“A preservação das
chamadas línguas minoritárias tem vindo a tornar-se uma evidência para cada vez
maior número de pessoas. Mas esse é sobretudo um imperativo orientado a
preservar uma parte indispensável do património cultural da humanidade. Daí que
todo o processo de defesa e promoção da língua deva ser encarado como uma
exigência de cidadania da mais alta importância, que não tem apenas uma
dimensão nacional, mas internacional.
A diversidade
linguística e cultural é uma riqueza para Portugal, integrante da nossa
identidade. Aceitando a verdade histórica e sociológica, Portugal deve
apresentar-se como país bilingue e integrar essa referência nos programas das
nossas escolas, dando a conhecer a todos os cidadãos a existência da língua
mirandesa, sua origem e características.
A democracia
linguística é um elemento importante da democracia em geral, assente no
respeito pela diferença. Não basta uma lei proclamatória, exigindo-se que o
Estado concretize os compromissos que assumiu em lei, nos mais diversos
domínios.
Além de um problema
de dignidade dos seus falantes, as línguas são também um problema ecológico,
entendido em sentido amplo, que a todos deve preocupar. Pela língua se exprimem
culturas, tradições, saberes e modos de viver que são essenciais ao equilíbrio
das sociedades e ao bem-estar dos cidadãos. Também de Portugal. Se o mirandês
desaparecer ninguém ganha nada com isso, mas Portugal, os portugueses e, dentre
estes, os mirandeses ficam mais pobres.
Para os mirandeses e
para todos os concelhos da terra de Miranda, em particular, o mirandês e a
cultura mirandesa assumem-se também como um importante valor económico, que
importa ter em conta numa região que está em profunda depressão económica e em
acelerado processo de desertificação. Pelo facto de falarem outra língua, os
mirandeses não são menos portugueses que os outros, como o demonstra a sua
história, nem nunca quiseram ser outra coisa senão portugueses. Hoje os
mirandeses continuam a ser bilingues e a sua afirmação do mirandês não implica
a negação do português. Defender, promover e desenvolver a língua mirandesa é
um dever de cidadania que se impõe, nomeadamente a todos os mirandeses.” Amadeu Ferreira - Portugal
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