Antes de desenvolver
este texto tenho que declarar que sou a favor do aeroporto de Beja, não sou
alentejano e a minha família já tem mais de dois séculos de Lisboa, tanto
quanto a independência dos Estados Unidos da América, por isso já me posso considerar
lisboeta.
Quando era jovem,
início da década sessenta do século passado, costumava nos meus passeios por
Lisboa na companhia da minha tia-avó, pessoa muito culta que gostava de passear
com os sobrinhos, visitar o aeroporto da Portela. Pagávamos vinte e cinco
tostões e sentávamos na esplanada da varanda do aeroporto, onde mais tarde
lanchávamos e o dinheiro pago era descontado na despesa. Chegámos, em alguns
dias, estar lá três, quatro horas, para ver aterrar ou levantar um avião e
nada, não havia naquele dia movimento de aviões. Ao que me consta, felizmente,
a ninguém passou pela cabeça, encerrar o aeroporto por falta de tráfego.
Os alemães, no pós
segunda guerra, pediram autorização para construir um aeroporto na retaguarda
para treino dos seus elementos da força aérea e construíram o aeroporto em Beja
para preparação militar. Com as alterações na Europa no início da década
noventa, consideraram não ser necessário esta infraestrura e entregaram ao
Estado português as instalações.
Os decisores políticos
perante esta realidade, decidiram transformar o aeroporto militar em civil e o
Primeiro-ministro Durão Barroso numa deslocação ao Alentejo a acompanhar o
Presidente da República Jorge Sampaio, afirmava que o custo da obra era de
aproximadamente um milhão de contos, cinco milhões de euros e o aeroporto
estaria a funcionar num prazo de um ano.
O tempo passou, o
custo aumentou, os números oficiais apontaram para os trinta e três milhões de
euros, valor que a comparar com o que contabilizou em 2007, o coordenador da
equipa responsável da CIP, José Manuel Viegas, pelo estudo do aeroporto de
Alcochete, que indicou um total de dois mil milhões de euros, sem
acessibilidades e três mil milhões de euros para o aeroporto da Ota, também sem
acessos, diríamos que o aeroporto de Beja custou o equivalente a um cêntimo por
um almoço no restaurante mais caro de Lisboa.
O problema do
aeroporto de Beja não está nele em si, mas nos políticos desta terra, Portugal,
dos interesses instalados, que passam pela compra e venda de propriedades nos
locais onde se pensam instalar aeroportos de raiz, na construção civil, na
intoxicação da comunicação social, enfim, em tudo aquilo que não ajuda a fortalecer
um país como o nosso.
As vozes que são
contra o aeroporto de Beja são as mesmas que noutros tempos afirmavam que a
barragem do Alqueva nunca teria água (ler artigo “Alqueva” do passado dia 19 de
Janeiro) e que o porto de Sines não tinha futuro (ler artigo “Sines”, subtítulo
“O Brasil e o Porto de Sines” com data de 28 de Setembro de autoria do
brasileiro Milton Lourenço)
.
.
Esperemos que a confusão
instalada nos últimos dias com a linha férrea, pois não há TGV com mercadorias,
seja ultrapassada e quem planeia se lembre que qualquer linha férrea que se
construa de Sines para a Europa, passe obrigatoriamente pelo aeroporto de Beja.
Baía da Lusofonia
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