As palavras do comissário Joaquin Almunia
sobre a impossibilidade do encaixe duma Catalunha soberana dentro da Europa vem
de trazer à tona a clareza duma posição de força que desenha no continente a
abertura dum novo “modus operandi”, ainda que condizente no fundo e variante na
forma, com os realizados no passado. Isto é: o da clareza de saber que a União
Europeia só atua nos casos de soberania por interesses económicos ou
condicionantes geopolíticos. Além de comprovar que o poder dos Estados segue a
ser o grande entrave da consolidação dessa suposta União.
As cadeias que agora a Europa tece junto com
a Espanha sobre o entusiasmo catalão têm a sua correspondente correlação na
comprovação prática da já famosa visão de Gandhi, de serem as cadeias que se
cerram sobre o oprimido as mesmas que afogam o opressor.
Catalunha tem demonstrado uma muito correta
aposta democrática na sua encenação da chamada “via Catalã”. Factos são factos;
visões são visões: Catalunha tem nome de mulher, no novo paradigma, do novo
milénio. O fim do patriarcado traz consigo um ressurgir dos caracteres
associados ao feminino, entre eles o sentimento fundo de pertença à terra;
unidos a valores masculinos tão primordiais como a clareza (a clareza da Europa
da força, a clareza da determinação catalã). Na construção desse novo paradigma
que, onda a onda, vai deslocando a velha matriz construída através da visão
racionalista – herdada de Descartes e Newton – a física quântica tem mostrado
um vigor inquestionável. Sem as achegas da física quântica hoje não poderíamos
falar de modernidade: Internet, a revolução das telecomunicações, entre outras
descobertas não teriam sentido sem o sustento da raiz quântica. Dentro desta
mudança a realidade deixa de ser linear e construída por fatores externos e
passa a ser multidimensional e construída desde a consciência. E tudo parece
indicar que a consciência catalã está muito enraizada na terra.
Aconteça o que acontecer, se os catalães e
catalãs decidem que eles vivenciam já dentro da sua alma a independência como
um facto real, isso se traduz – segundo a filosofia quântica – em uma realidade
imutável. O resto serão passos necessários e provações inerentes que vão
avaliar, no tempo, a firmeza e flexibilidade desta sociedade. Surgirão muitos
entraves e pedras de grande tamanho e peso, mas como diz o refrão romeno: “o
caminho também é feito de pedras”. Se o povo catalão resguardar a sua
independência no fundo do seu coração ninguém lha poderá roubar (podem
roubar-nos a casa, o carro... bens materiais, mas ninguém pode roubar-nos
aquilo que resguardamos no centro da alma). Sendo que esta jóia a cada dia se
tornará mais formosa.
Pelo caminho surgirão múltiplas dificuldades:
negociações abertas, negociações encobertas, encontros, desencontros, ilusões,
desilusões, frustrações, ressentimentos... Muitos abandonarão a luta por
cansaço ou pressão (o qual não deixa de ser humanamente compreensível), no
entanto o processo avançará e afinal trará consigo a ansiada liberdade, o de
menos é a sua concretização material no tempo; cada processo tem o seu tempo –
e a ansiedade pode converter-se numa força muito destrutiva, ao invés de
avançar costuma adiar os resultados práticos. Mas se a vontade dos catalães
prevalecer e tudo aponta a que a tendência será de fortalecer essa
persistência, mais ou menos num futuro próximo teremos uma nação catalã já não
só para efeitos práticos, que hoje por vontade maioritária já o é... Como
também à luz das formalidades.
Esse Estado será constituído dentro da
Europa, e ele regerá relativamente os seus recursos próprios, conforme ao
encaixe atual de cessão de soberania em prol da criação de realidades regionais
maiores; que paradoxalmente os atuais estados nação da Europa impedem de
avançar e no entanto é o único caminho – marcado pelo passo imparável da
globalização mundial. Aquela cujo ritmo foi imposto pelas mesmas financeiras
elites ocidentais que agora tentam exercitar a sua coação sobre a sociedade
catalã.
Que seja esta viagem uma maravilhosa viagem
em face da sua liberdade. Aguardamos que no caminho o povo catalão possa trazer
um novo ar fresco com o qual contagiar esta nova e velha Europa rumada desde há
séculos para os simples e prósperos negócios, e que hoje mais que nunca essa
triste realidade se fez evidente. Artur
Alonso – Galiza in “Portal Galego da Língua”
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