“Chico César define-se como artista militante
e a sensibilidade político-social dele emerge em cada conversa, em cada cançom.
É natural, ele nom nasceu rico, como a maior parte dos artistas brasileiros que
conhecemos, e só com oito anos já conseguiu o primeiro emprego num dos estados
mais pequenos do Brasil, a Paraíba, ainda que já se saiba que quem di pequeno
no Brasil quer dizer de tamanho médio deste lado do Atlántico: ocupa tanto como
duas Galizas. O seu êxito internacional chegou pola mao de temas que logo se
tornárom verdadeiros hinos afroamericanos como ‘Mama África’ ou ‘Respeitem meus cabelos, brancos’. Na nossa terra, umha
música composta por ele (‘Pensar em você’) tem soado mais na voz de Daniela
Mercury ou de Uxía Senlle, com quem o Chico vinhera pola primeira vez à Galiza
na ediçom inaugural de Cantos na Maré. A este festival voltou agora para
comemorar o décimo aniversário do encontro lusófono. Desta vez compartilhou
cartaz com o portuense Rui Veloso, o moçambicano Cheny Wa Gune e a galega Sés,
mas estivo acompanhado por muitos outros músicos em Ponte Vedra: Dani Black (Brasil),
Paulo Borges (Açores), Berg (Portugal), Sérgio Tannus (Brasil) ou a própria
Uxía Senlle. Nós fomos buscá-lo à Casa das Crechas, onde já é tradicional que
uns dias antes da festa se faga um encontro de artistas lusófonos. Falou-nos
nom apenas como músico, também como político brasileiro, pois agora detém um
cargo cultural no seu estado natal.
Como vias a Galiza primeiro e como vês agora
que sabes dela?
Ao conhecer um lugar da Espanha que nom
falava espanhol, que falava português, fiquei muito curioso e quando cheguei
entendim: eles nom som espanhóis, som galegos. Tenhem umha língua: dançam nessa
língua, cantam nessa língua, vivem nessa língua. Confirmou para mim que a Espanha
é umha abstraçom autoritária e sentim-me mui próximo dos galegos, porque a
língua que falam é umha língua muito próxima da língua que falam os velhos do
interior falam, que meu pai fala: é umha língua que troca o jota pelo xis, por
exemplo.
Para um artista com sensibilidade
político-social como tu, a que continente achas que é preciso estarmos mais
atentos?
É importante estarmos atentos à Europa.
admitirmos que o capitalismo faliu, o capitalismo resultou mal, nom pode
produzir tantas coisas inúteis para tanta gente útil. as pessoas precisam de
coisas para o dia-a-dia e o capitalismo produz mercadorias e mais mercadorias.
os trabalhadores nom possuem tanto como para comprar tanto produto e tu nom
podes comprar todos os anos um automóvel, umha máquina de lavar, uns sapatos;
nós nom precisamos disso. Precisamos de comer, amar, dormir e isso nom é o
capitalismo; o capitalismo é só consumir. Entom, nós devemos olhar para a
Europa e ver que isso deu errado: o capitalismo falhou.
Entre a socialdemocracia europeia, a evoluçom
do Brasil goza de grande admiraçom. Tu achas que se está a tornar um país mais
justo desde o governo de Lula?
Um pouco, mas precisa muito mais. Porém, os
movimentos sociais nom podem entregar o seu destino a governos. devem apenas formatar
cousas que já nom estám na rua, que já nom dá para serem seguradas por mais
tempo. os movimentos sociais existem para conquistar novas cousas. o Brasil ainda
nom fijo umha reforma agrária decente: muitos camponeses brasileiros vivem sem
terra.
Antes comentaste-nos que o Brasil é um país
muito autossuficiente musicalmente. Achas que a Lusofonia em geral e a Galiza
em particular tenhem cabimento nesse continente musical?
Os ícones da música brasileira, Chico
Buarque, Gilberto Gil... devem levar a lusofonia para o Brasil. Eles podem
dizer: “a lusofonia é importante”, nom apenas como umha referência a um pouco de
Cesárea Évora, um pouco de...
Como se chama esta cantora de fado
portuguesa?
Amália Rodrigues. ...
um pouco de Amália. Nom! É importante levar
Cabo verde e também a Guiné Bissau, mas nom só como umha idealizaçom, senom
como algo concreto.
O que representa para ti a Cantos na Maré no
âmbito da Lusofonia?
Cantos na Maré é a lusofonia tornada
realidade: Moçambique, Cheny Wa Gune, Angola, Portugal, Rui veloso, a Galiza,
Uxía, é a realidade do que se canta lusofonicamente no mundo, e isso interessa-me
muito.” Eduardo Maragoto - Galiza in “Novas da Galiza”
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