Já
há alguns meses falei neste blogue na Trafaria e de algumas boas recordações
que esta terra acolhedora me deixou. Foi por lá que em 1966 assisti via
televisão ao célebre jogo Portugal – Coreia do Norte para o Campeonato do Mundo
que os portugueses ganharam por 5 – 3, após um início que emudeceu todo o
mundo, quando os coreanos chegaram ao 0 – 3.
Na
Trafaria começava, junto ao presídio militar, um extenso areal que só acabava
para lá da lagoa de Albufeira. A sua praia, na década cinquenta do século
passado, tinha banheiro, baloiços para os mais jovens e chuveiros, apetrechos
de vanguarda para época, numa altura em que a maioria dos lisboetas, preferiam
a mata do Monsanto para lá realizarem os seus piqueniques, do que efectivamente
uma deslocação à praia.
Junto
ao bico da areia, que outrora dava acesso a pé até ao farol do Bugio, a chamada
Golada do Tejo, os veraneantes apanhavam bivalves, berbigão e ameijoas e por
vezes nos canais que se formavam, era uma correria atrás de polvos. Uma
qualidade ambiental excelente.
Um dia tudo
desapareceu, quando um político qualquer, de certeza natural de outra região
que não Lisboa, decidiu colocar um silo no local aonde hoje ainda se encontra,
destruindo um potencial turístico, cuja única recordação se encontra num velho
teledisco de uma canção de Amália Rodrigues.
Depois destas
palavras de introdução, sobre o passado da Trafaria, onde há registos da
passagem de El-Rei D. Carlos, resta-me abordar a actualidade, depois de ler
alguns comentários nestes últimos dias sobre o porto de contentores que ali se
vai construir, a machadada final numa povoação que tem estado em regressão nas
últimas décadas.
Perante o actual
cenário da margem esquerda do Tejo até poderia aceitar um porto de contentores
na Trafaria, pois já que destruíram uma zona de alta qualidade ambiental, agora
só falta acabar o serviço, construindo o novo cais. Vivemos à deriva dos
diversos políticos que transitoriamente vão passando pelo governo de Portugal,
apresentando na maior parte, grandes currículos académicos, mas parcos em
educação para a cidadania.
A questão que me
preocupa são os acessos a este porto de águas profundas, que não tem as
excelentes condições do porto de Sines. Como será a linha ferroviária numa zona
densamente povoada, quanto custarão os acessos com as respectivas indemnizações
aos proprietários das terras? Será que irão fazer uma obra monumental, em
túnel, que ligará Trafaria ao Poceirão e à margem direita sob o leito do
rio? Se não, como será o transporte entre as duas margens, sabendo nós que o
primeiro consumidor, o que mais necessita das mercadorias neste porto, são as
empresas da grande Lisboa.
Estar a fazer de
Lisboa o desígnio que pertence a Sines, de circulação de mercadorias entre os
diversos continentes, é um autêntico absurdo! Baía da Lusofonia
Aqui fica a
ligação para um documento da autoria do Almirante Francisco António Torres
Vidal Abreu com a data de 12 de Janeiro de 2010. Este interessante testemunho
pretende resolver o problema concreto da Golada do Tejo, a questão que levanta
é precisamente a solução para o aproveitamento deste projecto.
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