Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Trafaria



         Já há  alguns meses  falei neste  blogue na Trafaria e de algumas  boas recordações que esta terra acolhedora me deixou. Foi por lá que em 1966 assisti via televisão ao célebre jogo Portugal – Coreia do Norte para o Campeonato do Mundo que os portugueses ganharam por 5 – 3, após um início que emudeceu todo o mundo, quando os coreanos chegaram ao 0 – 3.

         Na Trafaria começava,  junto ao presídio militar, um extenso areal que só acabava para lá da lagoa de Albufeira. A sua praia, na década cinquenta do século passado, tinha banheiro, baloiços para os mais jovens e chuveiros, apetrechos de vanguarda para época, numa altura em que a maioria dos lisboetas, preferiam a mata do Monsanto para lá realizarem os seus piqueniques, do que efectivamente uma deslocação à praia.

           Junto ao bico da areia, que outrora dava acesso a pé até ao farol do Bugio, a chamada Golada do Tejo, os veraneantes apanhavam bivalves, berbigão e ameijoas e por vezes nos canais que se formavam, era uma correria atrás de polvos. Uma qualidade ambiental excelente.

Um dia tudo desapareceu, quando um político qualquer, de certeza natural de outra região que não Lisboa, decidiu colocar um silo no local aonde hoje ainda se encontra, destruindo um potencial turístico, cuja única recordação se encontra num velho teledisco de uma canção de Amália Rodrigues.

Depois destas palavras de introdução, sobre o passado da Trafaria, onde há registos da passagem de El-Rei D. Carlos, resta-me abordar a actualidade, depois de ler alguns comentários nestes últimos dias sobre o porto de contentores que ali se vai construir, a machadada final numa povoação que tem estado em regressão nas últimas décadas.

Perante o actual cenário da margem esquerda do Tejo até poderia aceitar um porto de contentores na Trafaria, pois já que destruíram uma zona de alta qualidade ambiental, agora só falta acabar o serviço, construindo o novo cais. Vivemos à deriva dos diversos políticos que transitoriamente vão passando pelo governo de Portugal, apresentando na maior parte, grandes currículos académicos, mas parcos em educação para a cidadania.

A questão que me preocupa são os acessos a este porto de águas profundas, que não tem as excelentes condições do porto de Sines. Como será a linha ferroviária numa zona densamente povoada, quanto custarão os acessos com as respectivas indemnizações aos proprietários das terras? Será que irão fazer uma obra monumental, em túnel, que ligará Trafaria ao Poceirão e à margem direita sob o leito do rio? Se não, como será o transporte entre as duas margens, sabendo nós que o primeiro consumidor, o que mais necessita das mercadorias neste porto, são as empresas da grande Lisboa.

Estar a fazer de Lisboa o desígnio que pertence a Sines, de circulação de mercadorias entre os diversos continentes, é um autêntico absurdo! Baía da Lusofonia

Aqui fica  a ligação para um documento da autoria do Almirante Francisco António Torres Vidal Abreu com a data de 12 de Janeiro de 2010. Este interessante testemunho pretende resolver o problema concreto da Golada do Tejo, a questão que levanta é precisamente a solução para o aproveitamento deste projecto.

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