida fácil. A II Guerra Mundial e as repercussões que
teve no território fragilizaram a estrutura patriarcal, encabeçada pelo pai
Edmundo José. É só muito mais tarde, já nos anos 1970 e com a carreira
profissional já estabilizada, que Senna Fernandes publica o primeiro livro,
“Nam Van – Contos de Macau”. Pouco depois, já na década de 1980, chegariam os
romances “A Trança Feiticeira” e “Amor e Dedinhos de Pé”, que haveriam de
celebrizá-lo. Hélder Beja – Macau in “Ponto Final”
Senna Fernandes merece ser lido, pelo menos por duas razões: para quem queira conhecer o Macau antigo, já desaparecido, e pela beleza e clareza dos seus gostosos textos.
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