“O mundo evoluiu muito. A mesma América que,
há escassas décadas, impedia a entrada de pretos em certos autocarros, elegeu
Obama. A África do Sul, que não permitia senão a brancos que se sentassem em
certos bancos de jardim, revelou Mandela como uma figura ímpar no seu
humanismo. E, no entanto, neste século XXI, continuam a subsistir e a ser
eleitos atrasados mentais como o tal senador italiano (um senador italiano decidiu
qualificar de "orangotango" uma ministra do seu país). E a
revelarem-se diariamente, no anonimato cobarde dos comentaristas nos
"sites", um racismo e uma xenofobia larvares, que mostram que há um
Portugal desconhecido (ou menos conhecido) que espera por nós, ao virar da
esquina do populismo.
Porque razão utilizei a palavra "preto"
e não "negro"? Porque há muito que me convenci que uma postura
anti-racista não se demonstra pelo léxico que se utiliza, por muito que alguns
puristas nos queiram convencer do contrário. Eu digo, indiferentemente, preto
ou negro e desafio quem quer que seja a inculpar-me do menor racismo nas minhas
ações. Tenho amigos pretos, ou negros, se quiserem, e a sua cor é uma coisa que
só os outros me lembram. A tolerância e a capacidade de convivência com a
diferença é uma atitude de vida, de respeito pelos outros e, muito em especial,
de orgulho em fazermos parte de um país que, no plano internacional, é hoje
distinguido pelas suas políticas de integração das comunidades imigrantes
(sabiam?). E onde, contrariamente a outras sociedades mais desenvolvidas, nunca
se ouviu um eleito nacional assumir publicamente palavras tão torpes como as do
triste senador italiano.” Seixas da Costa – Portugal in “Duas ou três coisas”
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