Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Mercadorias


            Ter a oportunidade de escrever artigos de opinião num jornal nacional só é privilégio de alguns, sejam eles jornalistas, comentadores, técnicos. Escreve-se por determinadas razões, sempre com um fim de cumprir um objectivo e quando o jornal é mais regional que nacional, encontramos artigos de opinião, que aparentam querer elucidar os leitores, mas no fundo estão apenas a defender algumas “capelinhas”.

            Esta minha introdução tem por base um artigo de opinião ontem publicado num jornal de grande tiragem que após uma prosa com um fim determinado, acaba dizendo e eu passo a citar: “Por fim: esta solução do Governo de fazer o Poceirão-Caia (com ligação a Sines) é mistificadora. Estamos a criar um eixo de transporte de mercadorias para supostos grandes barcos, carregados de mercadorias do Oriente, que vêm descarregar a Sines. Há nisto um grande valor acrescentado para Portugal? Estamos a apostar tudo na hipótese Sines, sem confirmação garantida, enquanto já existe, hoje, esta realidade: a indústria portuguesa não está no Alentejo. Está entre Setúbal e Viana dos Castelo. Porquê mercadorias a atravessar o Alentejo? Nada disso: o Governo mantém a construção de parte da linha Lisboa-Madrid. Para já, supostas mercadorias. Depois de construída, um dia, alguém a usará também para passageiros. O 'TGV'.”

            O interessante é que no mesmo dia em que o articulista escreveu o artigo a Administração do Porto de Sines vem anunciar: “Em Janeiro de 2013 o Porto de Sines estabeleceu um novo máximo histórico mensal na movimentação de carga contentorizada, com um total de 66.359 TEU, representando um crescimento de 38% face ao mês homólogo de 2012. Comparativamente, a movimentação de contentores nas cargas cresceu 40% e nas descargas cresceu 35%, o que representa um aumento mais significativo nas exportações.”

            Antes de continuar este meu texto, deixo ficar uma pergunta: De que vivem os holandeses, sem ser a produção de flores?

            Vasco da Gama nasceu em Sines e daí percorreu um longo caminho que começou a 08 de Julho de 1497 através do Atlântico, Índico, até alcançar as portas do Pacífico. Tudo isto foi possível porque Sines ficava no centro do mundo e não havia na época o canal do Panamá. Sines vai ser a porta da Europa para a África, América e a Ásia, com a vantagem deste último mercado passar a ter um trajecto limpo de pirataria.

            É evidente que o Alentejo não tem indústrias, mas tem uma planície que permite escoar rapidamente mercadorias de e para a Europa, ganhando dois dias num produto, por exemplo, com destino a Madrid e muito mais, se conseguir chegar por exemplo a Lyon ou Berlim. Para tal necessita de uma linha ferroviária de Velocidade Alta, a única que permite o transporte de mercadorias e de passageiros e que haja a inteligência “quanto baste” para fazer passar a linha ferroviária de maneira a poder servir o aeroporto de Beja, para que este eixo Sines – Beja, seja também um núcleo de transporte de produtos perecíveis entre a América e a Europa.

            O autor do artigo de opinião, conforme citei em cima pergunta: “Há nisto um grande valor acrescentado para Portugal?”. E eu respondo-lhe: não faz a ideia de quanto! É pena que entretanto já tenham passado tantos anos e não se tenham feito investimentos em áreas que dão retorno financeiro. Baía da Lusofonia

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