Exposição pode salvar escola
A decisão acordada entre Macau e Lisboa de
organizar uma exposição de arquitectura portuguesa contemporânea aponta no
sentido da classificação do edifício da Escola Portuguesa. É esta leitura do
arquitecto Rui Leão, que nota um “silêncio desconfortável” dos dois governos em
relação ao futuro do imóvel.
A realização de uma exposição de arquitectura
portuguesa contemporânea em Macau foi o resultado mais concreto do compromisso
assumido entre a RAEM e Portugal em reforçar a cooperação na área da cultura. A
decisão foi tomada no âmbito da segunda reunião da Comissão Mista (os dois
governos assinaram cinco novos protocolos na área da educação, Ambiente,
Turismo e Direitos do Consumidor) e apanhou de surpresa Rui Leão,
vice-presidente da Associação dos Arquitectos de Macau e do Conselho
Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa.
“Não sabia. É bom que haja este tipo de
interesse e que se fomente o diálogo ao nível cultural entre as duas partes”,
reage Rui Leão. Para o arquitecto, a decisão de organizar uma exposição de
arquitectura portuguesa é sobretudo “um sinal” de que o edifício da Escola
Portuguesa de Macau (EPM) será classificado como património. O imóvel foi
desenhado em 1963 pelo arquitecto Raul Chorão Ramalho e é um dos ícones do
modernismo no território. “Se houver coerência, preservar o edifício é o que
faz sentido que aconteça”, reforça.
“É especialmente importante que os governos
de Portugal e Macau dêem primazia à arquitectura, numa altura em que o
património parece estar desprotegido”, destaca Rui Leão. O futuro do edifício
da EPM está em aberto. O Executivo de Chui Sai On delegou em Portugal a decisão
de manter ou não a escola nas actuais instalações.
Cheong U, secretário para os Assuntos Sociais
e Cultura, reuniu-se em Lisboa com o ministro português da Educação, Nuno
Crato, que prometeu dar uma resposta em breve. O Governo de Macau garante a
continuidade do apoio à EPM, quer a escola permaneça no actual terreno, quer
mude de localização – mas não foi dada qualquer garantia sobre a manutenção do
edifício modernista, próximo do casino Grand Lisboa.
“Há um silêncio desconfortável sobre esta
questão, não só para os arquitectos, como para a comunidade portuguesa e
macaense”, nota Rui Leão, ao destacar que Portugal e Macau “nunca se referiram
ao futuro de um edifício que tem um valor patrimonial incontestável”.
Língua política
O papel do português nas relações bilaterais
entre Macau e Portugal saiu reforçado da reunião da Comissão Mista, com as duas
partes a declararem, num comunicado conjunto, a “importância da cooperação no
domínio da língua portuguesa”. O “crescente relevo internacional” do português
e “o papel da RAEM enquanto plataforma de formação e difusão da língua
portuguesa” foram aspectos destacados pelos dois governos.
Macau e Portugal acordaram “desenvolver a
cooperação ao nível da qualidade do ensino superior, através do apoio das
instituições portuguesas aos trabalhos” em marcha no território. As duas partes
assinaram ainda um protocolo na área do ensino não superior, que “envolve o
reforço na formação de professores de língua portuguesa em Macau”, com o apoio
do Governo português.
“Nós precisamos de mais apoio de Portugal
para a formação de professores de língua portuguesa. E Macau pode
disponibilizar professores para ensinar mandarim. Há muita gente que quer
aprender e nós temos pessoal”, resumiu Alexis Tam, porta-voz do Governo e chefe
da delegação de Macau a Lisboa, em declarações ao Canal Macau.
“Este acordo é muito bom e vai ter resultados
muito efectivos”, comenta Teresa Vong, directora do Centro de Pesquisa
Educacional da Universidade de Macau. A professora concretiza: “Nós precisamos
de falantes fluentes de português para fazer a ligação entre a China e os
países de língua portuguesa e de especialistas de português que dominem a área
do Direito”. “É uma oportunidade para as duas partes”, entende.
Teresa Vong defende ainda que os protocolos
assinados por Macau em Lisboa devem também “ser interpretados como uma
oportunidade para os estudantes locais”. “Devem ser vistos como um canal para
os alunos poderem sair de Macau para estudarem na Europa”, diz. Os acordos,
acrescenta, deverão também servir para aumentar a investigação na área do
português.
Mas há uma condição prévia para que o plano
possa funcionar, ressalva: “O Governo tem de ter uma política clara para língua
portuguesa, que parece não ter”. A língua portuguesa também é futuro e
desenvolvimento – será a nossa vantagem, daqui a uns dez, 20 anos, nas relações
com o Brasil, por exemplo – e é língua oficial. É preciso incentivar o
português enquanto língua política de Macau”, remata Vong. Sónia Nunes – Macau in “Ponto Final”
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