“Gervásio Chambo e Félix Tembe, da associaçom
moçambicana Bantu Mosambiki, tenhem umha agenda muito apertada desde que
vinhérom para Vigo estudar. O trabalho da associaçom a que pertencem consiste
na defesa da diversidade idiomática no seu país contra, olha que cousas, a
nossa língua galego-portuguesa, que lá se encarrega de submeter outras. E claro,
na Galiza, tratando-se de línguas em conflito, somos todo ouvidos. Para além de
aspetos relativos à diversidade etnolingüística de Moçambique, estes bons comunicadores
também se debruçam sobre problemáticas políticas e culturais, arriscando
perspetivas para o futuro. Em Compostela, no Pichel, mesmo cozinhárom iguarias
moçambicanas e o narf chegou-se para os deliciar com a sua música.
Moçambique, tam desconhecido! As pessoas
intuem que se devem falar línguas indígenas, mas nom fam ideia de quais serám.
Poderíades fazer um mapa escrito das diversas famílias lingüísticas de Moçambique?
Em Moçambique coabitam 4 famílias de línguas
diferentes, nomeadamente: (1) A família maioritária, constituída por 22 línguas
de origem bantu, distribuídas de seguinte forma: (a) Sul do país: Xirhonga,
Xichangana, Citshwa, Ciswazi, Cicopi e Gitonga; (b) Centro do país: Cindau,
Cinyungwe, Cisena, Cimanyika, Ciutee, Cibalke, Cisenga, Elomwe e Echuwabu; (c)
Norte do país: Emakhuwa, Shimakonde, Ciyao, Cinyanja, Kimwani, Kiswahili e
Ekoti; (2) Umha língua de família indo-europeia, o Português; (3) Umha família
de línguas afroasiática (faladas por minorias em contextos religiosos e familiares
em diversos pontos do país): Urdu, Hindi, Gujarati, Memane e Árabe; e (4) Umha
língua de Sinais.
E o português, que lugar ocupa em relaçom às
outras línguas? É aceite por todas as comunidades? O português é posto em
questom?
Desde 1975, ano da independência nacional, o
Português é a única oficial e ideológica e politicamente considera-se
instrumento para a coesom e unidade nacional. Este estatuto linguístico,
suscita, num país caracterizado pola diversidade multilíngüe, multiétnico e
multicultural maioritário, um debate cujos pontos de debate se resumem em: (1)
Há os que opinam que o Português é umha língua importante e que deve ser
conhecida por todos os moçambicanos para ser umha língua estratégica para a intercomunicaçom
dada a diversidade nacional. (2) Outros entendem que, se Moçambique é independente
há 37 anos, o Português falado em Moçambique já está nacionalizado e é umha
língua que nom deve ser vista como superior às restantes. Por isso, seria
oportuno que as línguas bantu fossem também oficializadas para que pudessem ser
utilizadas de igual para igual com o Português nos espaços que este ocupa
atualmente. (3) Alguns defendem manter o Português como única língua oficial
sob pretexto de manter a unidade nacional, evitar o tribalismo, o regionalismo
e gastos financeiros públicos que adviriam do uso das línguas bantu equiparadas
ao Português. (4) Por fim, há vozes que clamam polas desigualdades sociais,
económicas e destruiçom das culturas que estám associadas ao facto de
Moçambique possuir umha política linguística monolíngüe que valoriza o
Português de forma ofensiva e obrigatória.
Estas línguas passam além das fronteiras do
país?
Algumas das línguas faladas em Moçambique som
transfronteiriças. O Cinyanja é falado em Malawi, o Xichangana é compartilhado
com a África do Sul e com o Zimbabwe, o Ciswazi é falado na Swazilandia, o
Ciyao é compartilhado com Malawi e o Kiswahili com a Tanzania.
Existem contactos com outros países para
promover as línguas indígenas?
Há umha organizaçom, LASU (The Linguistics
Association of SADC Universities) que desenvolve pesquisas, conferências e
publicações sobre as línguas da regiom austral de África e um projeto de investigaçom
das línguas transfronteiriças.
É possível, no continente africanos, usar a
política para defender as línguas?
Estamos num mundo em que os sinos tocam sobre
a liberdade, a democracia, a cidadania, a igualdade de género, o desenvolvimento
sustentável, a educaçom para todos, a erradicaçom da pobreza e das doenças
endémicas, entre outros. Desta feita, estes pontos só serám possíveis se os
governos africanos possuírem políticas linguísticas que valorizam o
multilinguismo, o multiculturalismo, a revitalizaçom das línguas minoritárias
em vias de extinçom. Cada língua, cada cultura, cada etnia tem umha visom, tem
pensamentos e atitudes de compreender o mundo. Quanto mais línguas possui um
país, mais som as visões que se tenhem para resolver um problema e quanto mais
problemas se resolvem, as línguas enriquecem, renovam as suas visões e pensamentos
sobre o mundo e assim os países desenvolvem.” Eduardo Maragoto – Galiza entrevista
in “Novas da Galiza”
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