Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Escola Portuguesa

Exposição pode salvar escola

A decisão acordada entre Macau e Lisboa de organizar uma exposição de arquitectura portuguesa contemporânea aponta no sentido da classificação do edifício da Escola Portuguesa. É esta leitura do arquitecto Rui Leão, que nota um “silêncio desconfortável” dos dois governos em relação ao futuro do imóvel.

A realização de uma exposição de arquitectura portuguesa contemporânea em Macau foi o resultado mais concreto do compromisso assumido entre a RAEM e Portugal em reforçar a cooperação na área da cultura. A decisão foi tomada no âmbito da segunda reunião da Comissão Mista (os dois governos assinaram cinco novos protocolos na área da educação, Ambiente, Turismo e Direitos do Consumidor) e apanhou de surpresa Rui Leão, vice-presidente da Associação dos Arquitectos de Macau e do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa.



“Não sabia. É bom que haja este tipo de interesse e que se fomente o diálogo ao nível cultural entre as duas partes”, reage Rui Leão. Para o arquitecto, a decisão de organizar uma exposição de arquitectura portuguesa é sobretudo “um sinal” de que o edifício da Escola Portuguesa de Macau (EPM) será classificado como património. O imóvel foi desenhado em 1963 pelo arquitecto Raul Chorão Ramalho e é um dos ícones do modernismo no território. “Se houver coerência, preservar o edifício é o que faz sentido que aconteça”, reforça.

“É especialmente importante que os governos de Portugal e Macau dêem primazia à arquitectura, numa altura em que o património parece estar desprotegido”, destaca Rui Leão. O futuro do edifício da EPM está em aberto. O Executivo de Chui Sai On delegou em Portugal a decisão de manter ou não a escola nas actuais instalações.

Cheong U, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, reuniu-se em Lisboa com o ministro português da Educação, Nuno Crato, que prometeu dar uma resposta em breve. O Governo de Macau garante a continuidade do apoio à EPM, quer a escola permaneça no actual terreno, quer mude de localização – mas não foi dada qualquer garantia sobre a manutenção do edifício modernista, próximo do casino Grand Lisboa.

“Há um silêncio desconfortável sobre esta questão, não só para os arquitectos, como para a comunidade portuguesa e macaense”, nota Rui Leão, ao destacar que Portugal e Macau “nunca se referiram ao futuro de um edifício que tem um valor patrimonial incontestável”.



Língua política



O papel do português nas relações bilaterais entre Macau e Portugal saiu reforçado da reunião da Comissão Mista, com as duas partes a declararem, num comunicado conjunto, a “importância da cooperação no domínio da língua portuguesa”. O “crescente relevo internacional” do português e “o papel da RAEM enquanto plataforma de formação e difusão da língua portuguesa” foram aspectos destacados pelos dois governos.

Macau e Portugal acordaram “desenvolver a cooperação ao nível da qualidade do ensino superior, através do apoio das instituições portuguesas aos trabalhos” em marcha no território. As duas partes assinaram ainda um protocolo na área do ensino não superior, que “envolve o reforço na formação de professores de língua portuguesa em Macau”, com o apoio do Governo português.

“Nós precisamos de mais apoio de Portugal para a formação de professores de língua portuguesa. E Macau pode disponibilizar professores para ensinar mandarim. Há muita gente que quer aprender e nós temos pessoal”, resumiu Alexis Tam, porta-voz do Governo e chefe da delegação de Macau a Lisboa, em declarações ao Canal Macau.

“Este acordo é muito bom e vai ter resultados muito efectivos”, comenta Teresa Vong, directora do Centro de Pesquisa Educacional da Universidade de Macau. A professora concretiza: “Nós precisamos de falantes fluentes de português para fazer a ligação entre a China e os países de língua portuguesa e de especialistas de português que dominem a área do Direito”. “É uma oportunidade para as duas partes”, entende.

Teresa Vong defende ainda que os protocolos assinados por Macau em Lisboa devem também “ser interpretados como uma oportunidade para os estudantes locais”. “Devem ser vistos como um canal para os alunos poderem sair de Macau para estudarem na Europa”, diz. Os acordos, acrescenta, deverão também servir para aumentar a investigação na área do português.

Mas há uma condição prévia para que o plano possa funcionar, ressalva: “O Governo tem de ter uma política clara para língua portuguesa, que parece não ter”. A língua portuguesa também é futuro e desenvolvimento – será a nossa vantagem, daqui a uns dez, 20 anos, nas relações com o Brasil, por exemplo – e é língua oficial. É preciso incentivar o português enquanto língua política de Macau”, remata Vong. Sónia Nunes – Macau in “Ponto Final”

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