“Talvez em nenhum outro momento da nossa
história quase milenar o povo português se tenha sentido tão derrotado como
agora. Talvez em nenhum outro período da nossa história coletiva tenha havido
tão pouca esperança no futuro como agora. As nossas elites - os nossos melhores
- venderam-se e nesse ato de degenerescência moral alienaram também o que de
melhor havia neste povo de marinheiros: a coragem para enfrentar as grandes
adversidades, a força para vencer adamastores e mostrengos, a capacidade, em
suma, de, nos piores momentos, gerar esperança e confiança no destino coletivo.
Há menos de 30 anos, prometeram-nos com
cerimoniais grandiloquentes uma Europa do progresso e do bem-estar; uma Europa
da cidadania; uma Europa da solidariedade. Tudo isso nos foi garantido com a
pompa e a circunstância com que ao longo da história se enfeitaram as grandes
mentiras coletivas. Esse projeto grandioso nasceria aqui neste território há
mais de quatro mil anos dilacerado por sangrentas guerras civis e que, por
egoísmos nacionais, gerou algumas das maiores catástrofes da história da
humanidade.
Eu, que fui, na dimensão dos meus mundos
pessoais, um cidadão entusiasmado com esse ideal helenista, deixei há muito de
acreditar nessa mentira e, hoje, quase sinto vergonha de ser europeu. Essa
Europa, renascida das cinzas da guerra mais devastadora de sempre, que nos
prometeram de paz e de prosperidade, está hoje novamente dilacerada por uma
outra guerra entre os seus vários egoísmos nacionais, em que o papel outrora
pertencente às espadas, tanques e canhões é agora desempenhado pelo dinheiro e
pelos antagonismos tribais que ele gera e exacerba.” Marinho Pinto – Portugal in “Jornal
de Negócios”
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