Angola: Abusos Policiais contra Vendedores
Ambulantes em Luanda
Maus Tratos e Extorsão dos Pobres Urbanos do
País Rico em Petróleo
(Joanesburgo) – A polícia angolana comete
regularmente actos de agressão e extorsão contra vendedoras e vendedores
ambulantes durante “operações de retirada” na capital Luanda, denunciou a Human
Rights Watch num relatório lançado agora.
O relatório de 36 páginas, “‘Tira Essas
Porcarias Daqui’: Violência Policial Cometida Contra Vendedores Ambulantes em
Angola”, descreve a forma como agentes da polícia e fiscais do governo,
frequentemente de traje civil e sem identificação, sujeitam as vendedoras
ambulantes a maus-tratos, incluindo muitas mulheres com bebés, no decurso das
operações para retirá-las da rua à força. A Human Rights Watch entrevistou 73
vendedores e vendedoras ambulantes em Luanda, que descreveram com grande
pormenor a forma como a polícia apreende os seus produtos, extorque subornos,
faz ameaças de detenção e, em alguns casos, detém efectivamente. Para estes
abusos, a impunidade tem sido a regra.
Fuga das vendedoras em Viana, Luanda, no passado dia 15 de Setembro |
“Todos os dias, a polícia agride e assalta
vendedores ambulantes com violência, em plena luz do dia, e ninguém faz nada,”
denunciou Leslie Lefkow, directora-adjunta de África da Human Rights Watch. “A
conduta da polícia não deve pautar-se por abusos e roubos.”
O governo deve dar imediatamente ordens
públicas à polícia para cessar a violência e assegurar-se de que as operações
de retirada são levadas a cabo por agentes profissionais que actuam com total
respeito pela lei, declarou a Human Rights Watch.
As repressões policiais de vendedores
ambulantes têm vindo a aumentar desde Outubro de 2012, altura em que o
governador de Luanda anunciou que as autoridades iriam retirar os vendedores
ambulantes da rua, disse a Human Rights Watch. As autoridades provinciais
prometeram a construção de novos mercados para os vendedores. Estas operações
fazem parte de uma política governamental de longo prazo destinada a reduzir o
sector informal na Angola do pós-guerra, que também inclui despejos forçados em
massa de bairros informais. Os visados de ambos os tipos de retirada têm sido as
comunidades mais pobres de Luanda.
Muitas das rusgas seguem um padrão
semelhante: fiscais, geralmente munidos de porretes, e polícias armados abordam
grupos de vendedores ambulantes a pé, de carro ou de mota. De seguida, afugentam
os vendedores agredindo-os e confiscando os seus produtos.
As vendedoras ambulantes descreveram a violência
das rusgas à Human Rights Watch. Disseram que até mulheres grávidas são
espancadas com porretes e outros objectos e agredidas com pontapés, estalos e
murros, sustendo ferimentos como nódoas negras e braços, pernas e rostos
inchados.
“Onde eu vendo, há muitas zungueiras
(vendedoras ambulantes) com bebés às costas,” contou uma vendedora de 22 anos à
Human Rights Watch. “Os polícias e os fiscais vêm de moto. Dão-nos pontapés e
atiram as nossas coisas para o chão. Alguns levam as nossas coisas. Só não
levam se pagarmos. Dizem: ‘Tira estas porcarias daqui. Aqui não é sítio para
vender.’”
Jornalistas, familiares, transeuntes e outras
testemunhas que tentam intervir, queixar-se ou documentar os abusos enfrentam
detenções e agressões arbitrárias às mãos da polícia, disse a Human Rights
Watch. Uma investigadora da organização foi detida em Abril durante um breve
período de tempo, quando entrevistava vendedores ambulantes.
Esta intimidação e este assédio reflectem o
ambiente cada vez mais repressivo para jornalistas e defensores dos direitos
humanos que se vive em Angola, disse a Human Rights Watch. Os jornalistas
independentes correm grandes riscos quando denunciam repressões policiais e os
meios de comunicação do estado recusam-se a fazer a cobertura noticiosa do
assunto.
“As autoridades angolanas devem parar
imediatamente de punir jornalistas, defensores dos direitos humanos e cidadãos
preocupados que expõem as violações de direitos a que vendedores ambulantes e
outros indivíduos sãos sujeitos,” declarou Lefkow. “Devem, sim, investigar os
abusos e levar os responsáveis a tribunal.”
A maioria dos vendedores ambulantes vive em
condições de pobreza extrema desde que, há uma década atrás, foi deslocada
durante a guerra civil, e tem sido excluída dos benefícios trazidos pela
economia do pós-guerra em constante crescimento. A grande maioria não tem acesso
a serviços públicos básicos, vive em bairros informais sem protecção jurídica e
nem sequer possui um bilhete de identidade.
“O governo afirma que a satisfação dos
direitos económicos e sociais é uma prioridade, mas, se assim é, deveria
garantir que as comunidades mais pobres de Angola são protegidas e não alvo de
abusos,” relembrou Lefkow. “Ajudar os vendedores ambulantes a ter acesso a
bilhetes de identidade e a serviços públicos seria um primeiro passo muito
positivo.” Pode aceder ao documento completo da Human Rights
Watch aqui. Human Rights Watch – África do
Sul
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